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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Emilie Rose Cunningham

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Amor em leilão, n.º 2276 - março 2017

Título original: Bending to the Bachelor’s Will

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2010

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9434-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Holly Prescott resmungou ao ver uma das suas duas melhores amigas sair do clube Caliber pavoneando-se com um solteiro recém-adquirido pendurado pelo braço.

Como é que podia ter embarcado num plano tão desastroso? Comprar homens!

O ar frio proveniente da ventoinha do tecto fê-la arrepender-se pela enésima vez do vestido que trazia. Onde é que andaria a sua cabeça quando deixou que as amigas a enfiassem num vestido que mais parecia uma peça de lingerie?

– Não me volto a fiar nem da Andrea nem da Juliana – disse Holly não se importando que a ouvissem. – Mais vinte minutos e poderei ir para casa.

– A falar sozinha? – uma voz de barítono soou atrás de si. Eric Alden, o melhor amigo do irmão de Holly, já lhe tinha dado um sermão nessa noite devido à loucura do plano.

– Estou a rogar pragas à tua irmã – Holly apressou-se a reagrupar os seus neurónios. – O vestido que ela e a minha outra maldita amiga escolheram para mim é indecente.

Os olhos azuis-escuros de Eric percorreram-na de ponta a ponta, e ela esbofeteou-se mentalmente por ter chamado a atenção dele para a sua indumentária, ou melhor dizendo, para a falta dela. Holly endireitou-se, apertou os glúteos, encolheu o estômago e rezou para que ele não se apercebesse de que não levava nada por debaixo do vestido, excepto o rubor que lhe cobria a pele.

– Sem dúvida, indecente – ele deteve-se a poucos centímetros dela. – Indecentemente jeitoso.

A voz rouca e a proximidade fizeram com que o coração de Holly se contraísse e um enorme arrepio percorreu todo o seu corpo. «Espera aí. É o irmão da Juliana». O irmão formal, viciado no trabalho e destacado homem de sociedade. Essa tripla contra-indicação anulava qualquer possibilidade de formigueiro na barriga. Tentou afastar-se, mas esbarrou contra as mulheres embriagadas que estavam atrás de si.

– Estás linda, Holly. Quase não te reconheço sem o boné de basebol e as botas.

– Tu também não tens demasiado mau aspecto, Alden.

– Se isso foi um elogio – Eric forçou um sorriso, – obrigado. Posso falar contigo?

– Comigo? – ela olhou para um lado e para o outro e deparou com os olhares de várias mulheres, incapazes de ignorar o herdeiro de um império bancário. – Claro.

Eric segurou-a por um cotovelo, e cada um dos seus longos dedos provocou uma queimadura na sua pele. Guiou-a até um dos extremos do salão, onde o nível de ruído era algo menor, e soltou-a. Os ombros largos encurralaram-na contra a parede.

– Porque é que me dás graxa com tantos elogios? – perguntou ela antes que ele pudesse dizer alguma coisa. Com o seu metro e setenta e sete de estatura, e os dez centímetros de salto, não precisava mais do que levantar um pouco a vista para se colocar à altura dos olhos de Eric.

Uma expressão de desgosto surgiu brevemente no rosto atractivo de Eric.

– Preciso de um favor.

Pois claro. Porque é que os homens não podiam dizer-lhe algo agradável sem terem um motivo oculto para isso? Holly obrigou as suas hormonas a voltarem ao lugar e tentou aclarar as ideias.

Que tipo de favor? – ela olhou por cima do ombro de Eric, para o palco. O solteiro pelo qual iria licitar era aquele e, se tudo corresse bem, em breve seria o solteiro de outra.

– Compra-me.

– Desculpa? – ela fulminou-o com o olhar. Certamente não ouvira bem entre tanta gritaria.

Holly deu um passo atrás, embatendo contra a parede. O frio painel de madeira lembrou-lhe que o vestido a deixava com as costas nuas.

– Salva-me! – pediu ele enquanto apontava a cabeça para o palco.

Por que raio é que precisaria de salvação? Holly não sabia o que é que incluía o seu pacote de encontros, mas a sua mera companhia bastaria para conseguir uma oferta elevada. Eric era rico e atractivo, para quem não se incomodasse com os tipos conservadores e rígidos dos quais ela sempre tinha fugido.

– Porquê eu?

– Porque não procuras um marido rico.

– Ámen – não seria um encontro nada aborrecido. Mas Holly não queria um engate. Mesmo que pudesse permitir-se comprar um solteiro, não poderia sair com o irmão da sua melhor amiga.

– Não posso, Eric. Já escolhi o meu. De modo que respira fundo e sobe ao palco.

Eric acariciou o ombro de Holly cujos mamilos, malditos, se endureceram, algo que a seda não foi capaz de ocultar. Envergonhada, cruzou os braços.

– Holly, por favor. Dou-te o que quiseres. Mas salva-me deste ridículo espectáculo no qual a minha mãe me obrigou a participar.

«Espectáculo», como o casamento falhado. A noiva de Eric abandonara-o uns meses antes. O evento social do ano tinha acabado no desastre do ano quando a futura esposa o deixara, de maneira irreflectida, literalmente plantado no altar após proferir uns quantos insultos perante os convidados do casamento.

– Que diria a tua mãe se acabasses comigo?

– A minha mãe inscreveu-me sem o meu consentimento, de modo que a sua opinião é irrelevante.

Holly lutava entre a simpatia que Eric lhe despertava e o desejo de escapar. Sentia um fraquinho pelos tipos em desgraça. E tinha jurado não voltar a ter alguma coisa a ver com eles.

O vice-presidente do Alden Bank and Trust, o maior banco privado da região, representava tudo aquilo de que ela tinha fugido. Ostentação. Snobismo. Expectativas que ela era incapaz de satisfazer.

«Vá lá, Holly, não me digas que o vais deixar à mercê das piranhas?», disse uma voz dentro de si.

– A tua irmã não voltaria a dirigir-me a palavra. Prometi-lhe que licitaria pelo «ilumina a tua noite com Franco, o bombeiro».

– Conheci o Franco no vestuário – a boca de Eric ficou tensa. – É mais baixinho do que tu e possui o coeficiente intelectual de uma pedra. Aborrecer-te-á até à exaustão.

– Não tenho intenção de namorar com o Franco – por que nunca teria reparado na sensualidade daqueles lábios ou daquelas pestanas? E, sobretudo, porque reparava nisso logo agora?

– Então – Eric examinou novamente o vestido, muito, muito devagar, com uma expressão de surpresa, especulação e algo mais, – para que é que o vais comprar? Como garanhão?

Holly abriu a boca de espanto e corou. O orgulho enfureceu-a.

– Pensas que preciso de comprar um homem para ter sexo? Pode ser que eu não seja tão elegante nem escultural como as raparigas com as quais costumas andar, mas não me corre mal a vida.

– Eu não disse isso – ele afastou-se e apertou os lábios.

– Para tua informação – Holly juntou o que lhe restava de dignidade, – a Juliana, a Andrea e eu queríamos apoiar este acto benéfico. Bom, isso não é bem verdade. A tua mãe – disse enquanto lhe dava golpezitos no peito com o indicador, – a organizadora, ordenou que o fizéssemos. De modo que as três decidimos investir esta noite o legado que receberemos no nosso trigésimo aniversário num solteiro – levantou a mão e desejou não o ter roçado. – Mas aqui vai a melhor parte. Estabelecemos uma quantidade limite. O bombeiro será comprado por uma quantidade superior e então ficarei livre. Não haverá solteiro. E não terei quebrado nenhuma promessa.

– E o que é que acontece se ninguém oferecer mais dinheiro?

Então teria de sair com um tipo com mais músculo do que cérebro. E, pior ainda, a sua situação financeira passaria a ser muito delicada.

– Hão-de oferecer. No ano passado posou para um calendário de bombeiros. Aposto que a maioria dessas mulheres tem uma cópia e há-de querer comprovar se o Franco realmente está à altura. Estás a ver? – o público rugiu quando o bombeiro subiu ao palco. – Adoram-no. E podem ficar com ele.

A frustração apoderou-se de Eric. Virou-se para o palco e cruzou os braços sobre o peito, tentando parecer tão impassível como um capitão que se afunda com o seu navio.

Holly agitou a cartolina sobre a sua cabeça, iniciando o que esperava que fosse uma licitação renhida. O tempo passou em câmara lenta e as licitações estagnaram alguns milhares abaixo do limite.

– Maldita sorte a minha – disse Holly sem fôlego enquanto lançava um olhar de soslaio a Eric.

O público nem se mexeu apesar das tentativas do mestre-de-cerimónias de atrair mais licitações. Ia ter de ficar com aquele tipo, mesmo não se podendo dar a esse luxo, e tudo por causa de uma promessa regada a Tequila, e do seu orgulho, que não lhe permitia admitir perante as suas amigas que precisava do dinheiro do legado para subsistir.

Agarrou a cartolina com força, mas, antes que pudesse levantá-la de novo para subir a aposta, os dedos de Eric fecharam-se com força em torno do seu pulso.

– Compra-me, Holly, e esquecemo-nos dos encontros. Reembolso-te o que pagares e poderás utilizar o dinheiro para investir nesse zoológico que tens montado.

Os cães de Holly precisavam sempre de ajuda. Eric tinha sido muito inteligente ao tocá-la no seu ponto fraco. Tinha de escolher entre recuperar o dinheiro das mãos de Eric, ou ficar com Franco e não com poucas dificuldades económicas. Em qualquer dos casos, teria de aguentar um solteiro que não desejava. Mas fazer uma obra de caridade, livrar-se dos encontros, e recuperar o dinheiro parecia uma oferta irresistível.

– Sem encontros, juras? – ela olhou-o nos olhos.

– Sim. Compra-me e, se o meu preço superar o teu limite…

– Bolas, Eric! – ela riu-se. – Não andas nada mal de ego se achas que vais superar dez das grandes.

– Devolver-te-ei a aposta, seja ela qual for – continuou ele como se ela não o tivesse interrompido.

Juliana e Andrea ficariam furiosas, mas logo arranjaria maneira de lhes fazer compreender.

– Muito bem, Eric. Vou comprar-te.

Quase de imediato, o mestre-de-cerimónias mostrou uma cópia do calendário e Franco despiu-se mostrando a tanga que tinha na foto, deixando adivinhar uma protuberância que deixou todas boquiabertas e suscitou a avalancha de apostas que Holly previra.

Holly veio-se abaixo. O preço final tinha superado o limite fixado. Se ao menos tivesse ficado livre, mas ali estava, presa a outra promessa.

 

 

– Que tal um beijo para carimbar o acordo?

A sugestão da jornalista chamou a atenção de Eric para o território proibido, a boca de Holly. O tom vermelho do batom daria a qualquer homem todo o tipo de ideias sobre o que ela seria capaz de fazer com tais lábios. Mas a Eric não lhe interessava. Não com Holly.

A julgar pela expressão boquiaberta de Holly, ela gostava tanto da ideia como ele.

– Octavia Jenkins, não brinques comigo – Holly agitou um dedo acusador para a repórter.

– Só faço o meu trabalho – Octavia fez-lhes um gesto para que se juntassem mais.

– Conhece-la? – perguntou Eric enquanto abraçava a cintura de Holly com um braço para fazer uma foto sem a qual, aparentemente, não os deixariam sair dali. A mão encontrou a pele cálida e nua das suas costas. Rapidamente, deslizou-a até à anca, tapada pelo vestido, mas que não conseguia dissimular o calor do corpo.

– É uma das minhas alunas – respondeu Holly em voz baixa.

Holly, uma pintora de vitrais, dava aulas para financiar os cuidados e a alimentação da sua enorme colecção de mascotes.

– Vai trazer-nos problemas?

– Não se eu os puder evitar – sussurrou Holly através do sorriso forçado dirigido ao fotógrafo.

– Vá lá, queridos, não estão num pelotão de fuzilamento. Um beijo para a câmara.

Beijar Holly parecia mais atractivo do que devia. Eric atribuíu a culpa ao vestido sedutor e aos saltos altos vertiginosos. Ela sempre fora uma maria-rapaz, vestida com calças de ganga ou enormes camisolas. Nunca tinha sido uma rapariga feminina. Mas nessa noite não havia dúvida de que era toda uma mulher. Uma mulher generosamente dotada. O olhar azul deslizou da curva branca e suave dos peitos até à boca.

– Nem penses – ripostou Holly com a cara corada e os olhos castanhos lançando faíscas.

Tão repulsiva lhe parecia a ideia de beijá-lo que nem sequer podia tolerar um beijo inocente que acalmasse a repórter?

Eric reparou, pela primeira vez, na perfeita manicura, a condizer com o batom dos lábios e as unhas dos pés. Não se lembrava de alguma vez ter visto Holly maquilhada, e sem dúvida que nunca a tinha visto fazer nada de especial com o seu desgrenhado cabelo acobreado. Mas nessa noite levava-o penteado num caótico emaranhado de caracóis, dando-lhe o aspecto de ter acabado de deixar o seu amante no leito.

E o seu cheiro… respirou fundo. Cheirava como uma mulher que não utilizava colónia para mascarar o seu aroma natural.

A repórter convenceu-os a aproximarem-se mais ainda. Holly lançou um olhar furioso ao fotógrafo.

– Tem três segundos para fazer a foto antes que nos piremos daqui.

Soou o disparo da câmara.

– Desculpem-nos – disse Eric enquanto agarrava Holly pelo cotovelo e a empurrava para a saída.

– O seguimento dos vossos encontros vai ser o mais importante desta reportagem – Octavia seguiu-os. – Holly, pensa em todo o trabalho que te proporcionará. Considera-o como uma propaganda gratuita. E já que somos amigas, tenho direito a conhecer o resultado dos vossos encontros.

A última frase soou como uma ameaça para Eric, mas antes de poder pedir à jornalista um esclarecimento, Holly praguejou. Atrás de si, a gritaria tornou-se ensurdecedora.

– Olha, Octavia – Holly apontou para o palco, – vão sacrificar outro solteiro. Boa noite.

Holly saiu do local e encaminhou-se com passos vacilantes sobre a relva para o campo de golfe. Eric seguiu-a para falar sobre o reembolso do dinheiro.

De repente, ela parou e dobrou-se pela cintura com tanta brusquidão que esteve a ponto de cair de cabeça. Eric segurou-a pelas ancas e o traseiro dela afundou-se contra a entrecoxa dele enquanto tirava os sapatos. A postura fez toda a classe de provocações às hormonas do homem, que a soltou de imediato e se afastou uns centímetros.

Não ia para a cama com uma mulher desde que Priscilla o abandonara quatro meses atrás. Não porque ainda guardasse luto pela sua ex-namorada ou pela relação falhada, mas porque a fusão entre Alden e Wilson, outro grande banco privado, não lhe tinha dado tempo para isso.

Holly ergueu-se com os sapatos na mão e retomou a marcha. Ao chegar às bancadas situadas ao lado do buraco dezoito, sentou-se, e de imediato se levantou, como se tivesse sido impulsionada por uma mola, levando uma mão ao traseiro.

– Estou molhada.

O coração de Eric estremeceu contra o peito.

– Por culpa do orvalho da bancada, Casanova – ela deu-lhe um golpezito no estômago.

Eric não se sentiu desiludido, quando muito, envergonhado. Aos trinta e seis anos não devia ser tão transparente, nem emocionar-se tão facilmente. Além disso, tratava-se de Holly, uma maria-rapaz desbocada, a irmã mais nova de Sam e de Tony. Existia uma regra não escrita entre amigos. Ele não se envolvia com as irmãs deles e eles não andavam com a sua. Apesar do seu metro e noventa e cinco e os seus noventa e nove quilos, não queria enfrentar-se com os irmãos de Holly por algo que podia evitar.

Além disso, o clube Caliber tinha uma das contas mais importantes do banco Alden. Zangar-se com os Prescott poderia custar muito caro à empresa Alden.

Holly virou-se e ofereceu-lhe uma imagem nítida do tecido húmido pegado ao seu traseiro perfeito. Não se viam marcas de roupa interior. Eric reprimiu um gemido, tirou o casaco do fraque e estendeu-o sobre a bancada. Após um momento de dúvida, ela sentou-se e olhou-o nos olhos.

– Temos um problema.

– Além da repórter? – e da atracção involuntária e indesejada por Holly.