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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Melanie Milburne. Todos os direitos reservados.

INIMIGOS DIANTE DO ALTAR, N.º 1427 - Novembro 2012

Título original: Enemies at the Altar

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência. ™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-1330-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Andreas recebeu uma chamada da sua irmã mais nova, Miette, de madrugada.

– O papá morreu.

Três palavras que noutra pessoa teriam evocado uma tempestade de emoções, mas que para Andreas só significavam que a partir daquele momento podia deixar de fingir que a sua família fora feliz.

– Quando é o funeral?

– Na terça-feira – respondeu Miette. – Vens?

Andreas olhou para a mulher que dormia ao seu lado na cama do hotel e deixou escapar um suspiro de frustração. Que típico do seu pai escolher o momento mais inoportuno para morrer!

Naquele fim de semana, pensara pedir a mão de Portia Briscoe em Washington D.C., aproveitando uma viagem de negócios. Inclusive, tinha o anel de noivado na sua mala. Mas teria de esperar por outra oportunidade. Não queria que o seu noivado ficasse associado para sempre à morte do seu pai.

– Andreas? – a voz de Miette interrompeu os seus pensamentos. – Seria bom se viesses... Por mim, não pelo papá. Tu sabes como odeio funerais, especialmente depois do da mamã.

Andreas sentiu um aperto no coração ao recordar a sua mãe e como fora cruelmente traída. Tinha a certeza de que fora isso o que a matara, não o cancro. O desconsolo por encontrar o marido na cama com uma empregada da casa, enquanto ela passava pela quimioterapia, partira-lhe o coração, roubando-lhe a vontade de viver.

E Nell Baker e a desavergonhada da filha, Sienna, tinham transformado o funeral da sua mãe num escândalo...

– Lá estarei – assegurou.

E esperava que Sienna Baker não se atrevesse a aparecer.

 

 

A primeira pessoa que Sienna viu ao chegar ao funeral em Roma foi Andreas Ferrante. Pelo menos, os seus olhos registaram-no, mas sentira-o alguns segundos antes. Assim que entrou na catedral, sentiu um calafrio pela espinha dorsal.

Não o via há muitos anos e, no entanto, soubera que estava ali, sentado num dos bancos diante do altar. Tão atraente como sempre e com aquele porte aristocrático, exsudando dinheiro e poder. Usava o cabelo preto um pouco mais comprido do que o resto dos homens, roçando-lhe o colarinho da camisa.

Ele virou a cabeça e inclinou-se para dizer algo ao ouvido da jovem que estava sentada ao seu lado. Sienna queria levar uma mão ao peito, onde o coração lhe batia freneticamente.

Durante anos, tinha tentado esquecer aquelas feições. Não se atrevia a pensar nele, porque era uma parte do seu passado da qual se sentia profundamente envergonhada.

Naquela altura, era tão jovem, tão ingénua e insegura... Não pensara nas consequências... Mas quem o fazia aos dezassete anos?

Então, de repente, Andreas virou a cabeça e os seus olhos encontraram-se. E quando aqueles olhos castanho-esverdeados se cravaram nos seus foi como ser atingida por um raio.

Sienna tentou mostrar indiferença e, abanando a cabeleira loira, percorreu o corredor para se sentar num banco.

Sentia a sua fúria.

Sentia a sua raiva.

E fazia-a tremer. Fazia com que o sangue lhe fervesse nas veias, com que lhe falhassem os joelhos...

Mas não demonstrou nada disso, pelo contrário. Tentou fingir uma frieza que desejava ter sentido oito anos antes.

A mulher que estava sentada ao lado de Andreas era a sua namorada, ou assim o tinha lido nas revistas. A sua relação com Portia Briscoe tinha durado mais do que as outras e inclusive corria o rumor de que iam casar-se.

Embora Sienna nunca tivesse pensado que Andreas Ferrante pudesse apaixonar-se a sério. Para ela, sempre fora um príncipe, um menino rico rodeado de privilégios. Quando chegasse a altura, Andreas escolheria uma esposa adequada, uma rapariga de boas famílias, como o seu pai e o seu avô tinham feito antes de ele. O amor não teria nada a ver.

E, na aparência, Portia Briscoe era a candidata perfeita. Uma beldade clássica, era o tipo de mulher que não ia a lado nenhum sem estar perfeitamente penteada e maquilhada. O tipo de mulher que não iria a um funeral de calças de ganga gastas e sapatilhas.

Portia, que só usava fatos de alta-costura, tinha uns dentes perfeitos e uma pele de porcelana.

Ao contrário de Sienna, que tivera de sofrer a tortura de um aparelho dentário durante dois anos e que naquela manhã tivera de usar corretor para disfarçar uma borbulha no queixo.

A esposa de Andreas seria perfeita e não teria um passado que tivesse causado dor e vergonha a todos os que a conhecessem.

A sua esposa seria a perfeita Portia, não a escandalosa Sienna.

«Boa sorte!»

Assim que terminou o serviço religioso, Sienna saiu da catedral. Ainda não sabia porque sentira a necessidade de ir ao funeral de um homem do qual nunca gostara em vida. Mas tinha lido a notícia da morte dele na imprensa e pensara imediatamente na sua mãe.

A sua mãe, Nell, amara Guido Ferrante.

Nell trabalhara para a família Ferrante durante anos e Guido sempre a tinha tratado publicamente como uma governanta. Mas Sienna recordava muito bem o escândalo que a sua mãe tinha causado no funeral de Evaline Ferrante. A imprensa deleitara-se, como hienas sobre um cadáver. Fora a experiência mais humilhante da sua vida. Ver a sua mãe insultada e desprezada era algo que jamais poderia esquecer. Naquele dia, jurara que nunca estaria à mercê de um homem poderoso. Seria a dona do seu destino. Não deixaria que outros lhe ditassem o que devia fazer só porque tinham nascido numa casa rica ou tinham mais dinheiro do que ela. E nunca se apaixonaria.

– Desculpe, menina Baker? – chamou-a um homem bem vestido de uns cinquenta anos. – Sienna Louise Baker?

– Quem quer saber? – perguntou ela.

O estranho ofereceu-lhe a mão.

– Permita-me que me presente. Sou Lorenzo di Salle, o advogado de Guido Ferrante.

Sienna apertou-lhe a mão, surpreendida.

– Prazer em conhecê-lo, mas tenho pressa...

– Está convidada para a leitura do testamento do senhor Ferrante.

Ela olhou para ele, perplexa.

– Desculpe?

– É uma das beneficiárias do testamento do senhor Ferrante...

– Beneficiária, eu? Mas porquê?

O advogado sorriu.

– O signor Ferrante deixou-lhe uma propriedade.

– Que propriedade?

– O château de Chalvy, na Provença – respondeu o homem.

O coração de Sienna disparou.

– Deve ser um engano. Esse château era da família de Evaline Ferrante e deveria ser herdado por Andreas ou por Miette.

– O senhor Ferrante quis deixá-lo a si, mas impôs certas condições.

Sienna pestanejou.

– Que condições?

Lorenzo di Salle esboçou um sorriso que lhe recordou uma serpente.

– A leitura do testamento terá lugar na biblioteca da villa Ferrante, amanhã, às três. Vemo-nos lá.

 

 

Andreas passeava pela biblioteca, sentindo-se como um leão enjaulado. Era a primeira vez que punha os pés naquela casa em muitos anos, desde a noite em que tinham encontrado Sienna nua no seu quarto.

Sienna, que então tinha dezassete anos, tinha mentido, fazendo toda a gente acreditar que ela era a vítima, um papel que tinha interpretado na perfeição. Caso contrário, porque a teria incluído o seu pai no testamento? Sienna não era parente dos Ferrante, era a filha da governanta, uma caçadora de fortunas que já se casara por dinheiro uma vez.

Evidentemente, ganhara o afeto do seu pai doente para conseguir o que pudesse depois da morte do marido idoso, o qual a deixara praticamente na miséria. Mas o château da sua mãe na Provença era uma posse à qual Andreas não estava disposto a renunciar. E faria qualquer coisa para evitar que fosse parar às mãos de Sienna.

A porta abriu-se e Sienna Baker entrou na biblioteca como se estivesse na sua própria casa.

Pelo menos, naquele dia vestira-se de forma mais apropriada, embora não muito. A saia de ganga deixava a descoberto as pernas bronzeadas e a blusa branca atada à cintura mostrava alguns centímetros do abdómen. Não usava maquilhagem e a cabeleira loira caía-lhe sobre os ombros com um certo descuido, mas, mesmo assim, parecia saída de uma passarela.

Todos pareceram conter o fôlego durante um segundo. Andreas já vira aquilo muitas vezes. A beleza natural de Sienna era como um murro no estômago. Naturalmente, tentou disfarçar a sua reação, mas o efeito que exerceu sobre ele foi o mesmo que no dia anterior, no funeral.

Soubera o momento exato em que Sienna Baker tinha entrado na catedral. Sentira-o.

Andreas olhou para o seu relógio antes de lhe lançar um olhar depreciativo.

– Estás atrasada.

Sienna agitou a cabeleira num gesto impertinente.

– Apenas dois minutos, menino rico. Não fiques histérico.

O advogado pigarreou.

– Podemos começar? Há muitas coisas para tratar.

Andreas permaneceu de pé enquanto di Salle lia o testamento. Alegrava-se por a sua irmã receber grande parte das posses do seu pai, embora não as necessitasse, pois o marido e ela tinham um negócio próspero de investimentos em Londres, mas era um alívio saber que não tinham ido parar a Sienna. Miette tinha herdado a villa de Roma e milhões de euros em ações. E era uma satisfação, porque Miette, tal como ele, não tivera grande relação com o seu pai no último ano.

– E agora chegamos a Andreas e a Sienna – disse Lorenzo di Salle. – Acho que deveríamos ler esta parte do testamento em privado, se os outros não se importarem.

Andreas apertou os lábios. Não queria que o seu nome se misturasse com o dela. Sienna fazia-o sentir-se inquieto, sempre fora assim. Sienna Baker era uma mulher que o tirava do sério como mais ninguém conseguia fazê-lo. E isso não lhe agradava absolutamente.

Por causa dela, afastara-se do lar familiar e nem sequer tinha voltado para ver a sua mãe antes de morrer. O esquema vergonhoso de Sienna tinha destruído qualquer possibilidade de uma relação com o seu pai nos últimos oito anos. E odiava-a do fundo do coração.

O advogado esperou que os outros saíssem da biblioteca antes de ler:

– Deixo o château de Chalvy, na Provença, ao meu filho Andreas e a Sienna Baker, com a condição de que se casem e vivam juntos no mínimo seis meses...

Andreas escutou as palavras, mas o seu cérebro demorou alguns segundos a assimilá-las. E quando o fez, foi como se lhe tivesse caído um bloco de cimento em cima. Mas não podia ser verdade, devia tê-lo imaginado.

No entanto, quando olhou para di Salle apercebeu-se de que não era coisa da sua imaginação.

Sienna e ele... Casados.

A viver juntos durante seis meses.

Tinha de ser uma brincadeira.

– Não pode estar a falar a sério – conseguiu dizer, depois de pigarrear.

– O seu pai mudou o testamento um mês antes de morrer. Se não estiverem casados durante o tempo estipulado, a propriedade passará para um parente afastado.

Ele sabia muito bem de que parente afastado se tratava. E também sabia como esse parente venderia rapidamente o château para pagar as dívidas de jogo. O seu pai montara-lhe uma armadilha. Pensara em tudo, para que lhe fosse impossível escapar.

– Não vou casar-me com ele! – exclamou Sienna, levantando-se de repente, com os olhos azul-acinzentados brilhantes de indignação.

Andreas olhou para ela, desdenhoso.

– Senta-te e cala-te, por favor.

– Não vou casar-me contigo.

– Alegra-me sabê-lo – Andreas virou-se para o advogado. – Tem de haver alguma forma de evitar isto. Estou prestes a ficar noivo.

O advogado levantou as mãos num gesto de derrota.

– Não há. Se um dos dois se recusar a cumprir as condições no prazo estabelecido, o outro herdará automaticamente o château.

– O quê? – perguntaram Sienna e Andreas em uníssono.

– Quer dizer que, se não me casar com ela, Sienna herdará o château de Chalvy e tudo o resto?

Lorenzo assentiu com a cabeça.

– E se se casarem e um dos dois partir antes dos seis meses, herdará o que ficar. O signor Ferrante deixou-o por escrito, de modo que não têm outro remédio senão casarem-se e viver juntos durante seis meses.

– Porquê seis meses? – perguntou Sienna.

– O meu pai deve ter pensado que, se estivéssemos mais tempo juntos, eu acabaria por cometer um homicídio – replicou Andreas.

Ela fulminou-o com o olhar.

– Ou ao contrário.

– O que acontecerá depois desses seis meses, se decidirmos casar-nos?

– Você ficará com o château e Sienna, com uma quantia.

– Quanto dinheiro? – Lorenzo mencionou uma quantia que o deixou atónito. – E recebe esse dinheiro por fazer o quê exatamente? Por fingir que é a proprietária do château da minha mãe durante seis meses? É incrível!

– Eu diria que é uma compensação justa por ter de te suportar.

Andreas virou-se para ela, furioso.

– Isto é coisa tua, não é? Tu convenceste o meu pai a alterar o testamento.

Sienna olhou para ele, desafiante.

– Há cinco anos que não sabia nada do teu pai. Nem sequer teve a decência de enviar um cartão ou flores quando a minha mãe morreu.

– E porque foste ao seu funeral se o odiavas tanto?

– Não penses que vim especialmente a Roma para isso. Estava aqui para provar o vestido que levarei ao casamento da minha irmã.

– Ah, eu ouvi falar da tua irmã gémea perdida... – disse Andreas. – Li-o nos jornais. Que Deus nos ajude se for como tu!

– Fui ao funeral do teu pai por respeito à minha mãe. Se ela fosse viva, teria ido. Ninguém poderia tê-la impedido.

Andreas olhou para ela, desdenhoso.

– Nem sequer um mínimo de decência...

Sienna levantou uma mão para o esbofetear, mas Andreas conseguiu agarrar-lhe o pulso. No entanto, o roçar da sua pele foi como uma descarga elétrica e viu-lhe um brilho nos olhos, como se ela também a tivesse sentido.

Então, aconteceu algo primário e perigoso, que não tinha nome, nem forma, mas que estava ali.

Andreas largou-lhe o pulso e, sem que ninguém se desse conta, abriu e fechou a mão para ver se os seus dedos continuavam a mexer-se com normalidade.

– Deve desculpar a menina Baker – disse ao advogado. – É famosa por fazer cenas.

– Seu canalha...

O advogado levantou-se.

– Têm uma semana para tomar uma decisão. E sugiro que pensem bem. Se não chegarem a acordo, terão muito a perder.

– Eu já tomei uma decisão – disse Sienna, cruzando os braços. – Não vou casar-me com ele.

Andreas franziu os lábios.

– Tu não renunciarias ao dinheiro.

Ela olhou para ele, desafiante, com as mãos nas ancas e os seios a subir e a descer ao ritmo da respiração. Andreas nunca sentira tanta energia sexual na vida. Estavam tão perto que podia sentir-lhe o fôlego na cara.

– Achas que não renunciaria ao dinheiro? Pois, vais ter uma surpresa, menino rico! – exclamou Sienna, antes de se virar para sair da biblioteca de cabeça erguida.