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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Kathy Garner

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Uma Paixão Secreta, n.º 734 - Agosto 2014

Título original: Passion in Secret

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2004

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5402-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Volta

Capítulo 1

 

Mesmo que não estivesse a sentir o sopro do vento frio do Atlântico, os olhares hostis que lhe dirigiram as pessoas que rodeavam a sepultura teriam sido suficientes para gelar Sally até aos ossos. Ninguém disse nada, naturalmente. Os educados habitantes de Bayview Heights, a zona mais prestigiada de Eastridge Bay, jamais teriam manifestado a sua desaprovação antes que o corpo de uma das jovens mais conhecidas da sociedade local fosse enterrado.

Claro que não. Guardariam os seus comentários para mais tarde, junto com o chá, o licor e as condolências na mansão dos Burton. Mas Sally não estaria lá para os ouvir. A omissão do seu nome na lista de convidados para homenagear uma vida tragicamente ceifada em plena juventude era uma acusação em si mesma, embora o seu nome tivesse sido oficialmente ilibado de culpas.

– Do pó viemos e em pó nos transformamos... – o padre, com o seu paramento a abanar ao vento, entoou as últimas palavras da cerimónia.

A mãe de Penélope, Colette, abafou um soluço e estendeu a mão para o caixão coberto de flores. Olhando dissimuladamente, Sally viu como Fletcher Burton segurava a esposa pelo braço e tentava consolá-la. Do outro lado, apoiado pesadamente na sua bengala, encontrava-se Jake com a cabeça inclinada. Tinha o cabelo, ainda que prematuramente grisalho, tão espesso como quando Sally lhe tinha tocado pela última vez, há oito anos.

Ao sentir-se observado, ele levantou o olhar e apanhou-a a olhar para ele. Apesar de Sally saber que a única coisa que conseguiria era que os outros a censurassem ainda mais, não conseguiu desviar o olhar. E pior ainda, tentou enviar-lhe uma mensagem: «Não foi culpa minha, Jake!», mas apercebeu-se imediatamente que, como todos os outros, Jake considerava-a responsável. Viúvo aos vinte e oito anos por culpa dela, conseguia ver a acusação nos seus olhos azuis-claros, na linha da boca que em tempos a tinha beijado com o calor e a urgência dos dezanove anos.

O vento fez com que o laço da elaborada coroa de flores dos Burton ondulasse como se Penélope tentasse abrir o caixão para sair. Se tivesse podido, tê-lo-ia feito, e rido de tanta solenidade.

– A vida é uma montanha-russa – dizia ela sempre. – E tenciono aproveitá-la ao máximo antes de morrer. Quero ser um cadáver bonito!

Ao recordar as suas palavras e o riso frívolo que as acompanhara, Sally questionou-se se os seus olhos estariam a lacrimejar por causa do frio terrível ou se, finalmente, começava a afastar o aturdimento que a dominava desde o acidente, permitindo-lhe sentir outra vez.

Ao seu redor, As pessoas começaram a mover-se. O serviço religioso estava concluído. Colette Burton levou os dedos aos lábios e depois ao caixão como última despedida. Outros parentes fizeram o mesmo, excepto o viúvo e a sua família mais próxima. Ele permaneceu imóvel, o rosto indecifrável, os ombros direitos enfiados no uniforme de piloto naval. Os seus parentes rodearam-no, como se, ao fazê-lo, pudessem protegê-lo da enormidade da sua perda.

Desviando o olhar, Sally chegou-se para o lado para deixar passar os pais de Penélope, os quais, desprezando-a abertamente, se dirigiram para a limusina que os esperava. Tinha assistido ao enterro por respeito a quem tinha sido sua amiga e porque sabia que a sua ausência daria azo ainda a maiores comentários do que os que seriam causados pela sua presença. Mas a mensagem transmitida pelos Burton tinha a concordância da restante assistência: Sally Winslow, tal como sempre, atraía complicações e não merecia nem compaixão nem cortesia. A mensagem era tão óbvia que Sally ficou surpreendida ao ouvir passos na neve na sua direcção e depois a voz de Jake.

– Esperava que estivesses aqui. Como estás, Sally? – perguntou este ao chegar ao seu lado.

– Tão bem quanto se pode esperar – disse com um nó na garganta. – E tu?

– Na mesma – disse ele, encolhendo os ombros. – Vens a casa dos Burton depois do funeral?

– Não, não me convidaram.

Fitou-a com o rosto sério durante um momento.

– Estás a ser convidada agora. Como marido da Penélope, convido-te. Foram amigas durante anos. Ela teria querido que estivesses presente.

Ela não conseguiu olhá-lo nos olhos, não conseguiu suportar a sua voz fria e imparcial.

– Eu não estaria assim tão certa disso – disse, dando a volta. – As nossas vidas seguiram caminhos separados. Já não estávamos de acordo em muitos assuntos. – «Especialmente sobre ti e a santidade do teu casamento», poderia ter acrescentado.

– Para mim era muito importante que mudasses de opinião.

– Porquê, Jake? – perguntou ela. – Também há anos que tu e eu deixámos de ser amigos íntimos. Considerando as circunstâncias presentes, não me ocorre um motivo válido para que queiras aproximar-te agora.

– Foste a última pessoa que viu a minha mulher com vida. A última que conversou com ela. Gostava de falar contigo.

– Porquê? – perguntou ela, reprimindo o seu pânico. – A informação da polícia deixa bem claro o que sucedeu naquela noite.

– Eu li o relatório, e também ouvi as declarações dos meus sogros. Eles sabem que houve um acidente, mas tu sabes como e por quê.

O pânico voltou a embargá-la.

– Já disse tudo o que há para dizer, pelo menos uma dúzia de vezes.

– Faz-me a vontade, Sally, diz-me mais uma vez – apontou a bengala que empunhava com a mão esquerda. – Deram-me alta do hospital militar da Alemanha há menos de vinte e quatro horas. Cheguei a casa esta manhã, muito cedo, precisamente a tempo do funeral. Soube de tudo por terceiros. Tenho a certeza que compreenderás por que é que gostaria de ouvir tudo dos lábios da única pessoa que esteve realmente lá quando a Penélope morreu.

– O que é que pretendes conseguir com isso?

– Talvez te recordes de algo que não te parecesse importante quando fizeste a tua declaração. Algo que complete as incríveis lacunas dos relatórios que recebi até agora.

Pelos vistos, suspeitava que havia mais alguma coisa do que a bonita versão apresentada pela polícia. Sally receava isso. Não receava o que ele lhe pudesse perguntar, mas sim que ele descobrisse a dolorosa verdade por trás das mentiras que ela tinha contado para lhe evitar sofrimentos a ele e aos Burton.

– Sally? – Margaret, a irmã mais velha de Sally aproximou-se deles. Uma ligeira ruga na sua testa indicava que achava totalmente inapropriado que Sally confraternizasse com o viúvo em frente a toda a assistência do enterro. – Temos que nos ir embora. Agora.

– Sim – disse Sally, que, pelo menos desta vez, ficou agradecida por a sua irmã se imiscuir. Afastou-se de Jake. – Estava a explicar-lhe que não posso ir à recepção.

– Claro que não podes! – a expressão de Margaret suavizou-se ao dirigir-se a Jake: – Lamento muito a tua perda, Jake. Que regresso a casa terrível. Mas receio que tenhamos que nos ir embora. Os meninos estão à minha espera.

– A Sally veio contigo até aqui?

– Sim. Desde o acidente, não tem muita vontade de conduzir. Afectou-a muito mais do que muitas pessoas pensam.

– A sério? – o seu olhar abandonou Margaret para se centrar novamente em Sally, demasiado penetrante para o seu gosto. – Pelo menos, tu escapaste ilesa.

– Tive sorte.

– Pois tiveste. Muito mais do que a minha mulher.

O frio e a recordação dos travões a chiar fizeram-na tremer, o cheiro a borracha queimada quando os pneus deixaram marcados dois riscos negros no pavimento. E, pior ainda, o corpo partido de Penélope projectado pelos ares e jazendo à beira do caminho, murmurando com um sorriso espectral nos lábios:

– Sim, sou tonta. Caí da montanha-russa antes dela parar, Sal.

Sally libertou-se da dolorosa recordação com um esforço.

– Sim, tive sorte – disse, ao aperceber-se que Jake a observava atentamente. – Mas nem todas as feridas são visíveis. Ver morrer uma amiga não é algo fácil de superar.

– Normalmente não.

Apesar do seu comentário parecer cortês, Jake fê-lo com tanto desdém que ela, sem pensar nas consequências das suas palavras, explodiu.

– Achas que estou a mentir?

– Estás?

– Santo Deus, Jake, mesmo que estejas magoado por causa do que aconteceu, parece-me que estás a passar dos limites! – apesar de Margaret estar sempre a criticá-la, não suportava que outras pessoas o fizessem e defendeu-a como uma leoa. – A minha irmã está destroçada com a morte da Penélope.

A expressão do rosto masculino mudou, expressando resignação.

– Sim – disse. – Claro que está. Desculpa, Sally, por insinuar o contrário.

Sally assentiu, mas o seu suspiro de alívio foi interrompido quando ele prosseguiu.

– Eu arranjo alguém que te leve a casa depois do funeral.

– Agradeço, Jake, mas não. Já incomodei a Margaret. Nem me passaria pela cabeça incomodar-te a ti também, particularmente num dia como o de hoje.

– Estarias a fazer-me um favor. E se tens medo...

– Por que é que havia de ter medo? – interveio Margaret. – Ficou demonstrado que a morte de Penélope foi um acidente.

– Eu sei, e também sei que mesmo assim nem todos aceitam essa versão.

– Então, talvez tenhas razão. Talvez levá-la a casa dos Burton não seja uma ideia assim tão má – disse Margaret. Ficou pensativa por um momento para depois dar um ligeiro empurrão nas costas da irmã. – Sim, vai com ele, Sally. Enfrenta-os e demonstra-lhes que não tens nada de que te arrependeres.

Sally ficou muda perante a mudança de atitude da sua irmã. Já tinha muito com que se preocupar para ainda ir à boca do lobo procurar mais problemas.

– Não! – gritou quando recuperou a fala. – Não tenho que demonstrar nada a ninguém!

Mas Margaret já se tinha afastado e entrava no carro que tinha estacionado a discreta distância dos da família.

– Parece que a única alternativa que tens é demonstrá-lo – murmurou Jake, agarrando Sally pelo cotovelo antes que ela se fosse embora. – Não façamos esperar o motorista. Não posso falar por ti, mas eu não estou em condições de andar os quatro quilómetros de distância até à casa dos meus sogros, e muito menos com este tempo – elevou o olhar para o céu nublado. – Tivemos sorte que ainda não tenha nevado.

 

 

Era óbvio que a adorável Sally Winslow estava a mentir. Por mais que estivesse há anos sem a ver, Jake lembrava-se muito bem dela para saber quando tentava esconder algo. O que o intrigava era por que o fazia.

A sua implicação no acidente tinha ficado fora de cogitação. Então, por que é que não conseguia olhá-lo nos olhos? Por que é que olhava fixamente pela janela de maneira que a única coisa que ele conseguia ver-lhe era a nuca? Por que é que se sentava tão longe dele, como se temesse que a dor o fizesse agarrá-la pelo pescoço e obrigá-la a dizer a verdade?

Atravessaram o portão de ferro da antiga mansão dos Burton, que içava a sua estrutura de granito escuro na penumbra do entardecer. Quando a limusina se deteve, Morton, o mordomo, abriu a dupla porta da entrada. Ao ver Sally subir as escadas, uma expressão de surpresa cruzou-lhe rapidamente o rosto.

– Convite? – disse, levantando o braço como que para impedir que ela entrasse.

– A menina Winslow está aqui convidada por mim – disse Jake, surpreendido ao sentir a imperiosa necessidade de a proteger. Podiam acusá-la de qualquer outra coisa, mas não de que não pudesse defender-se sozinha. Sally não precisava nada de um cavaleiro andante.

Morton pegou no casaco de Sally com patente desagrado.

– A recepção é no salão, capitão Harrington – disse. – Devo anunciá-los?

– Não é necessário, sei como ir para lá – respondeu Jake, dando-lhe o seu chapéu. Sacudiu uns flocos de neve dos ombros e fez um pequeno gesto com a cabeça a Sally. – Pronta para o combate?

– Mais do que isto nunca vou estar.

Jake pensou em oferecer-lhe o braço, mas decidiu que ela teria que se contentar com o seu apoio moral. Os seus sogros já estavam a sofrer muito para ainda lhes deitar mais sal na ferida.

Provinha do salão o murmúrio abafado das conversas. Ao entrar, viram que cada palmo da superfície dos lustrosos móveis estava ocupado por fotografias de Penélope rodeadas por enormes ramos de flores perfumadas.

Junto à janela que dava para os jardins posteriores, uma mesa oferecia sandes, salgados e bolos. Uma mulher gorda que ele não reconheceu servia chá do serviço de prata maciça para as finíssimas taças de porcelana. No outro extremo da sala, uma secretária Chippendale servia de bar improvisado com o seu sogro a fazer as honras. Colette, sentada na beira de uma cadeira forrada em seda com um copo de brandi vazio na mão, recebia os pêsames dos presentes.

Fletcher Burton foi o primeiro a vê-los. Prestes a servir um copo de licor, pousou a garrafa de cristal talhado novamente na bandeja de prata e aproximou-se rapidamente por entre as pessoas.

– Não sei como é que esta jovem conseguiu entrar sem que Morton a visse!

– Fui eu que a trouxe, Fletcher.

– Para quê, pode saber-se?

– Penélope e ela conheciam-se desde a infância. Eram amigas. Sally foi a última pessoa a ver a tua filha com vida. Eu diria que isso lhe dá tanto direito a estar aqui como a qualquer outra pessoa.

– Pelo amor de Deus, Jake! Sabes muito bem o que a Colette pensa a esse respeito. Estamos a tentar deixar o passado para trás.

– Se mo permites, parece-me que estão mais interessados em fazê-lo rápido do que em fazê-lo bem.

– Dadas as circunstâncias, não me parece...

– Combinámos que te ocuparias do funeral porque eu não chegaria a tempo de o fazer – interrompeu Jake. – Mas, como marido da Penélope, tenho o direito de convidar quem quiser para honrar a sua memória.

– Não, acho que não, se com isso magoas alguém.

– Vim apresentar as minhas condolências, senhor Burton – disse Sally, que tinha começado a retroceder em direcção ao vestíbulo. – Como já o fiz, vou-me embora.

– Obrigado – disse o pobre Fletcher, que estava totalmente dominado pela sua mulher, e lançou um olhar ansioso para o outro extremo da sala, onde Colette exibia a sua dor. – Olha, não quero ser ofensivo, mas receio que já não sejas bem-vinda a nossa casa, Sally. Se a minha mulher te visse...

Mas a advertência chegou demasiado tarde. Colette já a tinha visto e lançou um grito abafado de indignação que fez com que todos se voltassem para ela. Com o lenço em riste, pareceu voar através da sala.

– Como é que te atreves a aparecer no nosso lar, Sally Winslow? Não tens vergonha?

– Veio comigo – disse Jake, que já estava a ficar cansado de soar como um disco riscado. Devia ter-se mantido firme e ter insistido em que o funeral fosse adiado até à sua chegada. Não teria feito nenhuma diferença a Penélope e se ele tivesse organizado a recepção na casa que tinham partilhado durante o casamento, ter-se-ia evitado aquela cena

– Como é que pudeste fazer isto, Jake? – choramingou Colette, com os seus enormes olhos azuis cheios de lágrimas. – Como é que pudeste magoar-me manchando a memória da Penélope desta forma? Já sofri bastante. Tenho que acabar com isto.

– Temos todos que acabar com o sofrimento – disse ele com ternura, sem poder evitar emocionar-se com a sua dor. Colette Burton podia ter muitos defeitos, mas ele não podia negar que ela adorava a sua filha.

– E pretendes fazê-lo trazendo cá essa mulher? – disse ela com um soluço angustiado. – Que tipo de genro és tu?

– Um genro que está a tentar refazer a sua vida.

– Com a ajuda da assassina da tua mulher?

Fez-se um silêncio sepulcral na sala, porque não havia sequer uma pessoa nessa divisão, incluindo os pais de Jake, que não tivesse ouvido as suas palavras.

– Por favor, senhora Burton, perdoe-me. Não devia ter vindo – disse Sally contrita, tocando-lhe na mão. – Queria dizer-lhe uma vez mais o muito que lamento que a vida de Penélope acabasse de maneira tão trágica. Lamento muito.

– Deveras, Sally Winslow? – exclamou Colette retirando a mão como se a dela fosse uma serpente venenosa. – Ora! De certeza que estás feliz que ela tenha morrido! Sempre tiveste inveja por ela ser mais bonita e inteligente que tu. Mas agora não tens que viver mais à sombra dela, não é?

– Chega, Colette – disse Fletcher, tentando afastá-la sem êxito.

– Deixa-me! Ainda não acabei – disse ela, que se mexeu como um animal selvagem para enfrentar novamente Sally. – Fazes ideia do que significa ver uma filha morta num caixão? Sabes o que é dormir extenuado, implorando para não acordar nunca mais? Sabes?

Sally empalideceu e cerrou os lábios para que não tremessem. Um suor frio humedeceu-lhe a testa e os seus olhos brilharam febris.

– Foi isso que me fizeste, Sally Winslow! – gritou Colette. – Não terei um minuto de paz na minha vida de agora em diante, e espero que tu também não! Espero que o que fizeste te persiga até ao resto da tua miserável vida!

Novamente, Fletcher tentou intervir, agarrando-a pelos braços.

– Acalma-te, Colette, querida. Estás alterada.

Colette tinha tomado mais de um brandi para ganhar forças e Jake apercebeu-se de que a sua sogra podia embriagar alguém só com o seu hálito. Mas foi Sally quem, de repente, se apoiou lentamente nele e, antes que conseguisse agarrá-la, caiu ao chão.

Colette soltou-se de repente do seu marido.

– Espero que tenha morrido! É o que ela merece! – gritou descontrolada.

– Lamento desiludi-la – disse Jake. Tinha-se inclinado e tomava o pulso de Sally, que sentiu firmemente. – Só desmaiou – depois, apesar de não dever fazê-lo, não conseguiu evitar acrescentar: – Provavelmente está demasiado calor aqui dentro. Onde é que a posso pôr até que recobre os sentidos?

– Na biblioteca – disse Fletcher, passando Colette, desfeita em soluços, a uma das suas amigas. – Podes deita-la no sofá.

– Eu levo-a, Jake – disse o seu pai, aparecendo ao seu lado. – Não poderás fazê-lo com a tua perna ferida.

– Eu cá me arranjo – resmungou ele desejando que os seus pais não tivessem estado presentes naquela cena. Nunca se tinham dado muito bem com os Burton e sabia que deviam estar irritados com Colette pela forma como o tinha atacado. – É culpa minha que a Sally esteja aqui. O mínimo que posso fazer é acabar o que comecei. Se queres ajudar, leva a mamã daqui para fora. Parece-me que está muito afectada com o que aconteceu.