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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Roxanne St. Claire

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Quando a Terra Treme, n.º 678 - Julho 2014

Título original: When the Earth Moves

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises

Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5411-6

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Volta

Capítulo Um

 

Cameron McGrath nunca perdia o primeiro lançamento num jogo dos Yankees. Para ele seria como romper uma tradição sagrada. Por isso, quando a recepcionista lhe anunciou que tinha uma mulher à espera dele na recepção da Futura Investments e que insistia em vê-lo, ficou muito irritado.

– Não tenho mais entrevistas para hoje, Jen – disse-lhe asperamente. Para ter a certeza, abriu o seu PDA e comprovou-o na sua agenda. Nunca marcaria nada para depois das seis numa noite em que houvesse jogo. Sobretudo se os Yankees jogavam contra os Boston. – Está com quem?

– Eh... Está só.

– A que empresa pertence? É uma das nossas clientes ou é uma simples vendedora?

Sem dúvida que era o último caso. Desde que se tinha transformado no melhor advogado da Futura Investments, passava muito mais tempo a supervisionar o departamento jurídico do que a praticar advocacia. E ele não se tinha licenciado em Direito Comercial para tomar conta de advogados inexperientes e tomar decisões num escritório.

– Não pertence a nenhuma empresa, senhor McGrath – disse Jen em voz baixa. – Acho que é algo pessoal. Quero dizer... Parece ser alguém que... parece pessoal.

Pessoal? Oh, não... Amanda outra vez. Podia ser implacável quando era ignorada. Só tinha passado uma semana desde a última vez que lhe tinha telefonado. Ou teriam sido duas semanas? De qualquer forma, tinha sido completamente sincero desde o início da sua curta relação, mas isso não iria deter uma mulher de Manhattan ansiosa por casar e com o único objectivo de arranjar um novo apelido. O seu.

Olhou para o relógio. Tinha de a levar para o estádio. Assim não chegaria tarde e ela iria achar que estavam a ter um encontro.

– Diz-lhe que sairei num minuto. Espero que esteja vestida para assistir a um jogo.

O riso de Jen foi mais de surpresa que de humor.

– Isso só depende de que tipo de jogo se trata.

Com Amanda, apostaria que a sua roupa era composta por uma mini-saia de cabedal, um top caríssimo e uns saltos tão altos como o edifício Chrysler. Sorriu. Podia ser impiedosa, sim, mas às vezes isso tornava-se benéfico para todos.

Continuava a sorrir ao mesmo tempo que desapertava a gravata e se dirigia para a recepção, pronto para cumprimentar a modelo que tinha conhecido dois meses antes numa angariação de fundos.

Mas ao olhar através das portas de vidro da recepção ficou petrificado e boquiaberto.

Não era Amanda.

A mulher estava de costas para ele a contemplar a vista panorâmica da cidade. Umas calças de ganga desgastadas cingiam um traseiro em forma de coração, e com uma das suas botas campestres batia ritmadamente no tapete, ou com impaciência ou a acompanhar alguma melodia que soasse na sua cabeça. Uma espessa cabeleira ruiva cobria grande parte das suas costas, quase a roçar a cintura das calças. E na cabeça tinha um chapéu preto de cowboy.

Será que conhecia aquela mulher?

Quando abriu a porta, ela virou-se lentamente, pôs o chapéu para trás e respondeu à pergunta com um simples olhar. Não. Jamais esqueceria um rosto assim. Olhos grandes e acobreados, pele cremosa e uma boca que exigiria horas de intenso escrutínio.

E, notou Cameron surpreendido, sem uma gota de maquilhagem. Ele nunca tinha visto Amanda sem maquilhagem... ou sem os restos da mesma.

– Senhor McGrath? – deu uns passos em direcção a ele, fazendo ressoar os seus saltos no chão de mármore como se fossem ecos das aceleradas batidas cardíacas de Cameron.

– Cam McGrath – respondeu ele, estendendo a mão. – Em que posso... ajudá-la? – perguntou, ainda que não fosse propriamente uma ajuda o que gostaria de dar àquela mulher.

– Jo Ellen Tremanie – apresentou-se ela. O seu aperto de mão foi sólido, mas havia interrogação no seu olhar. Deveria reconhecer aquele nome? Seria a advogada da parte contrária em algum caso da Futura? Deu uma branca a Cameron... talvez porque os seus neurónios se tinham calado em deferência a um órgão alternativo.

Tentou concentrar-se no rosto, mas a mala que ela trazia ao ombro fazia com que a camisa escorregasse ligeiramente para um lado, revelando a pele translúcida do seu pescoço e a clavícula.

– Sei que está para sair para uma reunião – disse ela. – Portanto só lhe roubarei um minuto do seu tempo.

– Não tem importância. Não é nada urgente – mentiu ele. Como podia dizer que um jogo entre os Yankees e os Red Sox não era algo urgente? Tinha que se controlar. Podia encontrar mulheres bonitas em qualquer rua de Nova Iorque. Ainda que, geralmente, não se vestissem como se fossem para um rodeio. – Em que posso ajudá-la?

Ela olhou para Jen, que não tinha perdido nem um segundo do breve diálogo.

– Poderíamos falar em privado?

Cameron pôs na balança as suas opções. Passar uns minutos a falar com uma mulher lindíssima ou chegar tarde para ver os Yankees.

– O meu escritório é por aqui – disse, inclinando a cabeça para a porta.

Ela tirou o chapéu e sacudiu o cabelo comprido, fazendo com que algumas madeixas do seu sedoso cabelo lhe caíssem sobre os ombros. Cameron desceu o olhar até à camisa azul celeste, adornada com colchetes prateados.

– Posso oferecer-lhe algo para beber, menina Tremaine? – perguntou-lhe quando entraram no seu escritório.

– Pode chamar-me Jo. E, a menos que tenha uma Bud gelada, não me apetece beber nada.

Cameron desatou a rir.

– Cerveja já não temos – disse, lembrando-se das seis latas de Amber Bock que tinha no frigorífico de casa. Tinha-as reservado para algum sábado de jogo, mas podia substituí-las facilmente. – Mas poderíamos ir a algum lado.

– Não, obrigado – respondeu ela. Permaneceu de pé no meio do escritório, olhando-o fixamente. – Espero não demorar muito.

Ele percebeu um tremor quase imperceptível na sua voz, algo que só um advogado treinado em detectar mentiras e verdades poderia notar.

Fez um gesto para o sofá.

– Sente-se, por favor.

Ela acomodou-se numa das poltronas. O tecido das calças desbotadas e as botas pretas pareciam contrastar com o couro brilhante do assento.

– É daqui perto... Jo? – a verdade é que o nome lhe assentava bem. Não era nada feminina, mas sim uma mulher completa. Não movimentava nervosamente os dedos. Não pestanejava. Jo.

– Sou de Sierra Springs, na Califórnia.

Cameron fez uma expressão de surpresa.

– Já ouviu falar desse lugar? – perguntou ela, como se esperasse uma resposta afirmativa.

– Não. Percorreu um caminho muito longo. Sierra Springs não fica perto de Silicon Valley? – a Futura Investments tinha vários clientes por ali. Aquele assunto tinha que estar relacionado com a empresa.

Ela negou com a cabeça e sorriu cinicamente, passando as mãos pelas calças.

– Não. Sierra Springs é na fronteira entre a Califórnia e o Nevada, a cento e oitenta quilómetros de Sacramento, ao pé das montanhas da Serra Nevada.

O conhecimento geográfico de Cameron era bastante reduzido. Não conseguia sequer pensar em clientes ou em investimentos para essa zona. Não lhe vinha à cabeça outra coisa que não fosse o rancho Ponderosa e algum casino no Reno.

– Deve de ser um lugar muito tranquilo.

– Era. Até que a terra tremeu por baixo dos nossos pés e bateu-nos como se fossemos ovos mexidos.

– A terra? – repetiu ele, dando voltas à cabeça para tentar perceber a conversa. – Ah, sim – estalou os dedos e apontou para ela. – Ouvi falar de Sierra Springs. Houve um terramoto há uns meses. Um bastante forte.

Ela assentiu.

– Cinco ponto seis. Seguido de várias réplicas muito desagradáveis.

Definitivamente ali havia um litígio à espera, pensou Cameron.

– Cinco ponto seis? Bem. Afectou... as consequências foram muito graves?

Ela encolheu os ombros.

– Perdi várias pessoas.

Pessoal? Família? Fosse o que fosse, Cameron não teve a menor dúvida de que aquelas perdas eram o motivo do seu encontro.

– Lamento imenso – disse. De repente lembrou-se de ter ouvido falar da morte de cinco pessoas naquele terramoto. Num edifício de apartamentos. E depois a imagem de um bombeiro a tirar um bebé dos escombros.

Naturalmente... o bebé encontrado entre as ruínas. Os noticiários e jornais tinham repetido aquela notícia durante dias.

Talvez ela fosse proprietária do edifício? Ou seria a Futura Investments? A ser assim, tê-lo-iam informado de qualquer problema.

– A que actividade se dedica em Sierra Springs? – perguntou-lhe. Com algumas testemunhas, as perguntas mais inocentes levavam directamente à verdade. No início tinha-lhe parecido que ela seria cavaleira de rodeios, mas provavelmente era advogada. Na Califórnia vestem-se de um modo diferente.

– Dedico-me às carroçarias.

– Como?

– Reparação de carros acidentados.

– É mecânica?

– Sou especialista em consertar carros acidentados – disse, virando ligeiramente os seus olhos acobreados. – Tenho a minha própria oficina.

– Estou a ver... – de modo que não era cavaleira de rodeios nem advogada. Dedicava-se a martelar chapas para ganhar a vida.

Quase sem pensar, fixou-se nas suas mãos. Eram compridas e elegantes, sem uma mancha de gordura. E também não usava anel.

– Bom, confesso que me despertou a curiosidade, menina... Jo. O que a trouxe a Nova Iorque?

– O senhor.

Cameron sentiu o seu corpo ficar tenso. Uma resposta primária e natural ao ouvir aquela palavra.

– Eu? – perguntou, perplexo. Mas a cavalo dado não havia que olhar-lhe o dente. Nem mesmo que fossem uns dentes tão apetecíveis. – Como assim?

– Preciso que me assine um documento.

Os alarmes legais soaram na cabeça de Cameron.

– Que tipo de documento?

– É um pedido de renúncia e conformidade.

Ele pensou durante um momento, remexendo nos conhecimentos adquiridos no primeiro ano da carreira.

– Trata-se de um processo de adopção?

Por uns segundos ela não se mexeu. Finalmente, tirou a ponta da língua e humedeceu os lábios.

– Sim.

– Não compreendo. Porque necessita da minha assinatura?

– Estou a tentar adoptar um bebé. E esse bebé é uma... parente distante do senhor.

Ele inclinou-se para a frente como se tivesse sido puxado por uma corda. – Uma parente minha?

– É seu... sua sobrinha.

Cameron negou com a cabeça.

– Não tenho nenhuma sobrinha. Tenho dois irmãos e nenhum deles tem filhos – uma sensação incómoda percorreu-o interiormente. Se Colin ou Quinn tivessem tido uma filha, ele saberia. Não havia segredos entre eles. Poderia tratar-se de uma tramóia? De um engano para conseguir dinheiro? – Deve de ser um engano. Quem é essa menina?

– Não é nenhum engano – insistiu ela. – É sua sobrinha.

– Estou completamente certo de não ter nenhuma sobrinha.

Ela arqueou uma sobrancelha formosamente perfilada.

– Não esteja tão certo antes de ouvir a história toda.

– Quem é o pai?

– O pai está fora de tudo isto e não tem nenhum vínculo com o senhor. É a mãe. É... era uma mulher chamada Katie McGrath.

Cameron voltou a pensar tentando lembrar-se de alguma prima distante com esse nome.

– Nunca ouvi falar dela.

Ela cruzou lentamente as pernas.

– Não, nunca a conheceu. Mas a sua mãe é Christine McGrath.

Cameron sentiu um nó na garganta.

– Que também é sua mãe – continuou ela tranquilamente. – Portanto a Katie e o senhor são irmãos. Ou eram.

– Não, impossível. Eu não... – ficou sem fala.

Realmente era impossível que tivesse tido uma irmã? Certamente que não. Um torpor começou a paralisar-lhe os braços e as pernas. Reconheceu num instante a sensação. Tinha-o sentido pela primeira vez aos nove anos, no dia em que a sua mãe subiu para um comboio e desapareceu para sempre, deixando para trás marido e filhos.

Mas ele tinha conseguido superar aquela dor. A única coisa que necessitava era de controlar as suas emoções com a cabeça. E se Cameron era bom em algo, era no controlo.

– Portanto Katie e o senhor são irmãos. Ou eram... sinto muito.

– Onde está a minha... onde está Christine McGrath?

– Receio que tanto Katie como ela tenham morrido no terramoto.

Cameron esperou uma inundação de emoções, mas não sentiu nada. Não era estranho. Há anos que tinha matado qualquer sentimento pela sua mãe.

O que sentiu foi o olhar de Jo fixado nele, esperando uma resposta.

– Lamento ouvir isso, mas não tinha nenhuma relação com minha mãe. Se é a mesma mulher que... Não tenho absolutamente nada a ver com ela – queria deixar muito claro aquele ponto.

– Então não deveria ter nenhum problema em assinar este documento – disse ela, tirando um envelope do saco.

– Espere um momento – replicou ele levantando uma mão. – Sou advogado. Nós os advogados não assinamos documentos assim tão facilmente.

– Se necessita de provas que era a sua mãe, tenho-as. Esperava que as quisesse ver.

Ele olhou-a em silêncio, tentando encaixar as peças do quebra-cabeças. Lentamente, agarrou o envelope.

– Christine McGrath abandonou-nos há vinte e seis anos e foi para o Wyoming – disse, abrindo o documento.

– Não, não foi para Wyoming – respondeu ela.

Cameron olhou-a duramente. Era a versão que o seu pai lhes tinha contado e nenhum dos irmãos teve razão para questioná-lo. Na verdade, nunca tinham voltado a falar do tema.

Jo pôs-se direita e olhou-o como se fosse uma juíza prestes a impor-lhe uma dura sentença.

– Foi para Sierra Springs há vinte e seis anos, teve uma filha chamada Katie e, há onze meses, Katie teve uma filha. Callie McGrath.

Cameron sentiu um nó na garganta e os seus dedos ficaram petrificados sobre o papel. Como era possível?

– Vou adoptar Callie, senhor McGrath. Mas não poderei fazê-lo até que o seu parente vivo mais próximo assine este documento e renuncie a qualquer direito sobre ela. Não quero viver com a preocupação constante de que o senhor apareça e peça a sua custódia.

Custódia? De um bebé?

– Querida, não quero a custódia nem de um peixe às cores.

– Óptimo – disse ela. Levantou-se rapidamente, voltou a colocar o chapéu e apontou para o documento que Cameron tinha na mão. – A única coisa que tem de fazer é assinar e não voltará a ver-me nunca mais. Garanto-lhe isso.

Uma parte dele queria fazer isso. A parte que sempre tinha apagado qualquer lembrança de sua mãe. A parte que o tinha ensinado a controlar o seu ambiente, a sua vida e as suas emoções.

Mas outra parte ouviu uma vozinha quase inaudível. A voz quase apagada da sua avó irlandesa que teria gostado de ignorar.

«Vais curar a ferida desta família, Cam McGrath. És o mais velho. É a tua obrigação. Vais sarar a ferida.»

Tinha esquecido aquele prognóstico. Tal como Colin e Quinn tinha esquecido a ferida, ou pelo menos tinha aprendido a fingir que sim.

Mas ali estava, em frente a uma mulher que tinha as respostas que todos tinham desejado em segredo durante vinte e seis anos. As respostas que fechariam as feridas dos seus corações de uma vez por todas. As respostas que poderiam libertá-los da lembrança daquele trágico dia, quando da janela do segundo andar viram agachados a sua mãe a partir de Pittsburg. Para Wyoming. Ou para a Califórnia. Ou para onde fosse.

Era óbvio que naquela noite teria de tomar outra decisão. E as recriminações poderiam ser muito piores que perder um jogo de beisebol.

Podia assinar o documento e esquecer que Jo Ellen Tremaine tinha pisado o seu escritório. Ou podia obter mais respostas da mecânica.

Aquela poderia ser a sua única oportunidade para sarar a ferida... tanto para ele como para seus irmãos.

Mas nunca deixaria que aquela mulher soubesse que era isso o que estava a fazer.

Levantou-se e sorriu.

– Bem Jo... Por acaso gosta do basebol?

Jo reprimiu o impulso de ficar com a boca aberta. Cameron McGrath olhava-a fixamente do alto do seu metro oitenta e dois de estatura com uns olhos incrivelmente azuis e brilhantes.

Basebol? Será que lhe estava a passar a mão pelo pêlo?

– Acho que é tão aborrecido quanto sujo – respondeu.

– Sujo e aborrecido?

Seria verdade que queria discutir os méritos do basebol quatro minutos depois dela lhe ter dito que a sua irmã e a sua mãe tinham morrido e que tinha uma sobrinha pequena à qual ela queria adoptar? Podia realmente ser tão frio?

Certamente podia. Jo tinha lido as cartas da mãe de Katie ao pai de Cameron. Cartas que ele tinha devolvido sem abrir. Jim MGrath estava cheio de rancor e essa característica dominava os genes dos McGrath. Katie não a tinha herdado. Herdara apenas o aspecto imponente que fazia com que as pessoas parassem na rua para olhar para ela.

Cameron McGrath, no entanto, tinha uma tez ligeiramente diferente da de sua irmã. O seu cabelo era loiro escuro; os seus olhos da cor do céu da Califórnia num longo dia de Setembro. O seu rosto era duro e atraente, com a sombra de uma barba incipiente e sobrancelhas carregadas. Mandíbula robusta, maçãs do rosto perfeitas... Rasgos universais de gente bonita e dos McGrath.

E por isso podia conjecturar que, sob aquele fato feito à medida, tinha também um corpo perfeito.

Obrigou-se a si própria a concentrar-se na razão que a tinha levado a Nova Iorque.

– Quanto tempo necessitará para ler e assinar os papéis?

– Não tenho a certeza. Quanto tempo acha que preciso para a fazer mudar de opinião sobre o passatempo favorito da nação?

Jo quase desatou a rir pela superficialidade que ele lhe estava a mostrar.

– Não dispõe assim de tanto tempo, senhor McGrath. O meu voo sai às onze e meia.

«Com esse documento assinado sob o braço», acrescentou para si.

Ele olhou para as horas no seu relógio de pulso.

– Estamos com sorte. Veremos o primeiro lançamento. E sem entradas extras, talvez possa ver o jogo inteiro – acrescentou com uma piscadela de olhos.

Superficial e presunçoso. Uma das combinações que menos agradava a Jo, por muito atraente que fosse o homem.

– Não vou a nenhum jogo de basebol esta noite. Assine o documento o mais rápido possível, depois poderá ir para o parque.

– Para o parque não. Para o Estádio – corrigiu ele. – Com E maiúsculo.

Ela conseguiu esboçar um sorriso triste. O que teria de fazer para que lhe assinasse o documento?

– Calculo que isto signifique muito para si – disse ele, inclinando-se o suficiente para que ela se apercebesse do seu cheiro fresco e masculino.

Aquela suposição formulada com voz de barítono fez com que Jo sentisse um calafrio de apreensão nas costas. Ou talvez fosse de... outra coisa. Teria que estar cega e surda para não reconhecer o quanto aquele homem era atraente. Mas teria que ser estúpida para deixar que isso a influenciasse.

E ela não era estúpida, só decidida. Callie McGrath não acabaria num orfanato nem numa família fria e distante que só a acolhesse por curiosidade. Jo Ellen talvez não fosse o modelo de instinto maternal, mas não conseguia resistir a consertar um dano, fosse ele do tipo que fosse. E Katie tinha morrido numa situação muito complicada, não tendo deixado nada à sua filha.

– Sim, significa muito para mim – respondeu com cuidado. – Quero fazer as coisas bem, não quero que algum meada solto ameace estrangular-me.

Um meio sorriso curvou os lábios de Cameron.

– Não quero estrangulá-la, querida. Só pretendo partilhar um pouco de basebol sujo e aborrecido consigo. E durante o jogo... – pôs-lhe uma mão quente no ombro, – podemos conhecer-nos um pouco melhor um ao outro.

Jo captou a subtil mensagem da petição. Ele era advogado, como lhe tinha recordado, e não estava disposto a estampar a sua assinatura num documento que uma desconhecida lhe apresentava.

– Parece-me justo – acedeu, afastando-se da sua mão. – Mas, é absolutamente necessário ir a um jogo de basebol?

– Absolutamente – respondeu ele com uma gargalhada, e dirigiu-se para a porta. – Além disso, assim poderá beber a sua cerveja.

Jo teve um pressentimento de que ia precisar dela.