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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

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28001 Madrid

 

© 2016 Lynne Graham

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Noiva Inadequada, n.º 1731 - novembro 2017

Título original: Leonetti’s Housekeeper Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-665-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Gaetano Leonetti estava a ter um péssimo dia. Tudo começara ao amanhecer, quando o telemóvel tocara e começara a mostrar-lhe uma sequência de fotos que o tinha enfurecido, mas que sabia que enfureceria ainda mais o seu avô e a administração conservadora do banco de investimentos Leonetti. Infelizmente, livrar-se da mulher responsável pela história no deplorável tabloide era a única satisfação que poderia esperar receber.

– Não é por culpa tua – disse-lhe Tom Sandyford, o advogado de meia-idade e amigo, num tom dócil.

– É claro que a culpa é minha – protestou Gaetano. – Foi na minha casa, na minha festa e foi a mulher na minha cama, na ocasião, a organizadora da maldita festa…

– Tu não sabias que essa estrela da TV, a Célia, usava cocaína – recordou Tom. – Ela não foi retirada da série depois de tu a deixares?

Gaetano assentiu e cerrou mais os seus dentes brancos e perfeitos.

– Foi um caso de azar, isso é tudo – opinou Tom. – Não podes pedir aos teus convidados que apresentem as suas credenciais com antecedência e, portanto, não tinhas como saber que alguns deles não eram fiáveis.

– Fiáveis? – repetiu Gaetano, com o seu belo rosto a contrair-se num esgar inquiridor. Embora nascido e criado na Inglaterra, o italiano fora o idioma do seu lar e, ocasionalmente, ainda se deparava com palavras e frases em inglês com as quais não estava familiarizado.

– Cidadãos decentes e idóneos – reformulou Tom. – Então, algumas das mulheres eram prostitutas? Bom, no mundo privilegiado em que tu te moves, como irias descobrir isso?

– A imprensa descobriu – replicou Gaetano num tom sério.

– Com a costumeira e tola manchete «Orgia na Mansão». Tudo será esquecido em cinco minutos. Se bem que aquela loura a dançar nua na fonte da frente seja memorável. – Tom voltou a examinar o jornal com interesse renovado.

– Não me lembro de tê-la visto. Deixei a festa cedo porque tinha um voo para Nova Iorque. Por essa altura, estava todos ainda com as suas roupas – disse Gaetano secamente. – Realmente não preciso de outro escândalo como este.

– Os escândalos parecem perseguir-te. Presumo que o velho e a administração do banco estejam zangados, como de costume – comentou o advogado com simpatia.

Gaetano comprimiu os lábios cheios e másculos numa silenciosa concordância. Em nome da lealdade e do respeito da família, estava a levar um golpe no seu férreo orgulho e na sua ambição por causa do escândalo. Deixar Rodolfo, o avô de 74 anos, ralhar com ele como se fosse um rapaz travesso mostrara-se uma péssima experiência para um bilionário cuja consultoria em investimentos era procurada por governos tanto no Reino Unido quanto no exterior. E quando Rodolfo enveredara pelo seu sermão favorito quanto a Gaetano ser um mulherengo, este tivera de respirar fundo várias vezes e resistir à vontade de apontar ao avô que as expectativas e valores tinham mudado desde a década de 1940, tanto para os homens como para as mulheres.

Rodolfo Leonetti casara-se com a filha de um humilde pescador aos 21 anos e, durante os seus cinquenta anos de casamento feliz, nunca olhara para outra mulher. Ironicamente, o seu único filho, pai de Gaetano, Rocco, não aceitara o conselho do pai sobre os benefícios de casar cedo. Rocco fora um playboy notório e um jogador incorrigível. Casara-se com uma mulher suficientemente jovem para ser sua filha quando tinha cinquenta anos, fora pai de um filho e falecera dez anos depois ao exceder-se na cama de outra mulher. Gaetano pensava que andava a pagar pelos pecados do pai quase desde a hora do seu nascimento. Aos 29 anos, e sendo um dos mais proeminentes banqueiros mundiais, estava cansado de ser continuamente forçado a provar o seu valor e de confinar os seus projetos às expectativas estreitas da administração. Fizera o Banco Leonetti ganhar milhões, por isso merecia ser o presidente.

De facto, o sermão de Rodolfo naquela manhã deixara Gaetano ultrajado.

– Nunca serás presidente deste banco enquanto não mudares o teu modo de vida e te casares, tornando-te um respeitável homem de família! – vociferara o avô furioso. – Não apoiarei o teu nome para CEO junto da administração. E nem importa o quão genial tu sejas, Gaetano, a administração segue sempre o que eu digo. Todos se lembram muito bem de como o teu pai quase afundou o banco com as suas aventuras arriscadas!

Em termos realistas, o que poderia ter a ver a vida sexual de Gaetano com o seu conhecimento e experiência como banqueiro? Desde quando uma esposa e filhos eram a medida do julgamento e da maturidade de um homem?

Ele não tinha a menor intenção de casar-se. Na verdade, estremecia perante a ideia de ficar preso a uma mulher para o resto da sua vida, enquanto vivesse com medo de um divórcio que poderia privá-lo de metade das suas finanças. Era do tipo que trabalhava arduamente. Obtivera as suas qualificações académicas com louvor nas instituições de maior prestígio internacional e, desde então, as suas conquistas tinham sido imensas. Não seria isso suficiente? Em comparação, o pai fora academicamente lento e um rapaz mimado que, como Peter Pan, se recusara a crescer. Era injusto que o comparassem a ele.

Tom observou Gaetano com ar irónico.

– Voltaste a levar com o velho sermão de «encontra uma rapariga comum»?

– Uma rapariga comum, não uma rapariga dada a festas, uma que sinta prazer nas coisas simples da vida. – Gaetano repetiu as palavras do avô porque os seus discursos chegavam sempre à mesma conclusão: casar, formar uma família, ter filhos com uma mulher que amasse o lar… e o mundo estaria miraculosamente nas mãos de Gaetano com unicórnios felizes a dançarem no horizonte emoldurado por um arco-íris. Os traços do seu rosto bronzeado endureceram com cinismo. Vira como essa fantasia funcionara para amigos que tinham sido casados e agora eram felizes e divorciados.

– Talvez pudesse viajar no tempo até 1950 para encontrar essa rapariga comum – gracejou Tom e perguntou-se como a era da libertação feminina e das mulheres de carreira tinha passado tão despercebida a Rodolfo Leonetti, que acreditava que mulheres totalmente submissas ainda existiam.

– O melhor é que, se eu aparecesse com uma rapariga comum e anunciasse que ia casar-me com ela, o Rodolfo ficaria perplexo – disse Gaetano com impaciência. – Ele é demasiado snob. Infelizmente, encontra-se tão obcecado pela certeza de que preciso de casar que está a impedir a minha ascensão no banco.

A sua assistente pessoal entrou no escritório e entregou-lhe dois envelopes.

– O fim do contrato com base na cláusula de confidencialidade que foi quebrada e o aviso para deixar as acomodações que são inerentes ao emprego – especificou ela. – O helicóptero está à sua espera no alto do prédio, senhor.

– O que está a acontecer? – indagou Tom.

– Vou até Woodfield Hall para demitir a governanta que entregou aquelas fotos à imprensa.

– Foi a governanta? – Tom estava surpreendido.

– O nome dela é citado no artigo. Não é muito inteligente – apontou Gaetano secamente.

Poppy saltou da sua bicicleta, apoiou-a no suporte e entrou no mercado do vilarejo para comprar leite. Como de costume, estava atrasada, mas não podia beber café sem leite e não se sentia devidamente acordada enquanto não tivesse bebido pelo menos duas chávenas. A sua cabeleira de cachos ruivos batia-lhe no pulôver preto e os seus olhos verdes brilhavam.

– Bom dia, Frances – disse alegremente para a mulher mais velha de ar sisudo atrás do balcão enquanto tirava dinheiro da carteira para pagar.

– Estou surpreendida que esteja tão contente esta manhã – comentou a dona do mercado, num tom sugestivo.

– E por que não estaria?

A mulher mais velha colocou um jornal bastante manuseado no balcão e virou-o para que Poppy pudesse ler a manchete. Ela empalideceu, desalentada, e agarrou no jornal. Virou a folha com impaciência para a página seguinte apenas para soltar um grunhido face à foto familiar da loura nua a dançar na fonte. O seu irmão, Damien, decididamente tirara aquela foto na noite da infame festa. Ela sabia, porque o apanhara a mostrar a foto aos amigos.

– Ora, tendo em conta o que a sua mãe andou a dizer… – comentou Frances. – Acho que o sr. Leonetti não vai gostar nada disto…

O olhar de ávida curiosidade da mulher cruzou-se com o seu e Poppy pagou rapidamente o jornal e deixou o mercado. Aquela foto? Como, afinal, chegara ela ao jornal? E quanto às outras fotos? As pessoas que, felizmente, não eram possíveis de serem identificadas num dos quartos? Quando chamado para juntar-se à festa por um convidado embriagado, Damien tirara outras fotos e ainda mais arriscadas? E a sua mãe… que insanidade a levara a arriscar o emprego ao falar mal do patrão a jornalistas de um tabloide? Poppy apertou os lábios e deixou os ombros caírem enquanto se montava na bicicleta. Infelizmente, sabia por que a mãe fora tão insensata: Jasmine Arnold era alcoólica.

Um dia, levara a mãe a uma reunião dos AA. Fizera-lhe bem mas não conseguira levá-la uma segunda vez. Em vez disso, Jasmine bebia muito todos os dias, enquanto Poppy lutava para fazer o serviço da mãe, assim como também o seu. O que mais podia fazer quando o facto de terem um teto sobre as suas cabeças dependia de Jasmine continuar no emprego? E, afinal, não era culpa sua que a mãe tivesse decaído tanto, até que Poppy se dera conta de como as coisas andavam mal em casa e fora morar com a família novamente?

Era uma sorte que Gaetano só visitasse a casa uma ou duas vezes por ano. Mas ele era um rapaz da cidade e a bela mansão georgiana, localizada a uma distância inconveniente de Londres, era-lhe de pouco uso ou interesse. Se ele tivesse visitado a casa com mais frequência, Poppy jamais teria conseguido esconder o problema da mãe por tanto tempo.

Ela pedalou com força para subir a colina antes de entrar velozmente no caminho de acesso a veículos de Woodfield Hall. A bonita casa tinha sido o lar dos Leonetti na Inglaterra desde o século XVIII, quando a família chegara de Veneza para estabelecer-se como próspera proprietária de terras. E se havia algo em que os Leonetti eram bons era em ganhar rios e rios de dinheiro, refletiu Poppy, ironicamente, desviando-se do desafio de pensar em Gaetano de um modo mais pessoal.

Ela e Gaetano podiam ter crescido virtualmente na mesma casa, porém não se podia dizer que tinham sido amigos. Afinal, ele tinha seis anos a mais e passara a maior parte da vida em reputados colégios internos.

Mas ela sabia que ele ficaria furioso com a publicação daquelas fotos. Era muito cioso da sua privacidade e, se a sua ideia de diversão era uma festa sexy, ela conseguia entender porquê. O desânimo dominou-a face ao problema que teria que enfrentar. Não importando quanto trabalhasse arduamente, a vida nunca parecia ficar mais fácil e havia sempre mais uma crise ao virar da esquina. Porém, como podia tomar conta da mãe e do irmão quando os instintos de sobrevivência de ambos eram tão fracos?

A família Arnold morava num apartamento que tinha sido convertido a partir de parte da estrebaria original da mansão. Jasmine Arnold, uma ruiva alta e magra de quase 50 anos, estava sentada à mesa da cozinha quando a filha entrou.

Poppy atirou o jornal para a mesa.

– Mãe? Perdeste o juízo quando te puseste a falar com um jornalista sobre aquela festa? – perguntou, antes de abrir a porta dos fundos e gritar o nome do irmão a plenos pulmões.

Damien emergiu de uma das garagens, limpando manchas de óleo das mãos com um pano sujo.

– Onde é o incêndio? – perguntou, irritado, enquanto a irmã cruzava o pátio para cumprimentá-lo.

– Deste as fotos que tiraste naquela festa a um jornalista? – O tom dela era de incredulidade.

– Não, não dei – defendeu-se o irmão. – A nossa mãe sabia que elas estavam no meu telemóvel e vendeu-lhas. Conseguiu uma boa maquia pelas fotos e entrevista.

Poppy estava ainda mais espantada. Poderia desculpar ingenuidade ou descuido em falar com a pessoa errada, mas era um choque saber que a mãe recebera dinheiro em troca da sua deslealdade para com o seu empregador.

Damien soltou um grunhido face à expressão no rosto dela.

– Ouve, tu já sabes que a nossa mãe é capaz de qualquer coisa para conseguir dinheiro para comprar bebida. Eu disse-lhe para não entregar as fotos, nem conversar com o tipo, mas ela não me deu ouvidos…

– Porque não me contaste o que ela fez?

– O que poderias fazer? Esperei que talvez as fotos não fossem usadas ou que, se fossem, ninguém importante as visse – admitiu Damien. – Duvido que o Gaetano pare para ler cada história tola que é escrita a seu respeito… Quero dizer, ele nunca sai dos jornais!

– Mas, se estiveres enganado, a nossa mãe será despedida e nós seremos expulsos do apartamento.

Damien não era do tipo que se preocupava com hipóteses e afirmou:

– Vamos esperar que eu não esteja enganado.

Mas Poppy saíra ao falecido pai e preocupava-se. Era difícil de acreditar que havia apenas poucos anos que os Arnold tinham sido uma família estável e feliz de quatro membros. O pai fora o jardineiro de Woodfield e a mãe, a governanta. Aos 20 anos, Poppy estivera durante dois anos a fazer um curso de enfermagem e Damien completara o seu curso de aprendiz de mecânico. E, então, repentinamente, o adorado pai de ambos falecera e a vida deles virara-se do avesso graças a esse cruel golpe do destino.

Poppy interrompeu o curso para tentar ajudar a mãe a enfrentar a pior parte da dor e, então, retomou os estudos. Infelizmente e sem seu conhecimento, as coisas já estavam desajustadas a essa altura. A mãe saiu dos eixos e Damien não conseguiu lidar com o que acontecia em casa. Ele começou a andar com más companhias e foi parar à prisão. Foi quando Poppy, por fim, voltou para casa e encontrou a mãe mergulhada na depressão e a beber muito. Ela suspendeu o curso, esperando que a mãe recuperasse rapidamente. Mas, isso não aconteceu. Embora Jasmine ainda bebesse, o único consolo de Poppy foi que, depois de conquistar a liberdade com pena reduzida da prisão por bom comportamento, o irmão mais novo se recuperou. Lamentavelmente, porém, a ficha criminal de Damien impediu-o de arranjar um emprego.

Ela ainda se sentia terrivelmente culpada pelo facto de ter deixado o irmão a viver com a mãe depressiva. Determinada a seguir a sua carreira e a ser a primeira mulher dos Arnold, em gerações, a não ganhar o seu sustento a servir os Leonetti, fora egoísta e sem consideração e, desde então, tentava redimir-se desse erro.

Quando voltou ao apartamento, a mãe estava trancada no próprio quarto. Contendo um suspiro, muniu-se dos seus apetrechos de trabalho e luvas de borracha e caminhou na direção da mansão. A cada semana, dedicava-se a aposentos diferentes da imensa casa, aspirando o pó, limpando e esfregando. Era irónico que fosse tão avessa a trabalhar para os Leonetti quando era adolescente, mas que, de qualquer modo, tivesse acabado por fazê-lo, mesmo que de maneira não oficial. À noite, servia copos no pub local. Não havia tempo na sua vida para lamentar-se, porque havia sempre mais um serviço para fazer.

De um modo desconcertante, no entanto, não conseguia tirar Gaetano Leonetti da cabeça. Era o único rapaz que já odiara, mas também o único que amara. O que dizia isso a seu respeito? Evidentemente que, aos 16 anos, fora tola por imaginar que poderia ter algum tipo de relação pessoal com o rico e privilegiado primogénito da família Leonetti. As palavras cortantes que Gaetano lhe dirigira tinham-na magoado e deixado profundas cicatrizes.

Não me envolvo com a criadagem – dissera ele, enfatizando o facto de não serem iguais e de que sempre pertenceriam a estratos sociais diferentes.

Para de fazeres-te a mim, Poppy. Estás a portar-te como uma oferecida. – Oh, como ela estremecera perante aquela interpretação do seu comportamento quando, na verdade, era então apenas demasiado jovem e inexperiente para saber ser subtil. Ela só queria dar a entender que, caso ele estivesse interessado, ela estava disponível…

És uma ruiva baixa e «cheiinha». Nunca poderias ser o meu tipo.

Tinham-se passado sete anos desde aquela conversa humilhante e, tirando um encontro final tenso, ela nunca mais vira Gaetano, procurando sempre evitá-lo quando ele era esperado na mansão. Assim, ele não sabia que ela emagrecera e ganhara alguns centímetros de altura. Não que ele fosse ligar a isso, pensou irónica. Afinal, Gaetano gostava de damas lindas e sofisticadas vestidas com roupas de alta-costura. Se bem que a anfitriã da tal festa chocante e frenética estava longe de ser uma dama, no verdadeiro sentido da palavra.

Após algumas horas de trabalho na mansão, tendo o cuidado de deixar tudo preparado para qualquer visitante que pudesse aparecer inesperadamente, Poppy voltou para casa. Tinha de mudar de roupa antes de seguir para o seu emprego no bar. Jasmine estava a dormir na sua cama, com uma garrafa vazia de vinho barato ao lado. Observando-lhe a figura curvada, ela conteve um suspiro, lembrando-se da mulher dinâmica e carinhosa que a mãe fora outrora. O álcool roubara-lhe tudo. Jasmine precisava de ajuda especializada e de uma clínica de reabilitação, mas nem sequer havia psicólogos disponíveis no sistema público local e Poppy não tinha a esperança de ganhar dinheiro suficiente para pagar um tratamento particular para a mãe.

Ela vestiu as roupas góticas que, outrora, usara como uma máscara de proteção, quando fora uma adolescente vítima de bullying. Implicavam com ela na escola por estar um pouco acima do seu peso ideal e por ser ruiva. Ora, sofrera bullying até por ser «rica», embora a sua família vivesse nas acomodações destinadas aos criados da mansão. Desde então, embora não tivesse voltado a pintar o cabelo, nem pintado as unhas de preto, passara a apreciar um toque de individualidade no seu guarda-roupa e mantivera o estilo básico. Perdera bastante peso desde que começara a trabalhar em dois empregos e estava convencida de que as roupas de estilo gótico eram boas para esconder a sua magreza. Para o trabalho, combinara uma saia vermelho-escura com uma t-shirt preta estampada com rock’n’roll. O traje emoldurava-lhe os seios arredondados, realçava-lhe a cintura e acentuava-lhe o comprimento das pernas.

No fim do turno no bar, um sítio movimentado que funcionava em conjunto com um restaurante popular, Poppy vestiu o casaco e esperou do lado de fora até Damien aparecer na sua moto.

– O Gaetano Leonetti chegou de helicóptero no início da noite – disse o irmão. – Ele exigiu ver a nossa mãe, mas ela estava apagada e tive de fingir que estava doente. Ele entregou dois envelopes dirigidos a ela e eu abri-os, depois de ele sair. A nossa mãe foi despedida e temos um mês para deixar o apartamento.

Um gemido angustiado de desespero soltou-se dos lábios de Poppy.

– Acho que ele viu o jornal. – Damien fez uma careta. – Está visto que não perdeu tempo a pôr-nos fora.

– Podemos culpá-lo por isso? – perguntou ela, embora sentisse um aperto no peito. Para onde iriam? Como viveriam? Não tinham economias para emergências. A mãe consumia quase tudo o que ganhava em bebida e Damien estava sem trabalho.

playboy

Um silêncio eletrizante envolveu-os e, inquieta, Poppy passava o peso do corpo de um pé para o outro. O seu corpo esguio estava tenso enquanto o examinava. Mais alto e mais forte do que fora, Gaetano parecia ainda mais bonito do que há sete anos, quando ela se apaixonara perdidamente por ele. Fora uma rapariga tonta, admitiu com pesar, mas não havia como negar que tivera bom gosto, porque ele era incrivelmente bonito, como poucos homens. Sentiu um formigueiro na pélvis, o que a levou a pressionar as coxas, logo seguido de calor por toda a pele. Os olhos cor de mel dele, rematados por sobrancelhas grossas, fitavam os dela com uma intensidade que a fez contorcer-se por dentro. Ele tinha as pestanas mais longas e espessas de que ela se lembrava, uma moldura perfeita para os bonitos olhos de felino.

– Ainda moras aqui com a tua mãe e o teu irmão?

– Sim. – Poppy lutou para banir a névoa que envolveu por breves instantes o seu cérebro. – Deves estar a perguntar-te por que vim ver-te a esta hora. Trabalho no bar Flying Horseman e terminei há momentos o meu turno.

Gaetano estava agradavelmente surpreendido por ela ter conseguido dizer duas frases inteiras sem acrescentar os comentários irreverentes que, no passado, eram a sua marca. Era evidente que agora estava atenta a cada palavra que lhe dizia. Trabalhava a servir copos? Presumia que aquilo explicava a roupa dela, que parecia mais adequada a um clube noturno.

– Vi o artigo no jornal. Obviamente, queres despedir a minha mãe por ter falado sobre a festa e vendido aquelas fotos. Não estou a negar que não tenhas uma boa razão para fazer isso.

– De onde vieram as fotos? – O tom de Gaetano era de curiosidade. – Quem as tirou?

Ela contraiu o rosto.

– Um dos convidados chamou o meu irmão para a festa quando o viu lá fora a arrumar carros. Ele fez o que imagino que a maioria dos jovens faria quando visse mulheres quase nuas: tirou fotos com o telemóvel. Não estou a desculpá-lo, mas o meu irmão não vendeu as fotos. Foi a minha mãe que lhe apanhou o telemóvel e fez isso.

– Presumo que verei a tua mãe pessoalmente amanhã, antes de ir-me embora. Mas pergunto agora: a minha família sempre tratou bem a tua mãe. Por que fez ela isto?

Poppy respirou fundo e ergueu o queixo, preparando-se para o que tinha a dizer.

– A minha mãe é alcoólica, Gaetano. Ofereceram-lhe dinheiro e isso bastou. Tudo que ela pensou foi, provavelmente, que poderia comprar mais bebida. Receio que ela, atualmente, não possa consiga pensar em mais nada para além disso.

Perplexo, Gaetano franziu as sobrancelhas. Não estava preparado para aquela revelação, embora esta não significasse uma mudança na sua atitude. A deslealdade não era uma falha que pudesse admitir num funcionário.

– Então, a tua mãe deve ser uma alcoólica que faz tudo normalmente. Porque a casa parece em bom estado.

– Não, ela não faz tudo normalmente. – Poppy suspirou e apertou os lábios cheios. – Faço o trabalho dela há mais de um ano. Eu é que tenho tomado conta deste lugar.

O rosto dele endureceu.

– Por outras palavras, houve uma ação concertada para me enganarem quanto ao que estava a acontecer aqui. – A condenação continha uma frieza que a abateu. – A qualquer momento, poderias ter-me procurado e pedido a minha compreensão e até a minha ajuda. Ainda assim, escolheste não fazê-lo. Não tenho tolerância para a mentira, Poppy. Esta reunião está terminada.

Com uma centena de pensamentos diferentes a cruzarem-lhe a mente, ela encarou-o. O nervosismo e a consternação faziam o seu coração disparar.

– Mas…

– Nenhuma circunstância atenuante é aceite – interrompeu-a Gaetano com desdém. – Ouvi tudo o que precisava de ti e não há mais nada a dizer. Sai.