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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Sara Craven

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Jogo de sedução, n.º 462 - fevereiro 2019

Título original: The Seduction Game

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-576-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

O intercomunicador tocou. Tara Lyndon estendeu a mão e atendeu sem tirar os olhos do computador.

– Janet? – o tom foi amável, mas seco. – Eu não disse que não queria ser interrompida?

– Desculpe, menina Lyndon – respondeu a secretária, – mas a sua irmã insiste em falar consigo.

A explicação era satisfatória. Ninguém melhor do que ela para saber que Becky se recusava a ouvir um não como resposta.

– O.K. Janet, coloca-a em linha.

– Olá, querida, como estás? – cumprimentou a irmã. – Não está um lindo dia?

– Está tudo bem comigo e com o tempo. Estou ocupadíssima, Becky. Será que podes ir directamente ao assunto?

– Claro – Tara estranhou a rapidez e a humildade com que a irmã aceitou a sua rudeza. Devia estar a aprontar mais uma das suas. – Liguei por causa do fim-de-semana. Não me consigo lembrar daquilo que combinámos exactamente.

«Que mentira!», pensou Tara. Se Becky fosse o Pinóquio, o seu nariz já não caberia em lugar nenhum!

– Não combinámos nada, Becky. Tu convidaste-me para ir a tua casa em Hartside e eu disse que não podia.

– Mas depois eu pedi-te para pensares melhor. Pensaste?

Tara fechou os olhos e contou até dez.

– É muita gentileza tua, maninha, mas tenho coisas para fazer.

– Eu sei. Tens uma viagem marcada para ires a Dusseldorf, na Alemanha, e uma entrevista com alguém que talvez aceite um emprego em Tóquio.

– Não. Vou fazer uma pequena viagem de descanso.

Dessa vez, seria o seu próprio nariz a crescer.

– Então, vem descansar connosco. Se o tempo continuar assim, podemos usar a piscina. Além disso, as crianças não param de perguntar por ti.

– Ora, Becky, o Giles e a Emma não se importariam comigo mesmo que passassem por cima de mim de patins.

– Vês como eu tenho razão? – retorquiu Becky. – Andas tão envolvida com o teu trabalho que pareces ter esquecido que tens uma família. Agora somos apenas tu e eu, Tara – a voz da irmã tornou-se chorosa. – Já quase nem vemos os nossos pais depois de eles terem resolvido passar quase o ano todo a viajar.

O argumento seria convincente se não conhecesse o marido e os filhos da sua irmã. A vila em Hartside estava sempre cheia de gente. Se a irmã ficava sozinha alguma vez, seria por escolha sua.

O silêncio de Tara foi interpretado como uma brecha para a mudança de opinião. E Becky não deixou escapar essa oportunidade.

– Há séculos que não passas um fim-de-semana connosco.

– Se eu for, prometes não convidar nenhum outro potencial candidato a meu marido?

– Ora, eu já te considero um caso perdido há muito tempo – defendeu-se a irmã.

– Becky?

– Caramba, és mesmo desconfiada!

– Tenho motivos para isso, não tenho? Diz-me de uma vez por todas, Becky, quem é ele?

– Isso é mania de perseguição! Será que nem sequer posso convidar um vizinho novo para uma bebida de boas-vindas, sem que penses que estou a ser alcoviteira?

– Quem é ele? – repetiu Tara.

– Está bem – Becky suspirou. – Comprou uma vivenda perto da igreja. É advogado, deve ter uns trinta e cinco anos, e é atraente e charmoso.

– Com tantas qualidades, ainda está solteiro? – Tara ergueu uma sobrancelha. – Qual é o defeito?

– Eles não têm defeito nenhum. São óptimas pessoas.

– Eles?

– Bem, a mãe dele está a ajudá-lo a arrumar a casa.

Tara abanou a cabeça.

– Um homem com mais de trinta anos e ainda mora com a mãe? Ora, por favor!

– Será apenas durante algum tempo – explicou Becky. – Ela tem a sua própria casa. Além disso, está ansiosa para que o filho encontre uma esposa.

– Oh, sim, para esperar por ela atrás da porta com uma espada.

– Esse trabalho não te está a fazer bem – murmurou Becky. – Nunca foste cínica.

– Pelo menos, ele ensinou-me a ver por trás dos olhos das pessoas – protestou Tara. – De qualquer forma, não pretendo alterar os meus planos. Vou passar o fim-de-semana e as duas próximas semanas a descansar à minha maneira.

– Sozinha? – quis saber Becky.

A indiscrição da irmã irritou-a.

– Não necessariamente.

– Tara? Então, quer dizer que conheceste alguém? Porque é que não me disseste antes? Conta-me tudo.

– Não há ninguém – respondeu Tara, arrependida por ter mentido.

Uma risada cristalina soou do outro lado da linha.

– Não me deixes nesse suspense. Ele é alto? Loiro ou moreno?

– Sem comentários.

– Mas é bonito, não? E tem dinheiro?

– É uma pena que tenham abolido a Inquisição, Becky. Terias um cargo garantido.

– Não me podes culpar pelo meu interesse – defendeu-se a irmã. – Consegues lembrar-te da época em que tiveste o teu último relacionamento?

– Sim, e não apenas da época…

– Está na hora de esqueceres o que se passou, Tara – disse Becky com firmeza. – Nem todos os homens são canalhas. Talvez o próximo fim-de-semana te reserve uma surpresa nesse sentido.

A imagem de um lago com um pequeno barco surgiu na mente de Tara. Havia uma casa branca também rodeada de árvores.

– Talvez – concordou. – Agora tenho de desligar, está bem? Tenho um relatório para entregar e estou atrasada.

– Não me vais dar nenhuma dica sobre o teu novo pretendente?

– Ainda é cedo de mais para isso, Becky. Adeus.

A situação não era engraçada, mas Tara não conseguiu deixar de sorrir ao desligar. A irmã acreditara na sua mentira. Não gostava de recorrer a esse tipo de saídas, mas Becky jamais desistiria do convite se soubesse que ela passaria o fim-de-semana e as suas pequenas férias sozinha.

Tinha de colocar um ponto final naquela insistência da irmã de organizar a sua vida. Não fora uma vez nem duas que ela e o marido, Harry, lhe apresentaram homens. Se havia algum solteiro, divorciado ou viúvo ao alcance, eles tratavam de marcar um encontro.

Por outro lado, fora um disparate tentar enganá-la com aquela história de um novo alguém. Becky não lhe daria descanso, enquanto não o conhecesse. Felizmente, não tinha meios de saber onde passaria as suas férias. Provavelmente, imaginava que iria para alguma praia e faria muito sexo. Como acontecia quando estava com Jack.

A lembrança fê-la morder o lábio. O tempo passara, mas ainda sentia uma forte dor. Becky estava certa nesse sentido. Precisava de esquecer Jack. E um novo relacionamento talvez fosse o melhor caminho para a sua cura.

Como alguém que se queimava, Tara passara a ter medo do fogo. Afastara-se de envolvimentos. O vazio deixado por Jack fora preenchido com trabalho. E ela acabara por se voltar tanto para a sua carreira que, agora, talvez fosse tarde de mais.

Levantou-se subitamente e dirigiu-se até à janela. Olhou para os prédios em redor e respirou fundo. Era isso que importava. A sua carreira. Como sócia de uma empresa especializada na selecção e recrutamento de pessoal, tinha um objectivo a seguir e os seus esforços de desenvolvimento eram sempre compensadores. Não significavam riscos.

Tara estava a virar-se para voltar à mesa quando deparou com o seu reflexo no vidro. Cabelos castanhos claros à altura dos ombros, blusa de seda branca abotoada até ao pescoço, saia escura até aos joelhos. Era a imagem da sobriedade e da eficiência. A imagem que, subitamente, a incomodou.

Afastou-se com impaciência. Deveria ser o cansaço. Estava a precisar mais de férias do que supunha.

Diante do computador, procurou concentrar-se novamente. Tinha de terminar o seu relatório sobre Tom Fortescue. O candidato possuía óptimas qualificações e fora altamente recomendado. Então, porque é que não era a primeira vez que as suas antenas captavam um sinal de advertência?

A sensação de perigo não parecia ter fundamento. Tom Fortescue apresentara um currículo sólido e o resultado da sua entrevista fora bom. Parecia ser a pessoa indicada para preencher a vaga na Bearcroft Holdings deixada por um dos gerentes principais da empresa. A sua intuição, porém, insistia em dizer-lhe para não o recomendar para o cargo.

Seguiu-a. As suas dúvidas foram colocadas em cada linha do relatório. Fez as devidas observações quanto à formação e experiência do candidato no estilo mais profissional possível, mas não demonstrou nenhum entusiasmo no sentido da contratação.

A avaliação final felizmente sairia das suas mãos. Quando o assunto chegasse ao conhecimento de Leo, o sócio maioritário, ela estaria de férias. Não precisaria de justificar a sua opinião. E mais importante do que isso: não precisaria de ver a contrariedade no rosto do candidato quando soubesse que não fora aceite.

Ele era um homem inteligente, esperto e ambicioso. Apresentara-se na sua agência, a Marchant Southern, especialmente para tentar entrar na Bearcroft e a impressão que lhe transmitira fora a de que se considerava empregado.

Copiou o relatório numa disquete e levantou-se para o entregar à secretária. Estava ansiosa por se livrar daquele problema. Felizmente, quando voltasse de férias, a poeira já devia ter baixado.

Abriu a porta da sala e deu um passo em direcção à mesa de Janet. Susteve a respiração. Tom Fortescue estava a conversar com ela.

– Bom dia – ele apressou-se a estender-lhe a mão. – Aproveitei o facto de me encontrar aqui por perto e vim convidá-la para almoçar.

Que falta de tacto! Era óbvio que o homem queria agradar ou, pelo menos, sondá-la quanto ao resultado da sua entrevista.

Lançou-lhe um sorriso puramente profissional.

– Sinto muito. Vou de férias e quero aproveitar a hora de almoço para organizar a minha mesa.

– É uma pena – lamentou ele. – Fica para outra vez.

«Não perca o seu tempo», pensou Tara, mas, gentil como era, acompanhou-o ao elevador.

– Além de bonito, é agradável – comentou Janet quando Tara voltou para a sala. – Eu disse-lhe que estava ocupada e ele não se importou de esperar.

– Espero que continue a manter essa atitude – respondeu Tara ao mesmo tempo que entregava a disquete. – Coloca-lhe uma etiqueta como sendo confidencial, por favor. Este relatório só deverá circular entre a directoria na reunião de terça-feira. Na minha ausência, Janet, assinarás as minhas cartas.

– Com prazer – respondeu a secretária. – Hoje vai trabalhar em expediente normal?

– Oh, não! Preciso de sair às duas horas. Ainda não fiz as minhas malas.

– Vai viajar para algum lugar interessante?

– Acho que sim. E tem um atractivo muito especial. Queres saber qual é?

Janet riu-se de curiosidade.

– Quero.

Tara piscou-lhe o olho.

– Não tem telefone.

 

 

Estava a verificar a caixa para se certificar de que não se esquecera de nenhum item. Creme para polir metais, espuma para limpar o forno, sabão em pó para o lava-loiça, luvas de borracha…

Ao lado da caixa, em cima da mesa, Mimi, a sua gatinha de estimação, vigiava-lhe todos os movimentos.

– Não te preocupes – Tara tranquilizou-a. – Vais comigo. Mas terás de me prometer que ficas sossegada na tua cama.

A gata gostava de viajar no banco do passageiro, com as patas apoiadas na janela para apreciar a vista. Desde, é claro, que não passasse nenhum carro da Polícia, Bombeiros ou ambulâncias, com a sirene ligada. Nessas situações, a gata saltava sobre o pescoço de Tara e transformava-se num cachecol.

Tara sorriu consigo mesma ao pensar que se preocupava mais em não se esquecer da ração, dos pratos, da cama e dos brinquedos de Mimi, do que das suas coisas. Não que a lista fosse extensa. Para as férias que tinha em mente só usaria roupas práticas como calças, calções, t-shirts, camisolas e ténis.

«A Becky matava-me se soubesse aquilo que levo para as férias, principalmente a caixa de produtos de limpeza», pensou. Mas os seus pais iriam visitá-las no mês seguinte e ela queria que a casa estivesse a brilhar para os receber.

Não tinha nenhuma dúvida de que seria para lá que eles se dirigiriam assim que voltassem da longa viagem à África do Sul para descansarem em Chelsea. A casa em Silver Creek era o seu recanto favorito.

A casa era simples. Não havia telefone, nem televisão, nem aquecimento central. Havia apenas um velho aparelho a gás no quintal que abastecia o fogão e aquecia a água do banho.

Apesar da falta de conforto, Tara adorava ir para lá. As suas melhores lembranças vinham das tardes e noites em que a família se reunia diante da lareira, nas férias de Verão.

No Inverno, os Pritchard vigiavam-na. A senhora Pritchard mantinha a casa em ordem e o senhor Pritchard encarregava-se do pequeno barco, o Naiad.

Mas dessa vez iria cuidar pessoalmente da limpeza. Por incrível que pudesse parecer, gostava daquele tipo de trabalho.

Quando Becky era solteira, sempre se destacara mais do que ela na vida social e profissional. Tara fora sempre mais calma, mais voltada para o lar.

Foi uma surpresa geral quando Becky se casou com Harry e teve duas filhas. Todos comentaram que as duas irmãs tinham trocado de lugar.

No entanto, ambas se saíram muito bem. Becky organizou a sua vida doméstica tão bem como organizava os seus arquivos no escritório, mas nunca conseguiu gostar dos serviços ligados à casa. E Tara tornou-se uma profissional bem sucedida, mas quase nunca se podia dedicar à sua vida pessoal. Não havia tempo.

Para Becky era inconcebível que alguém abdicasse das suas férias para lavar e passar a ferro. Muito menos para pintar uma casa. E mais incrível ainda, era que esse alguém chamasse essas tarefas de terapia.

Por fim, os preparativos terminaram. Com Mimi ao colo, calças de ganga desbotadas, ténis e um boné de basebol na cabeça, Tara estava pronta para partir.

Quando parou para trancar a porta, captou o seu reflexo no vidro. Talvez devesse ter-se vestido melhor. Todas as peças que estava a usar eram velhas. Por outro lado, para quê preocupar-se. Não veria ninguém além dos Pritchard. Os vizinhos mais próximos ficavam a vários quilómetros de distância. Havia apenas outra casa por perto, mas estava desabitada desde que o velho Ambrose Dean falecera. E da última vez que a vira, encontrava-se praticamente a cair aos bocados.

O velho Ambrose com as suas longas barbas brancas, conhecido como eremita, não tinha parentes, segundo os rumores. Ninguém jamais o visitara. O pai de Tara, Jim Lyndon, falara algumas vezes em ir ao notário e descobrir o nome da pessoa que ficara com a posse dos documentos para lhe fazer uma proposta pela propriedade, uma vez que o ancoradouro era de uso comum, mas nunca fizera nada de concreto a esse respeito.

«Talvez eu deva comprá-la», pensou Tara ao deixar Londres. «Garantiria a privacidade do nosso refúgio. Além disso, tempo para pesquisar é coisa que não me vai faltar».

A viagem rumo ao paraíso não foi tão fácil como esperava. O tráfego estava intenso. A sua cabeça latejava. Para agravar o desconforto, Mimi não parava de protestar, no banco de trás.

Já estava a anoitecer quando chegou ao seu destino. Estacionou o carro nas traseiras da casa, pegou na chave e saiu.

A casa estava fria e húmida. Cheirava a mofo. A solidão. Por outro lado, o gesto de boas-vindas da senhora Pritchard enterneceu-lhe o coração.

Como sempre, tinha preparado um cesto com frutas e legumes, um magnífico bife e uma torta de queijo para a receber. Sob a toalha que os cobria, Tara encontrou um bilhete avisando-a de que as bilhas de gás estavam cheias, de que havia bastante lenha na lareira e de que uma garrafa do seu vinho branco preferido a esperava no frigorífico.

Bastou ler aquelas palavras para sentir desaparecer a tensão que a acompanhara durante as últimas semanas.

Voltou ao carro a fim de ir buscar a bagagem e a sua gata que saltou imediatamente por sobre a varanda e subiu para o telhado.

– Fica à vontade – gracejou Tara. Conhecia os hábitos de Mimi. Iria dar uma volta e estaria em casa à hora do jantar como se nada tivesse acontecido.

Quando a família se encontrava, Tara ocupava o quarto mais pequeno nas traseiras, mas como estava completamente sozinha, optou pelo quarto da frente, ao lado do dos seus pais, que era mais amplo e tinha vista para o rio.

Colocou a mala sobre a cama e foi até à janela, ansiosa por matar as saudades do Naiad. Qual não foi o seu espanto quando percebeu que o velho barco não era o único no ancoradouro. Ao lado havia um luxuoso iate.

– Que diabo! – exclamou. – Como se atreveram a usar o nosso ancoradouro?

se invadida por uma onda de sensualidade. Para afastar essa sensação, baixou os olhos. O resultado foi o oposto do desejado. Com as suas calças de ganga justas, ele pareceu-lhe ainda mais atraente.

A sua reacção foi atacar.

– Está a invadir a minha propriedade e o seu cão tentou matar a minha gata.

– Os cães caçam gatos. Faz parte da sua natureza. Assim como faz parte da natureza dos gatos fugir da perseguição.

A resposta enfureceu-a. Mas antes que pudesse protestar, ele assobiou para o cão que se apresentou prontamente.

– Muito bem. E a minha gata? Até quando é que a pobrezinha vai ter de ficar em cima da árvore?

– Posso remediar isso agora mesmo.

Tara respirou fundo.

– Desaparecer é o único remédio. Se não tivesse entrado aqui, nada disto teria acontecido.

– Posso saber com que autoridade é que me acusa dessa forma?

– Esta casa é minha, ora essa!

– Engraçado! – declarou o homem com cepticismo. – Pensei que pertencesse ao Jim e à Barbara Lyndon que se encontram neste preciso momento na África do Sul.

– Sou filha deles. E você, quem é? Como é que soube onde estavam os meus pais?

Ele encolheu os ombros.

– Todos se conhecem por aqui. Bem, então, a casa não é realmente sua.

– É como se fosse – retorquiu Tara entre dentes.

– Também fui informado de que os seus pais não têm exclusividade ao uso do ancoradouro.

– No passado não tinham, embora o senhor Dean nunca tivesse feito uso do local. Ele nem sequer possuía um barco.

– Acontece que eu tenho um e como ninguém está a usar a parte do senhor Dean no ancoradouro, tomei-a emprestada.

– Isso é um abuso! Não pode usá-lo sem autorização do proprietário.

– Conhece algum meio de contacto? – perguntou o desconhecido num tom de provocação.

– Você deve saber tão bem como eu que o senhor Dean morreu.

– Nesse caso, acho que seremos vizinhos. Pela lei, podemo-nos tornar donos de propriedades abandonadas.

– Ah! – exclamou ela. – Não pode simplesmente mudar-se e instalar-se aqui!

– A lei diz que sim. E já que se trata de um facto consumado, porque é que não discutimos um pacto de coexistência?

«Porque eu não o quero aqui. O lugar é isolado de mais para o compartilhar com um homem que me afecta de um modo inexplicável», pensou.

– Não sei quem você é, o que faz, de onde vem.

– Está preocupada que eu seja um criminoso foragido? – ele ergueu uma sobrancelha. – Quer ver os meus documentos? O meu cartão de crédito?

– Preferia vê-lo a si e ao seu barco a navegar daqui para fora – respondeu Tara com raiva. – Há outro ancoradouro a cerca de nove quilómetros daqui. Encontrará tudo o que precisa por lá.

– Acho que ainda é cedo de mais para discutirmos as minhas necessidades. Além disso, estou contente onde estou. E como cheguei aqui primeiro do que você, tenho certas prioridades. É claro que não me importarei caso prefira ficar a ir-se embora. Mas espero que não tenha o hábito de ouvir música alto nem de dar festas que avancem pela madrugada. Gosto de silêncio e de tranquilidade.

Por um instante, Tara não conseguiu falar de tão chocada que estava. Em seguida virou as costas, entrou em casa e bateu com a porta. A violência do gesto fez com que um prato de porcelana caísse da parede e quase se partisse a seus pés.