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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Cathy Williams

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

À mercê do milionário, n.º 1144 - outubro 2017

Título original: Bedded at the Billionaire’s Convenience

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-371-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Georgie olhou para o edifício de cristal e decidiu ali mesmo e nesse preciso instante que aquela era a última vez que se deixava dominar por um impulso. Mesmo que o impulso fosse causado por motivos perfeitamente razoáveis.

A única parte aceitável da sua tortuosa viagem fora o trajecto de táxi desde a estação, onde chegara de Devon, no entanto, também acabara da pior forma, já que o taxista a deixara fora do perímetro de segurança e não lhe ligara quando lhe rogara que esperasse alguns minutos para o caso de a pessoa com quem ia encontrar-se ainda não ter chegado.

Não sabia o que fazer. O edifício parecia repleto de câmaras de vigilância e de seguranças, tudo pensado para impedir que os menos dignos entrassem no seu estabelecimento ridiculamente caro. Como se alguém que estivesse no seu juízo perfeito quisesse entrar num ginásio. De facto, a maioria dos seus conhecidos passava a vida a tentar evitá-los.

Além disso, estava muito frio. E os ruídos do seu estômago indicavam que devia comer assim que fosse possível. Comera uma sandes, mas pequena, a toda a pressa e quatro horas antes.

Respirou fundo e caminhou para a porta giratória. Eram sete e quinze e qualquer pessoa teria dito que naquele edifício só havia homens: baixos, altos e gordos. Embora, é claro, nenhum fosse o que procurava.

Georgie avistou o grupo de jovens de corpos perfeitos que estavam na recepção, num balcão de forma circular. Pensou que vigiavam a porta como cães de guarda e avançou para eles com cautela.

Não pareciam ocupados com nada importante, porém, passaram vários segundos antes que um deles, uma jovem de cabelo muito loiro e aspecto de animadora de claque, arqueasse o sobrolho e perguntasse se podia ajudá-la. Pela expressão da sua cara, Georgie teve a impressão de que o dissera sem afastar um dedo do botão do alarme.

Esteve prestes a responder que ela era professora primária e que não ia permitir que uma menina vestida com um fato de lycra a intimidasse. Contudo, respondeu de um modo bem diferente:

– Sim, espero que sim… De facto, eu…

– Quer saber se há vagas? Não há nada disponível até dentro de oito meses.

– Não, nada disso. Não vim por causa disso.

O sobrolho arqueou mais alguns milímetros.

– Então?

– Estou à procura de… um dos seus membros.

A loira soltou um suspiro longo e impaciente e olhou para o relógio.

– Receio que não possa ajudá-la. Os nossos sócios vêm relaxar num ambiente muito selecto. A última coisa de que precisam é serem incomodados por alguém que não desejam ver. Terei de lhe pedir que saia.

A recepcionista virou a cabeça para a sua chefe, que era como ela mas numa versão mais velha, e Georgie compreendeu que iam soltar a matilha. No entanto, conseguiu reunir forças e dirigiu-se à mulher mais velha, de uns trinta e tantos anos:

– Tenho de insistir que me permitam falar com o senhor Newman.

Disse-o com a sua melhor voz de professora, a que dedicava aos alunos quando queria sublinhar que as suas ordens não admitiam discussão e que estava disposta a castigá-los. Com os meninos de quatro anos nunca falhava e, certamente, a mulher ficou tensa. Contudo, um segundo depois, quando a sua reacção chegou, soube que não se devia ao seu tom de voz mas à menção do apelido.

– Refere-se ao senhor Pierre Christophe Newman?

– Surpreende-me que recorde o nome completo de um sócio. Pelo que percebi, o seu estabelecimento está completamente lotado.

Georgie não conseguira evitar o sarcasmo. Embora, na verdade, não lhe surpreendesse absolutamente. Pierre Christophe era um homem que impressionava qualquer pessoa, a não ser que tivesse crescido com ele. Em tal caso, o seu efeito não era o mesmo.

A mulher ficou nervosa, porém, controlou o seu nervosismo. Informou-a de que o Highview não estava lotado e explicou-lhe que simplesmente tentavam manter um controlo sobre o número de sócios para manter o carácter selecto do lugar.

– Alguns dos nossos sócios são pessoas extremamente importantes e ricas – afirmou. – Sabem que aqui podem relaxar, longe das suas complicações profissionais, e nós temos a obrigação de impedir que os incomodem. Nem as instalações do ginásio nem a piscina nem os outros serviços que oferecemos costumam estar cheios. De facto, nós gostamos de pensar que o Highview é um simples lugar de descanso.

Georgie ouviu a mulher com atenção e pensou que parecia um sítio aborrecido. Uma série de milionários mimados que se afastavam do mundo real, como se só pudessem relaxar quando estavam entre membros da sua classe social.

Supôs que Pierre encaixava bem naquela descrição. Recordava-o como um homem habituado a que os outros se submetessem a ele e tão rico que muito poucas vezes se aventurava a sair do seu mundo. Só tinha de estalar os dedos para que os seus desejos se cumprissem. Ao contrário de Didi.

Ao recordar o motivo que a levara a Londres, levantou uma mão e pôs um ponto final no discurso da recepcionista.

– Parece-me muito bem, mas não estou interessada em ser sócia do seu estabelecimento. Estou aqui porque preciso de falar urgentemente com Pierre. Se puder indicar-me onde posso encontrá-lo, irei eu mesma procurá-lo. Se preferir ir chamá-lo, esperarei.

– Só os sócios podem entrar nas nossas instalações.

– Então esperarei. Diga-lhe que Georgie… que Georgina precisa de falar com ele.

– Posso perguntar para quê?

– Pode perguntar, mas receio que não responderei. É um assunto de carácter pessoal.

Georgie conteve-se e não desatou a rir-se quando a mulher fez um esforço evidente por controlar a sua curiosidade. O pobre Pierre não acharia graça a que as pessoas fizessem conjecturas nas suas costas sobre algum segredo obscuro e escabroso da sua vida. Afinal de contas, sempre carecera de sentido de humor. Pelo menos, à frente dela.

Basicamente, as suas lembranças de Pierre limitavam-se ao seu talento para a desaprovação e ao seu charme, já excepcional quando ele era apenas um jovem e ela uma pré-adolescente que ainda experimentava batons e sutiãs. Naquela época, ele desaprovava tudo o que podia desaprovar-se na pequena localidade de Devon onde tinham crescido e não fazia a mínima tentativa de guardar as suas opiniões para si mesmo.

Desaprovava uma forma de vida tão lenta que roçava o estático, desaprovava os seus pais e a sua forma de ser, que lhe parecia hippie, desaprovava qualquer pessoa que não partilhasse com ele a ambição de partir dali tão rapidamente como fosse possível e de ter sucesso na cidade. Já tinham passado mais de dez anos desde que partira para Londres e as suas viagens a Devon tinham-se tornado cada vez mais raras com o tempo.

Três anos antes, quando o seu pai morrera, fora ao funeral e inclusive ficara quinze dias para se certificar de que a sua mãe estava bem. Vendera a quinta, embora com uma frieza desconcertante tendo em conta que vivera metade da sua vida nela, e comprara uma casa perto do centro da localidade para que a sua mãe pudesse ir às compras a pé. Contudo, durante esse tempo, Georgie tivera a impressão de que só desejava resolver o problema e partir para a capital. Depois, fora várias vezes visitar a sua mãe. E Georgie fazia todos os possíveis por se manter afastada do seu caminho.

Ao pensar nisso, amaldiçoou-se pela enésima vez. Era demasiado impulsiva. Lançava-se às coisas de cabeça e sem pensar duas vezes.

Então, a loira da recepção disse-lhe que enviaria alguém para ir procurar o senhor Newman. Acrescentou que tudo aquilo era terrivelmente inconveniente e particularizou que, no caso de o senhor Newman não querer vê-la, a acompanhariam para fora do edifício. Era a política da empresa.

Georgie teve de fazer um esforço para se recordar que a mulher estava apenas a fazer o seu trabalho.

Enquanto esperava numa das poltronas vermelhas que tinham disposto à volta de uma mesa, cheia de revistas que falavam das virtudes do ginásio, aproveitou a oportunidade para olhar à sua volta.

Evidentemente, estava na zona de espera que dedicavam aos mensageiros e às outras pessoas que não tinham o privilégio de poder atravessar o torniquete mágico. Atrás do balcão da recepção havia um hall com chão de mármore, uma escada que presumivelmente dava para um ginásio e um corredor. Supôs que o último dava para as piscinas e para os campos de jogos, ou inclusive para alguma sala selecta onde alguns clones da loira se dedicariam a aliviar a tensão dos executivos.

Pierre apareceu de repente e parou à frente dela com uma toalha em cima dos ombros. O olhar de Georgie passou por todo o seu corpo até chegar aos seus olhos, azuis como os do seu pai, e ao seu cabelo preto, como o da sua mãe argelina. Estava molhado e chegou à conclusão de que o interrompera enquanto nadava.

– O que estás a fazer aqui, Georgina? – perguntou, franzindo o sobrolho. – Clarice disse-me que tinhas de falar comigo urgentemente. Aconteceu alguma coisa com a minha mãe? Falei com ela no fim-de-semana passado e pareceu-me que estava bem… Bom, não fiques aí como uma múmia! O que raios se passa?

Como Georgie se mantivera longe dele durante as suas visitas a Devon, esquecera-se de como ele podia ser intimidante de tão perto.

Para começar, era um homem alto; media mais de um metro e oitenta e cada centímetro do seu corpo, dos músculos até ao seu atraente rosto, transmitia ameaça. Contudo, possuía uma beleza incrível. Tinha uma estrutura óssea perfeita e o tipo de presença que fazia com que as mulheres se virassem para olhar para ele e dar uma segunda vista de olhos.

No entanto, Georgie sempre se considerara imune ao seu estilo contundente e sensual. Nos seus olhos azuis via apenas frieza e na sua boca, crueldade subjacente.

– Não precisas de gritar, Pierre.

– Não estou a gritar. Estou a fazer-te uma pergunta perfeitamente civilizada – disse, olhando para ela com impaciência. – Não tenho muito tempo para descansar e a última coisa de que preciso é que alguém interrompa o meu descanso e nem sequer me explique a razão. Se tens alguma coisa para dizer, di-lo de uma vez!

Georgie levantou-se e olhou para ele nos olhos.

– Vejo que as coisas não mudaram. Continuas a ser o homem mais indelicado que conheci em toda a minha vida!

– Diz-me uma coisa que não saiba. Se bem me lembro, acusaste-me do mesmo ao longo dos anos e a última vez foi quando fui a Devon ao funeral do meu pai. Enquanto os outros apresentavam as suas condolências, tu dedicaste-te a acusar-me de ser desconsiderado. Mas enfim, não importa. Diz-me o que se passa.

– Não quero discutir contigo. Didi está bem. Bom, mais ou menos.

– Mais ou menos? O que insinuas?

– Há algum lugar onde possamos falar em privado? Sei que estavas ocupado com o teu exercício, mas dei-me ao trabalho de vir de Devon e… bom, foi uma viagem terrível. Atraso em Plymouth, uma sandes terrível no comboio, falhas mecânicas em todo o lado, um taxista antipático e uma série de telefonemas à tua secretária para descobrir onde te tinhas metido. Foi pior do que uma dor de dentes. Na verdade, o que se passa com a tua secretária? Devia ingressar nos Serviços Secretos.

– Natalie sabe que eu não gosto que me incomodem quando estou no ginásio.

Pierre acalmou-se um pouco e pensou que talvez estivesse a ser demasiado duro com ela. Mas Georgie irritava-o profundamente. Detestava a sua tendência para julgar os outros e a sua mania de dizer a primeira coisa que lhe passava pela cabeça sem ter dados suficientes para poder falar. Ele preferia as mulheres equilibradas, capazes de pensar com conhecimento de causa e de provocar debates saudáveis. De facto, considerava-se um homem do seu tempo e apoiava sempre as mulheres inteligentes e capazes no trabalho. Infelizmente, Georgie encontrava-se no extremo oposto da linha e, geralmente, não a suportava mais de dois minutos.

– Sim, eu percebi – disse ela. – Demorei meia hora a arrancar-lhe a informação de que precisava.

– E o que lhe disseste?

– Que me tinha casado contigo este fim-de-semana, em segredo. E deixei cair o nome de Didi para que a história fosse mais verosímil – respondeu. – Uma simples brincadeira, como vês…

– Sim, hilariante – ironizou. – No ginásio há um café. Podemos falar lá.

Pierre virou-se para trás e afastou-se. Ela seguiu-o e, dessa vez, ninguém se opôs a que entrasse no estabelecimento. Não se podia negar que aquele homem tinha influências. Caminhava e todas as portas se abriam à sua passagem. Era quase natural que se sentisse irritantemente superior aos outros.

– Admira-me que me tenham deixado entrar – disse Georgie sem fôlego, enquanto tentava acompanhar o seu passo. – Os responsáveis por este sítio são bastante desagradáveis. Recebem alguma formação especial para serem tão mal educados?

Pierre contemplou a sua cabeleira loira e reduziu o passo.

– Quase todos os sócios do clube são pessoas com vidas muito complicadas. Este é o seu santuário. Não querem que ninguém os interrompa para falar de algo relacionado com os seus trabalhos.

– E isso acontece todos os dias? Justifica ter um exército de clones loiros que se lançam ao pescoço da primeira pessoa que aparece?

– Surpreender-te-ias se soubesses como é habitual.

Pierre preferiu não dizer que as recepcionistas teriam sido menos desconfiadas se ela se tivesse apresentado com uma indumentária menos desalinhada e excêntrica. Tinha umas botas de pele, sem salto, umas calças pretas, uma espécie de poncho da mesma cor e algo vermelho, mas indistinguível, por baixo.

Quando chegaram ao café, Georgie ficou impressionada. Pelos vistos, havia dois tipos de cafés: os normais e os dos ricos e poderosos, que pertenciam a outro mundo. Aquele lugar não tinha nada de asséptico ou de industrial.

– Nunca tinha visto tanto couro preto fora de uma loja de móveis – declarou, olhando à sua volta.

Na sala, enorme, havia apenas algumas pessoas. E estavam todas a ler o jornal.

– O que te apetece beber? Café? Chá?

– Chá, obrigada.

– Aviso-te de que aqui só têm produtos saudáveis. Não servem aquelas coisas habituais nos bares.

Alguns minutos depois, Georgie estava sentada à frente de uma chávena de chá aromático. Ainda não o provara, porém, suspeitava de que saberia a água deslavada.

– Muito bem. Agora vais dizer-me o que fazes aqui, Georgie? O que quiseste dizer com aquilo de que a minha mãe está mais ou menos bem? Se está doente, não posso perder tempo com conversas sem sentido.

Pierre provou o seu café e olhou para ela com frieza por cima da chávena. Georgie tirou o poncho e ele pôde ver que o que vestia por baixo era uma camisola de cores brilhantes, onde o vermelho era apenas mais uma.

– Que linda camisola – disse ele. – Um pintor dedicou-se a dar-lhe pinceladas?

– Um, não, vários. E este é o resultado… É um presente que os meus alunos me deram no Natal passado. Se olhares mais de perto, verás que são traços de meninos de quatro anos e que debaixo de cada desenho puseram o seu nome. Adorável, não te parece?

Pierre resmungou.

– Fora do comum – particularizou. – Mas estávamos a falar da minha mãe.

– Ela está bem.

Georgie bebeu um pequeno gole de chá e deixou a chávena de lado, enojada. Nesse momento, apercebeu-se de um detalhe estranho. Embora conhecesse Pierre desde a sua infância, aquela era a primeira vez que mantinham uma conversa em privado. No passado, sempre houvera algum amigo, conhecido ou familiar perto deles e nos últimos anos tinham-se visto muito pouco, já que, quando o seu pai falecera, Didi perdera o interesse por organizar as festas que a tinham tornado famosa.

Agora reparava em coisas que ignorara. Pierre era tão arrogante como recordava, mas também vigilante, como se não houvesse movimento ou palavra que pudesse fugir da sua atenção. E isso deixava-a tão nervosa que teve de se esforçar para parar de brincar com a chávena ou com o seu cabelo.