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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Melanie Milburne. Todos os direitos reservados.

SEGREDOS NO CORAÇÃO, N.º 1463 - maio 2013

Título original: Surrendering All Bou Her Heart

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2951-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

«Deverias ir vê-lo.»

Natalie ainda podia ouvir o desespero e a súplica na voz da sua mãe enquanto chamava o elevador que levava ao escritório elegante que Angelo Bellandini tinha em Londres. Não conseguia tirar aquelas palavras da cabeça. Tinham-na mantido acordada durante quase as últimas quarenta e oito horas. Tinham-na acompanhado como a sua mala enorme no comboio que apanhara em Edimburgo. Tinham-lhe seguido os passos até se converterem numa ladainha atordoante na sua cabeça.

Não era que não o tivesse visto nos últimos cinco anos. Quase todos os jornais e páginas de Internet tinham uma fotografia ou informação sobre o playboy e herdeiro da fortuna dos Bellandini. A vida de Angelo Bellandini era o tema de discussão de muitos fóruns online. A sua riqueza enorme, apenas metade fora herdada e a outra metade tinha-a conseguido a trabalhar arduamente, convertia-o numa pessoa muito conhecida.

E ela tinha de ir vê-lo por causa do rebelde do seu irmão mais novo e das loucuras dele.

Sentiu um calafrio ao entrar no elevador de vidro e a mão tremeu-lhe ligeiramente ao premir o botão.

Acederia Angelo a recebê-la depois da forma como tinha saído da sua vida cinco anos antes? Odiá-la-ia tanto como tinha chegado a amá-la? Brilhariam os seus olhos com rancor, em vez de haver neles a paixão e o desejo de outros tempos?

Sentiu um nó no estômago ao sair do elevador e aproximar-se da receção. Tinha crescido num ambiente de riqueza, por isso, não deveria sentir-se intimidada por tanta elegância, mas quando conhecera Angelo não sabia qual era o alcance da sua fortuna familiar. Para ela, era apenas um italiano bonito e trabalhador que estava a fazer um MBA. Angelo fizera o possível para esconder a sua origem, mas quem era ela para o recriminar se fizera exatamente o mesmo?

– Receio que o signor Bellandini não esteja disponível neste momento – disse-lhe a rececionista, com tom profissional, quando Natalie pediu para o ver. – Quer que lhe marque uma reunião para outro dia?

Natalie olhou para a mulher, que parecia uma modelo, loira e de olhos azuis, e sentiu como lhe caía a autoestima aos pés. Embora tivesse retocado o batom no elevador e tivesse passado os dedos pelo cabelo castanho, o seu aspeto não era nada profissional. Era consciente de que tinha a roupa amarrotada e muito má cara depois de ter passado a noite sem dormir. Acontecia-lhe sempre o mesmo naquela época do ano, sempre, desde os sete anos.

Endireitou os ombros e encheu-se de resolução. Não sairia dali sem ver Angelo, mesmo que tivesse de esperar todo o dia.

– Diga ao signor Bellandini que só vou estar vinte e quatro horas em Londres – insistiu, deixando em cima do balcão o seu cartão profissional e o cartão do hotel que tinha reservado para aquela noite. – Pode localizar-me através do meu telemóvel ou no hotel.

A rececionista olhou para os cartões e levantou o olhar.

– É Natalie Armitage? – perguntou. – A Natalie Armitage da Natalie Armitage Interiores?

– Pois... Sim.

A rececionista sorriu, encantada.

– Tenho lençóis e toalhas suas – comentou. – Eu adorei a sua última coleção. Graças a mim, agora todas as minhas amigas têm coisas suas. São tão femininas e frescas... Tão originais!

– Obrigada – respondeu Natalie, sorrindo com educação.

A rececionista inclinou-se para o intercomunicador.

Signor Bellandini? – chamou-o. – Veio vê-lo a menina Natalie Armitage. Quer que a mande entrar antes que chegue o seu próximo compromisso ou marco-lhe uma reunião para esta tarde?

A Natalie parou-lhe o coração. Surpreendê-lo-ia que tivesse ido vê-lo? Zangá-lo-ia?

– Não – respondeu ele, com a sua voz profunda e sensual. – Vê-la-ei agora.

A rececionista acompanhou-a por um corredor enorme e sorriu ao chegar a uma porta onde havia uma placa de metal com o nome de Angelo.

– Teve muita sorte – comentou em voz baixa. – Normalmente, não recebe ninguém sem hora marcada. Quase toda a gente tem de esperar semanas para o ver – em seguida, piscou-lhe um olho. – Talvez queira meter-se entre os seus lençóis?

Natalie sorriu fracamente e entrou pela porta que a rececionista acabava de abrir. Os seus olhos foram diretos para onde Angelo estava sentado, atrás de uma secretária de mogno em cima de um tapete do tamanho de um campo de futebol, e a porta fechou-se atrás dela, fazendo um ruído que lhe recordou a porta de uma cela.

Sentiu um nó na garganta, que tentou desfazer engolindo em seco, mas era como se tivesse uma espinha cravada.

Angelo estava tão bonito como sempre, talvez mais. O seu rosto quase não mudara, embora as rugas que se formavam à volta da boca ao sorrir fossem um pouco mais profundas. Usava o cabelo escuro mais curto do que cinco anos antes, mas ainda se frisava sobre o colarinho da camisa azul-clara que vestia. Estava barbeado, mas tinha sempre uma sombra escura no rosto. As suas pestanas escuras e espessas continuavam a ser as de sempre.

Levantou-se, mas Natalie não soube se o fazia por educação ou para a intimidar. Era muito alto e, apesar de ela usar saltos, teve de levantar a cabeça para manter o contacto visual.

Humedeceu os lábios com a ponta da língua. Tinha de manter a calma. Tinha passado a maior parte da sua vida a controlar as suas emoções e aquele não era o melhor momento para mostrar como estava preocupada com o seu irmão. Angelo dar-se-ia conta e aproveitar-se-ia disso. Só tinha de pagar os danos causados por Lachlan e sair dali.

– Obrigada por me receberes – disse-lhe. – Sei que estás muito ocupado, portanto, não te roubarei muito tempo.

Os seus olhos escuros incríveis olharam-na fixamente enquanto Angelo premia o botão do intercomunicador.

– Fiona, adia todos os meus compromissos uma hora – disse. – E não me passes chamadas. Não quero que me incomodes sob nenhum pretexto.

– Entendido.

– Não é necessário que interrompas a tua agenda tão apertada... – disse-lhe Natalie.

– É óbvio que sim – respondeu ele, sem desviar os olhos dos dela. – O que o teu irmão fez num dos quartos do meu hotel de Roma é crime.

– Sim – admitiu ela, engolindo em seco outra vez. – Eu sei. Está a passar por uma fase muito difícil e...

Ele arqueou um sobrolho.

– Por uma fase muito difícil? – inquiriu. – O que aconteceu? O papá requisitou-lhe o Porsche ou tirou-lhe a mesada?

Natalie apertou os lábios para conter as suas emoções. Como se atrevia Angelo a gozar assim com o seu irmão? Lachlan era como uma bomba-relógio. E ela era a única que podia evitar que explodisse.

– É apenas um miúdo – começou. – Já acabou o colégio e...

– Tem dezoito anos – interrompeu-a Angelo, com tom zangado. – Tem idade suficiente para votar e, na minha opinião, para assumir as consequências dos seus atos. Ele e os bêbados dos seus amigos causaram danos de mais de cem mil libras num dos meus hotéis mais prestigiados.

Natalie sentiu um aperto no estômago e perguntou-se se Angelo estaria a exagerar. Pelo que a sua mãe lhe tinha contado, pensara que só tinham sujado um tapete e estragado alguns móveis, e que, no máximo, seria preciso pintar uma das paredes.

No que teria estado a pensar o seu irmão para fazer semelhante loucura?

– Estou disposta a pagar os estragos, mas antes gostaria de os ver pessoalmente – respondeu-lhe, levantando o queixo.

Ele desafiou-a com o olhar.

– Portanto, estás disposta a pagar a conta?

E ela sustentou-lhe o olhar, embora lhe ardesse o estômago.

– Dentro do que seja razoável.

Angelo sorriu.

– Não tens ideia de no que estás a meter-te – advertiu-a. – Sabes o que faz o teu irmão quando sai à noite com os seus amigos?

Natalie sabia e era por esse motivo que andava a dormir mal há vários meses. Sabia qual era o motivo pelo qual Lachlan estava a comportar-se assim, mas pouco podia fazer para o impedir. Lachlan tinha substituído Liam depois da morte dele, tinham-no tratado como a reencarnação do filho perdido. Desde criança, vira-se obrigado a viver a vida de Liam. Todos os sonhos e esperanças que os seus pais tinham tido com Liam tinham passado para Lachlan e, ultimamente, já não suportava a pressão. E Natalie tinha medo de que um dia não voltasse ou que o pressionassem demasiado.

Já se sentia culpada por uma morte. Não conseguiria suportar outra.

– Como sabes que Lachlan é responsável pelos danos? – perguntou. – Como sabes que não foi um dos seus amigos?

Angelo fulminou-a com o olhar.

– O quarto estava em seu nome – disse. – Apresentou o seu cartão de crédito na receção. É legalmente responsável, mesmo que se tenha limitado a mudar uma almofada de sítio.

Natalie suspeitava que o seu irmão fizera muito mais do que mudar as almofadas de sítio. Já o vira mais de uma vez bêbado e sabia que o álcool lhe despertava uma raiva tão aterradora como repentina. E algumas horas depois não se lembrava de nada do que fizera ou dissera.

Até àquele momento, safara-se, mas só porque o seu pai rico e poderoso tinha pedido alguns favores às autoridades. Mas isso fora ali, na Grã-Bretanha.

Naquele momento, Lachlan estava à mercê das autoridades italianas e fora por isso que ela fora a Londres, para suplicar a Angelo em seu nome. De todos os hotéis que havia em Roma, porque tivera de se hospedar no de Angelo Bellandini?

Natalie abriu a mala e tirou o livro de cheques, enquanto suspirava com resignação.

– Está bem – disse, procurando uma caneta na mala. – Confiarei na tua palavra e pagarei os danos.

Angelo deixou escapar uma gargalhada.

– Achas que vou esquecer isto apenas com um cheque? – perguntou-lhe.

Ela tentou que não se notasse que voltava a engolir em seco.

– Queres mais de cem mil libras? – inquiriu, com voz muito tensa.

Ele olhou-a nos olhos e o ar encheu-se de uma tensão palpável. Natalie sentiu-a a subir pela sua espinha dorsal, vértebra a vértebra. Sentiu-a na sua pele, que se arrepiou. E sentiu-a também entre as coxas, como se Angelo tivesse baixado a mão e a tivesse acariciado ali com aqueles dedos habilidosos.

Angelo não disse nada. Não era preciso. Natalie sabia o que queria dizer com aquele olhar zombador. O dinheiro era-lhe indiferente. Não era o que queria. O dinheiro sobrava-lhe.

Sabia muito bem o que queria. Soubera-o ao entrar no seu escritório e cruzar o olhar com ele.

Queria-a a ela.

– Ou o aceitas, ou não – disse-lhe, deixando o cheque em cima da mesa entre eles.

Ele pegou no cheque e começou a rasgá-lo muito devagar, espalhando-o sobre a secretária, sem desviar o olhar dela.

– Assim que saíres daqui, direi às autoridades romanas que quero seguir avante com a queixa – disse. – O teu irmão irá para a prisão. Assegurar-me-ei pessoalmente disso.

A Natalie acelerou-lhe tanto o coração, que pensou que ia saltar-lhe do peito. Quanto tempo aguentaria o seu irmão numa prisão estrangeira?

Colocá-lo-iam com assassinos, ladrões e violadores. E poderiam passar anos até que o julgassem. Era apenas um menino. Portara-se mal, sim, mas, na realidade, não era culpa dele. Necessitava de ajuda, não de ir para a prisão.

– Porque estás a fazer isto? – perguntou a Angelo.

Ele sorriu.

– Não adivinhas, mia piccola?

Ela inspirou.

– Não te parece que estás a levar a tua vingança demasiado longe? O que aconteceu entre nós foi entre nós. Não tem nada a ver com o meu irmão.

«Só tem a ver comigo», pensou.

Brilharam-lhe perigosamente os olhos e deixou de sorrir.

– Porque o fizeste? – inquiriu. – Porque me deixaste por um homem que conheceste num bar, como uma fulana barata?

Natalie não pôde continuar a olhá-lo nos olhos. Não era uma mentira da qual se orgulhasse, mas fora a única maneira de conseguir que Angelo a deixasse partir. Apaixonara-se por ela. Falara-lhe de casamento e de filhos. Já lhe tinha comprado um anel de noivado. Natalie tinha-o encontrado ao guardar umas meias numa gaveta. Vira o diamante, que lhe tinha recordado tudo o que queria e jamais poderia ter. E entrara em pânico.

– Não estava apaixonada por ti – disse-lhe. Era quase verdade.

Tinha aprendido a não amar. A não sentir. A não depender de emoções que não podia controlar.

Se amasse, perderia.

Se se envolvesse, sofreria.

Se abrisse o coração a alguém, poderiam arrancar-lho do peito quando menos o esperasse.

Do ponto de vista físico, fora diferente. Permitira-se perder o controlo. Embora, na realidade, não tivesse opção. Angelo tinha-se encarregado disso. Tinha dominado o seu corpo desde o primeiro beijo. E talvez fosse capaz de controlar as emoções, mas, fisicamente, não conseguia esquecê-lo, por muito que o tentasse.

– Então, foi só sexo? – perguntou-lhe ele.

Natalie obrigou-se a olhá-lo nos olhos e, depois, desejou não o ter feito.

– Tinha apenas vinte e um anos – disse-lhe, desviando o olhar outra vez. – Naquela época, não sabia o que queria.

– E agora já sabes?

Ela mordeu a boca por dentro.

– Sei o que não quero.

– E o que não queres?

Natalie voltou a olhá-lo nos olhos.

– Porque não vamos diretos ao assunto? Vim pagar os danos causados pelo meu irmão. Se não aceitas o meu dinheiro, o que queres?

Era uma pergunta perigosa e Natalie apercebeu-se disso assim que a formulou.

Os olhos de Angelo brilharam.

– Porque não te sentas e discutimos o assunto? – sugeriu-lhe, assinalando uma poltrona.

Natalie afundou-se nela, aliviada. Tremiam-lhe as pernas e tinha o coração acelerado. Viu Angelo a levantar-se, a contornar a secretária e a sentar-se. Para uma pessoa tão alta, mexia-se com muita elegância. Era magro e fibroso, e a sua pele morena sobressaía com o azul-claro da camisa. No passado, só o vira vestido de maneira informal ou nu.