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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Anne Oliver

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Recordação de um beijo, n.º 988 - junho 2017

Título original: Pregnant by the Playboy Tycoon

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9883-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezasseis

Capítulo Dezassete

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Steve Anderson tinha que ir dormir. E a última coisa de que precisava depois de um frustrante dia a pesquisar um problema no sistema de segurança de um cliente era que a sua eterna fantasia nocturna interrompesse o seu sono.

Mas ali estava o seu Honda Civic, estacionado à porta da casa que partilhava com a sua irmã Cindy. Anneliese Duffield, filha de um conhecido cirurgião cardiovascular de Melbourne, o doutor Marcus Duffield, era a melhor amiga da sua irmã.

E uma especialista em interromper o seu sono.

Depois de estacionar o carro na garagem, Steve passou pelo desportivo, um extravagante presente do doutor Duffield pelo seu vigésimo primeiro aniversário, e voltou a franzir o sobrolho, irritado por recordar aquele detalhe.

Mal se tinham visto nos últimos três anos. Anneliese estivera fora do país com os seus pais durante dezoito meses e ele costumava viajar muito. Nas raras ocasiões em que se haviam encontrado ela deixara sempre bem claro que não gostava da sua companhia. Mas Steve vira-a rir-se, descontraída, quando não sabia que a estava a observar… e havia algo naquela mulher, além do desejo que lhe suscitava, que o perturbara desde sempre.

Enquanto abria a porta recordou-se a si mesmo que o perturbava porque não tinha um pingo de bom senso. Era uma rapariga mimada e qualquer problema que tivesse era sempre resolvido pelo seu pai.

Mas conseguia sempre sentir o perfume que deixava no ar. Francês, imaginava, único e irrepetível, como se o fabricassem exclusivamente para ela. E talvez fosse assim. De qualquer forma, parecia imiscuir-se por baixo da sua pele, como um prurido impossível de coçar.

Anneliese e a sua irmã estavam a conversar enquanto partilhavam uma tarte de queijo, pelo que não se aperceberam da sua chegada e Steve pensou que devia continuar, ir ao seu quarto, tomar um duche. Qualquer coisa.

Mas em vez disso apoiou-se no umbral da porta para observar Anneliese.

A luz da cozinha fazia sobressair as suas maçãs do rosto. O seu cabelo, castanho avermelhado, cortado pelo queixo, emoldurava um rosto oval e o seu corpo exibia umas curvas perfeitas.

Mas eram os seus olhos que chamavam mais a sua atenção. Não eram verdes nem azuis, mas da cor das violetas num dia nublado. Uns olhos que conseguiriam persegui-lo em sonhos.

Se ele os deixasse.

Irritado porque muitas vezes não era capaz de o evitar, Steve afastou-se da porta bruscamente:

– Olá.

Anneliese voltou a cabeça, surpreendida.

– Olá, Steve – saudou-o a sua irmã.

– Dás-me um pouco de tarte? Estou a morrer de fome.

Como era de esperar, o brilho nos olhos de Anneliese arrefeceu e a sua postura tornou-se mais tensa. Mas, ao afastar a colher da boca deixou um pedaço de queijo no lábio inferior…

Incapaz de conter o desejo de incomodá-la um pouco mais, Steve apontou para o seu lábio com o dedo e viu como ela o limpava com a ponta da língua. Não parava de olhar para ele, como uma criança assustada.

Cindy, que não se apercebera de nada, saltou da cadeira para lhe dar um beijo.

– Pois claro que podes. Esperava que chegasses antes da Annie se ir embora. Espera, vou buscar um prato.

Anneliese tinha a expressão doce e inocente de uma menina e Steve teve que lutar contra as imagens inapropriadas que surgiam no seu cérebro.

– Tudo bem, Anneliese?

– Bem…

Parecia ter problemas em falar, mas o seu perfume flutuava pela cozinha como uma brisa de Verão. Trazia umas elegantes calças escuras e uma camisola suave, seguramente de caxemira. No seu cabelo castanho tinha madeixas douradas, feitas nalgum cabeleireiro de luxo, decerto.

Observava-o com uma expressão desconfiada mas, ao mesmo tempo, ergueu os ombros como se se preparasse para uma luta.

– É melhor ir-me embora.

– Não, por favor, continuem a conversar. Parecia uma conversa importante – Steve continuava a observá-la, perguntando-se como seria se Anneliese lhe sorrisse algum dia.

– Tarte de queijo e maracujá – anunciou a sua irmã, oferecendo-lhe um prato. – A tua preferida.

– Obrigado.

– E claro que a conversa é importante – disse, então, Cindy. – A Anneliese quer ir sozinha a Surfers Paradise na quarta-feira e eu estou a tentar convencê-la a não ir.

«Pois boa sorte.»

Pelo que sabia, Annie conseguia sempre o que queria. Mas concordava com a irmã, não era boa ideia uma rapariga fazer aquela viagem sozinha.

Dizia para si mesmo que não era problema seu, mas não estava a resultar.

– Imagino que o teu pai não irá achar graça nenhuma.

– Tenho vinte e quatro anos e sou perfeitamente capaz de tomar as minhas próprias decisões – respondeu ela.

Algumas pessoas nunca amadureciam, pensou Steve. Não se importaria que o seu pai pudesse precisar dela, para mais quando a sua mãe tinha morrido há cinco semanas? A Costa Dourada de Queensland era uma zona turística, não um sítio para ir pensar na vida ou fazer o luto. E Anneliese deveria ficar ali, com o seu pai, não ir para a praia.

– Algumas decisões devem ser tomadas após ter em consideração outras questões – tentava que a sua voz soasse neutra, mas tinha a impressão de não o ter conseguido.

Por um segundo pareceu-lhe ver um brilho de dor nos olhos de Anneliese, mas não teve tempo de o analisar porque Cindy interveio nesse momento.

– A Anneliese está a sofrer imenso. Por favor, sê amável com ela.

O olhar de Steve deslizou pelas curvas de Anneliese. Ser amável com ela… sim, conseguia imaginar-se a ser amável com ela de uma forma mais ardente.

– Sei que tinhas pensado ir a Brisbane na semana que vem e tive uma ideia – disse Cindy. – Se não tiveres muita pressa, tu próprio poderias levar a Annie e tomar conta dela…

Um gemido abafado escapou da garganta de Anneliese, que ficara momentaneamente sem fala.

Tal como Steve.

Cuidar de Anneliese como se fosse um guarda-costas? Irem os dois sozinhos para Queensland, provavelmente no carro desportivo de Anneliese, um carro demasiado pequeno para um homem que media mais de um metro e oitenta e cinco?

Cindy deve ter intuído a sua resposta porque olhou para ele com aquela expressão com a qual conseguia sempre o que queria.

– Por favor, Steve. Eu mesma iria, mas estou a ver se consigo ser promovida e não é boa altura para me ausentar do escritório.

Steve voltou-se para Anneliese, que parecia tão surpreendida quanto ele, mas dirigiu a sua pergunta a Cindy.

– Não achas que devias perguntar à tua amiga o que é que ela pensa acerca do assunto?

– Ela fá-lo-ia por mim. Não é verdade, Annie? Bom, então está decidido.

Ele deixou escapar um longo suspiro. Devia ter assentido com a cabeça sem se aperceber porque a sua irmã o observava com um sorriso nos lábios. Aparentemente, estava tudo decidido.

– É o meu irmão mais velho, Annie, sabes que podes confiar nele. O Steve cuidará de ti, não te preocupes.

– Não estou preocupada – Anneliese clareou a garganta e os seus olhos tornaram-se de um azul glacial. – Obrigada de qualquer forma, mas não preciso de um passageiro que me obrigue a ir a conversar durante todo o caminho. E também não preciso que ninguém me agasalhe à noite.

Steve tossiu para clarear a garganta.

– Eu não sou muito conversador. Quanto ao resto…

Os seus olhos encontraram-se e quase poderia jurar que estavam a ver a mesma imagem: dois corpos nus envoltos em lençóis amarrotados, as longas pernas de Anneliese à volta da sua cintura, suspiros impacientes a ecoar…

Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior.

«Não te desconcentres», pensou Steve. Além disso, Cindy tinha razão, Anneliese precisava de um guarda-costas.

– Tenho de instalar um sistema de segurança em Queensland, além de ter de visitar alguns clientes. Se o que te preocupa é o espaço, eu costumo viajar com pouca bagagem. Posso enviar o equipamento de que preciso por avião e… – parou ao ouvir um estrondo na lavandaria. – O que foi aquilo?

– É o Fred, o meu papagaio. A Cindy vai tomar conta dele enquanto eu estiver fora – disse Anneliese. – E eu não vou para Brisbane, vou para a Costa Dourada de Queensland.

Ele sorriu, desdenhoso.

– Tenho um horário flexível e Brisbane fica apenas a uma hora de Surfers.

Cindy apertou o braço de Anneliese.

– Eu dormiria mais tranquila se o meu irmão fosse contigo. Assim saberei que estás em boas mãos.

Steve meteu as «boas mãos» nos bolsos das calças de ganga.

– Muito bem, quarta-feira então. E quero partir às seis da manhã – disse Anneliese.

Steve viu muitas dúvidas nos seus olhos, mas limitou-se a assentir com a cabeça.

– Vemo-nos em tua casa às seis menos um quarto então. Este é o meu número de telemóvel – sem tirar os olhos dela, tirou um cartão do bolso e pousou-o sobre a mesa. – Para o caso de mudares de planos.

Anneliese levou uma mão à garganta, como se de repente tivesse problemas em respirar.

– Dêem-me licença…

 

 

Anneliese não conseguia parar de olhar para Steve. Os seus pés ficaram colados ao chão durante o que lhe pareceu uma eternidade antes de conseguir escapar para o refúgio da casa de banho.

Sem fôlego, teve que se apoiar na porta.

Steve Anderson, o irmão da sua melhor amiga. Pior, o homem que tentava evitar a todo o custo. Por que motivo tivera que aparecer precisamente naquele momento?

Desde a noite do seu vigésimo primeiro aniversário que evitava cruzar-se com ele… mas nunca o esquecera.

Pestanejou várias vezes, mas a imagem continuava lá: um homem de um metro e oitenta e cinco, com calças de ganga e botas de motoqueiro.

Tinha o cabelo castanho escuro que usava sempre demasiado longo, os olhos castanhos dourados e a pele bronzeada. E continuava a usar aquele velho colete acolchoado, uma coisa negra, sem forma, com o logótipo de um concessionário de automóveis nas costas.

Nunca o tirava? Não, não queria pensar nele a despir aquele colete porque então começaria a pensar na camisa de flanela que usava por baixo e em como seria tocar… tocar naquele peito.

Tentando conter um gemido, Anneliese inclinou-se para o lavatório para molhar a cara com água fria. Preferia morrer a sucumbir à tentação.

Quando precisava de um acompanhante para algum evento social, os homens com quem saía tratavam-na com respeito, deixando-a à porta da sua casa depois de um casto beijo no rosto. Como ela esperava. E como preferia.

Steve Anderson não se deteria no beijo. Nem na porta.

E tinha a horrível sensação de que ela também não o tentaria deter.

Era um homem… perigoso.

A sua voz rouca vibrava pelo corredor até chegar à porta da casa de banho e ouviu Cindy a rir.

Nunca mais se ia embora?

Nervosa, arranjou o cabelo em frente ao espelho, mas evitou olhar atentamente para o seu rosto porque temia o que poderia ver… um rosto ruborizado e uns olhos brilhantes que confirmariam o que passara três anos a tentar negar a si mesma. Por alguma razão inexplicável, Steve Anderson atraía-a como nenhum outro homem. Inexplicável porque não compreendia que pudesse sentir-se atraída por alguém que mudava de namorada como quem muda de camisa.

Por isso, não tencionava deixar que ele a acompanhasse naquela viagem até à outra ponta do país. Partiria na terça-feira, no dia seguinte, naquele mesmo instante se fosse preciso.

– Lamento, Cindy – murmurou. – Não me interessa que o teu irmão seja uma pessoa de confiança ou que tu estejas preocupada comigo.

Descobrir a autêntica Anneliese e recuperar o controlo da sua vida era algo que devia fazer sozinha. E também evitar homens bonitos que a fizessem perder a cabeça enquanto se procurava a si mesma.

 

 

Apenas um par de estrelas brilhavam num céu coberto de nuvens enquanto arrumava, na terça-feira de manhã, a última mala no seu carro desportivo.

– Bunnykins…

Anneliese virou a cabeça e sentiu um aperto no coração ao ver o seu pai no alpendre, em pijama, com o seu cabelo grisalho despenteado.

– Papá, está muito frio e não vestiste o roupão. Vá, volta para dentro. Disse-te ontem à noite que não me iria embora sem me despedir.

– Mas filha…

– Volta para dentro, já lá vou ter.

Enquanto o via entrar de novo em casa sentiu-se culpada e quase recuou na sua decisão. Até há cinco semanas atrás a vida corria-lhe bem, o seu mundo era seguro. Jamais imaginara que algum dia deixaria o santuário da casa dos seus pais, o único lar que conhecia, para percorrer mil e setecentos quilómetros até um sítio no qual nunca estivera.

Mas aquele mundo seguro desmoronara-se.

Toda a sua vida era uma mentira.

Os seus pais, as pessoas nas quais mais confiava, que lhe tinham ensinado que a verdade valia ouro, haviam-lhe mentido. Tinham-na traído. Embora por omissão, era uma mentira na mesma e ela tinha que descobrir a verdade.

Encontrou-o na cozinha, a preparar um chá.

– Deixa que eu faço isso – murmurou, tirando-lhe a chaleira da mão. – Deixei-te comida para doze dias, está tudo no congelador devidamente identificado. Passei as tuas camisas e a despensa está cheia.

– A tua mãe estaria tão… – o seu pai fez um gesto com a mão.

– Não, papá – os olhos de Anneliese encheram-se de lágrimas enquanto o abraçava pela última vez.

Faria o que fosse preciso para lhe evitar aquela dor, mas também ela estava a sofrer. Sofria porque ainda não podia contar-lhe a verdade sobre a sua viagem e sofria porque isso a fazia sentir-se culpada, mas tinha de o fazer e tinha de o fazer naquele momento.

– Quando voltar, falaremos – disse-lhe, afastando-se. – Tenho de ir cedo por causa do trânsito, papá. Mas terei cuidado, prometo-te.

– Sei que terás, Annie.

Parecia mais convencido do que ela própria e Anneliese deixou escapar um suspiro de alívio antes de lhe beijar o rosto. Estava prestes a dizer-lhe «amo-te», mas por alguma razão não era capaz de pronunciar as palavras que sempre conseguira pronunciar sem qualquer problema.

Anneliese pegou na mala e dirigiu-se para a porta, sem olhar para as antiguidades, os objectos de porcelana na sala, o antigo lustre da entrada. Nem sequer para o chapéu da sua mãe no cabide do vestíbulo. Especialmente aquele chapéu… uma das poucas coisas que não conseguira deitar fora quando se desfez das suas coisas.

Entrou no carro, respirou fundo e arrancou, premindo o comando que abria o portão da entrada.

Conseguiria fazê-lo?, perguntou-se. Conseguiria percorrer sozinha tantos quilómetros? Ela nunca tivera que ser independente, mas queria sê-lo, precisava de o ser e ia começar naquele mesmo instante.

O seu coração batia desenfreadamente, mas apertou o volante com força e concentrou-se em olhar para a frente…

E foi então que viu a figura de um homem no meio do caminho. À luz dos faróis viu que era um homem alto de cabelo escuro, com umas calças de ganga gastas… e um colete preto. Com um sorriso, Steve inclinou-se para apanhar uma mochila e colocá-la ao ombro.

Oh, não. Não podia ser.

Anneliese pisou o travão quando ele pôs as mãos no capot do carro, umas mãos grandes e fortes. E teve a estranha sensação de que Steve Anderson não estava a pôr as mãos sobre o capot do seu carro mas sobre o seu próprio corpo.