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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

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© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma proposta inesperada, n.º 1148 - outubro 2017

Título original: The Giannakis Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-374-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Ainda não eram sete horas da manhã e o sol de Maio já começava a tingir o céu de Atenas com um tom cor de laranja pálido. No entanto, para Dimitrios Giannakis, já era um dia com demasiadas horas. Na manhã do dia anterior, não precisara de ouvir o relatório da equipa médica. A expressão dos seus rostos dissera-lhe tudo o que precisava de saber.

Sentado no seu escritório, Dimitrios contemplava o telefone da sua secretária com um desprezo infinito. Não queria fazer aquele telefonema. De facto, faria qualquer coisa para não ter de o fazer, no entanto, não tinha outra opção. A sua única esperança, ou melhor dizendo, a única esperança de Poppy era Brianna Connelly. No que dizia respeito à sua filha, Dimitrios não permitia que nada, e muito menos o seu orgulho ferido, se interpusesse entre a pequena e o que precisava tão desesperadamente.

Claro que não tinha muitas esperanças em conseguir que Brianna acedesse ao seu pedido. Há quatro anos, ela deixara muito claro quais eram as suas prioridades na vida: o mundo fútil e vazio da moda e as passarelas internacionais, que só se inclinavam perante a juventude e a beleza. Contudo, Dimitrios tinha de lhe pedir. Até estava disposto a suplicar se fosse necessário.

Consultou novamente o seu relógio. Eram quase sete horas da manhã, o que significava que seriam quase nove da noite do dia anterior na costa ocidental do Canadá.

Com o queixo apertado, pegou no telefone e marcou o número das águas-furtadas de Brianna, onde as suas fontes lhe tinham dito que podia localizá-la naquele momento. O tempo era fundamental, porque, no dia seguinte, Brianna podia estar a trabalhar em algum canto inacessível do deserto do Saara, nas montanhas geladas da Islândia, ou nas planícies desérticas do continente australiano. Afinal de contas, Brianna era uma modelo muito requisitada em todo o mundo e era também demasiado ambiciosa para rejeitar um trabalho, para assim poder garantir a sua posição de supermodelo.

O telefone tocou três vezes e foi para o atendedor de chamadas, pedindo-lhe que deixasse uma mensagem.

– Sou eu, Dimitrios Giannakis, Brianna. Preciso de falar contigo o mais depressa possível…

– Dimitrios? – a voz ligeiramente enrouquecida e inquietantemente erótica interrompeu a mensagem e acariciou a sua orelha como um beijo.

Dimitrios fortaleceu-se mentalmente e disse num tom seco:

– Óptimo, estás em casa.

– Evidentemente – disse num tom seco. – O que posso fazer por ti?

Durante anos, Dimitrios orgulhara-se da sua própria força e da sua capacidade para conquistar o mundo, por isso, a ideia de suplicar a alguém, sobretudo a uma mulher que desprezava, era quase insuportável, porém, o destino estava a atingi-lo no seu ponto mais fraco, a sua filha, e não teve outro remédio senão engolir o sabor amargo que tinha na boca e recorrer à única pessoa que provavelmente conseguia ajudá-lo. Enfurecer Brianna Connelly poucos segundos depois de ter entrado em contacto com ela não era a melhor forma de o conseguir.

– Como estás, Brianna? – perguntou, suavizando o tom de voz.

Como estás, linda?

Muito melhor do que terias imaginado…

Dimitrios afastou umas lembranças que, naquele momento, estavam totalmente deslocadas e que, em qualquer outro momento, não teriam nenhum sentido e esperou pela resposta dela.

– Tendo em conta que não falamos há anos, não me parece que estejas muito preocupado com a minha saúde – disse. – Embora também não me pareça que tenhamos alguma coisa em comum desde a morte da minha irmã. Porque não te deixas de rodeios e me dizes o que é que queres? Amanhã tenho um voo bem cedo e preciso de dormir.

Devia ter-se apercebido de que era uma egoísta. Algumas coisas nunca mudavam.

Contudo, outras sim, pensou Dimitrios, levantando a fotografia emoldurada da sua filha, uma fotografia tirada seis meses antes, quando a doença ainda não se fizera notar no rosto dela. Com uma careta de nojo, Dimitrios fez o que tinha de fazer.

– Muito bem. Tenho de te pedir um favor e é um favor muito importante.

 

 

Quatro anos antes, Brianna jurara não voltar a pôr os pés na Grécia e, à excepção do funeral da sua irmã, Cecily, cumprira a sua promessa. No entanto, quarenta e oito horas depois da última chamada de Dimitrios, não só estava na Grécia, como estava à porta da casa de Dimitrios Giannakis, onde um motorista, que fora esperar por ela ao Aeroporto Internacional Eleftherios Venizelos, a deixara. Mudar os seus planos não fora muito difícil. Já tinha as malas preparadas para um mês de descanso nas Bermudas e a roupa que levava, na sua maioria roupa informal de Verão, também lhe serviria em Atenas.

– Posso muito bem ir sozinha do aeroporto para o hotel – dissera quando comunicara a sua hora de chegada a Dimitrios.

No entanto, Dimitrios recusara-se.

– Alguém irá receber-te e levar-te-á para minha casa, onde ficarás alojada durante a tua estadia aqui – dissera. – É o mínimo que posso fazer. Afinal de contas, estou em dívida contigo.

Para sua casa? Para a sua mansão, pensou ela, contemplando o edifício magnífico do exterior, sem ainda o ter visto por dentro. Localizada no topo de uma falésia sobre o mar Egeu e rodeada de jardins amplos e cuidados, a mansão era enorme. Até poderia dizer-se que era um palácio e Brianna estava muito habituada ao luxo. Contudo, o que esperara? Sabia que Dimitrios não era de meias medidas.

Se não estivesse tão tensa que mal conseguia respirar, provavelmente ter-se-ia desatado a rir. Embora nunca o tivesse reconhecido, a ideia de voltar a vê-lo, muito mais de viver sob o seu tecto, aterrava-a. Dimitrios destruíra o seu coração e ela demorara quase quatro anos a recuperar. Não queria deixar-se pisar uma segunda vez.

– Podias ter-te recusado – dissera o seu agente e amigo, Carter Maguire, quando Brianna lhe explicara o motivo por que tinha de cancelar todos os seus trabalhos durante algum tempo.

Por Dimitrios, sim. No entanto, como podia virar as costas a uma menina de três anos e que estava gravemente doente?

A mansão de Dimitrios ficava a uns quilómetros a sul de Rafina. O motorista, um homem taciturno que não dissera uma única palavra durante os trinta minutos de trajecto desde o aeroporto até à casa, deixou as suas malas à porta, tocou à campainha e, sem esperar que abrissem a porta, entrou novamente no Mercedes último modelo luxuoso e afastou-se.

Brianna ouviu passos no interior da casa e preparou-se mentalmente. Chegara o momento da verdade. Se fosse capaz de enfrentar a primeira reunião com Dimitrios, o pior já teria passado.

Contudo, o homem que lhe abriu a porta não era Dimitrios, mas um homem uns vinte anos mais velho do que ele, calvo e com um sorriso de orelha a orelha.

Kalispera, menina Connelly, kai kherete – disse em grego, convidando-a a entrar. – Bem-vinda! Estávamos à sua espera e estamos contentes de que esteja aqui.

Estamos contentes? Brianna percorreu o hall de mármore, nervosa, à espera de ver Dimitrios a qualquer momento, no entanto, a única coisa que viu foram vários vasos com flores e umas escadas que davam acesso ao piso superior.

– Eu sou Alexio – disse o homem, pegando na sua bagagem. – A minha esposa, Erika, e eu tratamos da casa. Erika está à sua espera no pátio com um refrigerante e depois levá-la-á ao seu quarto. Entretanto, eu vou tratar das suas malas.

– Obrigada – disse Brianna. – É muito amável.

Parakalo – respondeu o homem, descendo a cabeça. – O jantar é servido às nove horas, quando Dimitrios voltar.

– Não está em casa?

O sorriso do homem desapareceu.

– Está na clínica com a menina – explicou, levando-a até ao fundo do hall, para um pátio interior. – O senhor costuma ficar com ela até a menina adormecer. Deve chegar a casa dentro de uma hora.

No pátio, decorado com muitas plantas em vasos de barro, uma fonte de pedra e poltronas de vime muito confortáveis, havia uma mulher à sua espera, embora não fosse tão amável como Alexio. Muito pelo contrário, Erika mostrou-se fria e distante com ela.

– Sente-se uns minutos e descanse da viagem – disse a mulher, indicando-lhe um jarro de chá gelado e uma tigela de fruta que havia sobre a mesa.

As palavras da mulher pareceram mais uma ordem do que um convite, pensou Brianna, porém, como Dimitrios não estava em casa, preferiu aproveitar a sua ausência para se arranjar e sentir-se mais segura antes de o enfrentar.

– Muito obrigada, mas passei as últimas vinte e quatro horas sentada e preferia tomar um banho.

A mulher olhou para Alexio e disse alguma coisa em grego. O homem respondeu também em grego e depois olhou para Brianna, tentando relaxar a tensão que flutuava no ambiente.

– A minha esposa está preocupada porque ainda tem de desfazer as suas malas e preparar a roupa que deseja vestir para o jantar.

– Por favor, não é necessário – garantiu Brianna. – Estou habituada a viajar e posso tratar disso sozinha.

– Dimitrios não vai gostar – respondeu Erika quase com desprezo. – Deu-nos instruções para que a tratássemos como se fosse uma rainha.

– Vou certificar-me de que saiba que assim o fizeram. Agora, se não se importam, gostava de ir para o meu quarto.

– Por aqui.

O quarto que lhe tinham atribuído era muito melhor do que a melhor suíte do melhor hotel de Atenas.

Amplo e luminoso, tinha uma zona de estar e um terraço de onde se tinha uma vista impressionante do mar e dos jardins da casa. Também tinha um roupeiro muito espaçoso e uma casa de banho em mármore.

– Se precisar de alguma coisa, não hesite em dizer-nos – disse Erika.

Para além dos arranjos florais em diferentes pontos do quarto, havia uma bandeja com um jarro de água com gelo e um copo de cristal.

– Não acredito – disse ela. – Só…

– Sim?

– Mencionou uma troca de roupa para o jantar. Que tipo de roupa devo escolher?

– Alguma coisa decente – respondeu a mulher com altivez. – Alguma coisa que encaixe com o que se espera de qualquer convidado nesta casa.

Aquela resposta tão mal-educada e rude deixou-a sem fala e Brianna não conseguiu fazer mais nada senão ficar a olhar para a empregada sem saber o que responder. Alexio, tão surpreendido como ela, levou a sua esposa até à porta e obrigou-a a sair do quarto. Depois virou-se para olhar para Brianna.

– Erika não fala muito bem a sua língua – disse. – O que quer dizer é que o jantar é mais… formal do que o almoço ou o pequeno-almoço. Um vestido será o suficiente, mas, quando a senhora Giannakis era viva… – o homem mexeu-se, inquieto. – O seu marido nem sempre concordava com o que escolhia para vestir.

– Entendo perfeitamente – disse Brianna e era verdade.

A sua irmã Cecily nunca se deixara guiar por regras nem convenções que não fossem as suas próprias. A julgar pela última vez em que tinham estado juntas, Brianna tinha a certeza de que a sua irmã gémea teria aproveitado qualquer oportunidade que se apresentasse para contrariar o seu marido.

A hostilidade de Erika também era compreensível. Provavelmente, a mulher esperava que ela fosse como a sua falecida irmã, o que não era de estranhar. Afinal de contas, eram praticamente idênticas, pelo menos fisicamente, ao ponto de muita gente nunca ter conseguido distingui-las.

Como Dimitrios.

 

 

Dimitrios estava à sua espera no que Brianna pressupôs que seria a sala de estar, embora «grande sala» definisse melhor as proporções e os móveis da divisão espaçosa e elegante para onde Alexio a levara uma hora depois. Com o cabelo ainda molhado do duche, Dimitrios estava no terraço, junto da porta, com um copo na mão. A primeira coisa em que Brianna pensou quando o viu foi que se arranjara demasiado para a ocasião.

Dimitrios levava uma camisa branca de manga comprida, contudo, ia sem gravata. Levava umas calças de tecido cinzento com um corte delicioso e uns sapatos de pele. Ela, no entanto, vestira o único vestido de noite que levara, um vestido preto de seda, com um ombro nu, e que lhe chegava quase até aos tornozelos. Uns brincos de prata com diamantes minúsculos incrustados e umas sandálias pretas de salto alto completavam a imagem elegante e espectacular de quase um metro e oitenta de altura. Apesar de tudo, quando ele se aproximou para a cumprimentar, continuava a ter quase mais dez centímetros do que ela.

Brianna pensara que estava preparada, que nada do que ele fizesse ou dissesse conseguiria afectá-la, que seria capaz de suportar o seu desprezo e a sua hostilidade, e que conseguiria tratá-lo com a mesma indiferença e distância. Contudo, vê-lo novamente levou-a para o abismo de desejo doloroso que conseguira superar com bastante dificuldade anos antes.

Dimitrios continuava tão magro, tão forte e tão atraente como ela recordava e, ao vê-lo, sentiu um aperto no coração. Esquecera-se de como era alto, dos seus caracóis pretos, dos seus lábios curvados num sorriso quando alguma coisa o divertia e tentava ocultá-lo. Esquecera-se de como era ser a mulher que ele transformava no centro da sua atenção.

– Brianna, não pensei que demorássemos tanto a ver-nos, nem que seria em circunstâncias tão difíceis – disse, apertando-lhe a mão.

Na última vez em que o vira, à excepção de um encontro fugaz durante o funeral de Cecily, ele tivera-a nos seus braços e suplicara-lhe que ficasse a noite toda com ele no seu quarto. Nessa noite, ele estivera nu e excitado, sem ocultar como a desejava, apesar de terem feito amor quinze minutos antes. Ela necessitara de toda a sua força de vontade para abandonar a sua cama e voltar para o seu quarto.

Ao vê-lo novamente, precisou de muito mais para não tremer quando apertou a sua mão durante um breve momento.

– Espero ter chegado a tempo.

– Para jantar? Sim.

– Não estava a falar disso, Dimitrios – disse. – Estava a falar da tua filha. Como está?

– Poppy está na mesma – disse. – Apetece-te beber alguma coisa?

– Não sei. Posso? – perguntou Brianna.

Não costumava beber, porém, naquele momento, estava tão nervosa que um copo de vinho lhe saberia bem.

– Vamos perguntar à perita – disse Dimitrios, virando ligeiramente a cabeça para a porta do terraço. – O que lhe parece, doutora? Pode beber um copo de champanhe?

– Não vejo porque não – disse a mulher que devia ter uns trinta anos, de aspecto frágil e pequena estatura que apareceu de entre as sombras do terraço. – Um copo ou dois de vinho não vão mudar nada.

Aproximando-se de Dimitrios, a mulher entregou-lhe o seu copo de champanhe vazio.

– De facto, eu também não me importaria de beber outro – disse a mulher atraente com um sotaque britânico acentuado. – Embora seja para celebrar o facto de ter uma noite livre, o que não é muito frequente.

Loira, magra e elegante, a médica levava uma saia preta e uma blusa cor-de-rosa pálido. Ao lado dela, Brianna sentiu-se como uma amazona.

Dimitrios segurou-a pelo cotovelo e sorriu ardentemente.

– Podes beber todos os copos que quiseres – disse. Depois olhou para Brianna. – Apresento-te a doutora Noelle Manning, Brianna. É a directora da equipa de transplantes que cuida da minha filha. Pensei que seria uma boa ideia que se conhecessem o mais depressa possível, visto que ela poderá responder às tuas perguntas muito melhor do que eu. E esta – continuou, olhando para Noelle, – é a irmã da minha falecida esposa, Brianna Connelly. Talvez já tenhas ouvido falar dela.

– Já a vi em todas as minhas revistas favoritas – respondeu a mulher com sorriso sincero, estendendo-lhe a mão. – A sua cara não se esquece facilmente. Não me parece que precise de lhe dizer como fico contente por a conhecer nem como a sua decisão é importante.

Ao longo da sua carreira profissional, Brianna conhecera muitas pessoas famosas, desde duques, princesas e reis, até estrelas do cinema e cantores lendários, porém, nunca ninguém a deixara tão emudecida e coibida como aquela mulher minúscula.

– Obrigada – conseguiu balbuciar finalmente. – Espero poder ajudar.

– Em breve saberemos.

– Quando podemos começar as análises?

– Primeiro vamos dar-lhe uns dias para que recupere da viagem – disse a médica, levando Brianna para um sofá junto da lareira. Depois sentou-se à frente dela numa poltrona. – O que sabe sobre o procedimento, Brianna?

– Quase tanto como da doença da minha sobrinha, que é praticamente nada – respondeu.

– Brianna tem outras prioridades na sua vida – observou Dimitrios, servindo mais champanhe. – A anemia aplástica e os transplantes de medula óssea não estão entre os seus interesses.

– Como podes dizer isso? – perguntou Brianna, magoada pelo desdém da sua voz.

Dimitrios aproximou-se das duas mulheres para lhes entregar os copos de champanhe e depois sentou-se no sofá ao lado de Noelle Manning, tão perto que quase tocava no joelho dela com o seu.

– Sei que a minha filha vai fazer três anos no mês que vem e que ainda não a conheces.

– Expliquei-te o motivo quando falámos ao telefone.

– Só sei o que tu quiseste contar-me.

– Acho que todos sabemos que o tempo voa – interrompeu a médica de forma diplomática. – O mais importante é que agora está aqui, Brianna, e Dimitrios está profundamente agradecido – acrescentou, cravando um olhar significativo nele. – Não é verdade, Dimitrios?

– Sim – reconheceu, um pouco envergonhado. – De facto, és a nossa última esperança, Brianna.

– Não exactamente – corrigiu Noelle. – Existe sempre a possibilidade de encontrar um dador anónimo que seja compatível, mas isso demora algum tempo, e Poppy…

A médica não acabou a frase. Não era necessário. O significado estava muito claro. Poppy não tinha tempo.

– Estou disposta a começar amanhã mesmo com as análises e os testes – disse Brianna. – De facto, preferia começar o mais depressa possível. Afinal de contas, quanto mais depressa começarmos melhor, não é?

Noelle abanou a cabeça.

– Doar medula óssea não é precisamente simples, Brianna, e seria muito pouco profissional da minha parte, se não negligente, permitir que vá em frente com isto sem a informar primeiro de tudo o que isto significa.

– Se é uma questão de dinheiro…

– Não tem nada que ver com dinheiro – disse Dimitrios. – Eu vou cobrir todas as tuas despesas.

– Mas eu posso…

– Tenho a certeza de que sim.

Dimitrios era impossível. Arrogante, intransigente e, quando queria, muito desagradável. Como pudera alguma vez pensar que era um homem por quem podia apaixonar-se?

Ignorando-o, Brianna olhou para Noelle.

– Podemos falar sobre isto noutra altura e em privado?

– É claro, estava prestes a sugerir isso – disse a médica. – Amanhã, se lhe parecer bem. Mas se preferir esperar, para se adaptar ao fuso horário…

– Há anos que viajo e estou habituada a dormir nos aviões.

– Então podemos falar amanhã ao meio-dia?

– Parece-me bem.

– Óptimo. Pede ao teu motorista que a leve à clínica, está bem, Dimitrios?

Ele assentiu, olhando para o seu copo. Noelle sorriu e levantou o seu copo.

– A ti, Brianna – disse a médica, tratando-a por tu e sorrindo. – A uma longa e feliz relação com a tua sobrinha.

Dimitrios quase se engasgou ao ouvi-la.