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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Brenda Hammond

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Sempre ao teu serviço, n.º 516 - fevereiro 2019

Título original: At Your Service, Jack

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-618-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezasseis

Capítulo Dezassete

Capítulo Dezoito

Capítulo Dezanove

Capítulo Vinte

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Capítulo Um

 

 

 

 

 

Com a mala pendurada na mão, Frederica Imogen Elliot subiu com cuidado as escadas cobertas de gelo que conduziam à porta de carvalho da entrada. Por muito na moda que estivessem, não tinha sido uma boa ideia pôr aquelas botas de crocodilo. Não, não era o calçado mais apropriado para caminhar pelas ruas de Toronto, escorregadias como estavam no mês de Março. Além disso, tinha começado a nevar e tinha-se levantado uma ventania. Pelo menos com o chapéu tinha acertado, já que o mesmo impedia que a neve lhe entrasse para os olhos.

Ao chegar à porta, a primeira coisa que viu foi um batente de bronze em forma de cabeça de um leão a morder uma argola. Freddi agarrou-o e bateu três vezes à porta, acabando por verificar, com frustração, ao olhar para a esquerda, que havia ali uma campainha. Iam pensar que era parva.

Contudo, ao fim de uns segundos a porta abriu-se e apareceu um homem com uma tatuagem e barba por fazer. «Meu Deus!», pensou Freddi com um ar desagradado, «onde é que me vim meter?». Era surpreendentemente alto, e aquela roupa… Tinha uma camisa de alças por donde assomava o seu peito peludo, umas calças de fato de treino… Que tipo tão desmazelado!

Aquele trabalho ia ser muito mais difícil do que tinha imaginado.

– Boa tarde – começou a dizer quando conseguiu recuperar a fala. – É o senhor Carlisle? Sou Freddi Elliot e…

– Desculpe – interrompeu-a com aspereza, – não a posso atender agora – e fechou-lhe a porta no nariz.

Que tipo tão grosseiro! Se não estivesse literalmente desesperada para conseguir um trabalho, teria dado meia volta e teria regressado ao Reino Unido. Decidida a não se deixar intimidar, carregou na campainha com força. A porta voltou a abrir-se. As escuras sobrancelhas do homem franziram-se ao vê-la de novo.

– Já disse que se fosse embora.

Vendo que ele ia voltar a fechar a porta, Freddi pôs uma mão na ombreira para o impedir.

– Espere um minuto! – exclamou. A sua voz soou quase como que um uivo. – Tinha uma reunião marcada consigo.

– Ah, sim? – inquiriu ele, perplexo, abrindo um pouco mais a porta. – Deve ter-se enganado – cruzou os braços sobre o largo tórax. – A mulher de quem estou à espera é alta e ruiva, especifiquei muito bem, e obviamente você não se ajusta a essa descrição – disse, olhando-a impertinentemente de cima a baixo. Olhou para o seu relógio de pulso e acrescentou. – E se fosse você a pessoa que a agência ia enviar-me, estaria a chegar uma hora antes do previsto.

– Como? Foi esta a hora que me disseram! – protestou Freddi. – E o que é que têm a ver a cor do meu cabelo e a minha altura?

– Porque é assim que as mulheres me agradam – disse ele, esboçando um sorriso provocador, – por isso, se não se importa de tirar a mão, vou fechar a porta.

Ela estava tão atónita que não conseguia fazer outra coisa senão gaguejar incrédula, mas mesmo assim obedeceu à ordem de um modo automático, e ele voltou a fechar a porta. Freddi ficou ali de pé a olhar para aquela barreira. Parecia que o destino se divertia colocando-lhe obstáculos no seu caminho; não lhe bastava estar sem um cêntimo, sem carro e sem casa. Não, não podia dar-se por vencida! Enchendo-se de coragem, tocou outra vez à campainha, e uns segundos depois reapareceu o homem mal-encarado para quem ela supunha que ia trabalhar.

– Qual é o seu problema, minha senhora? – perguntou, visivelmente irritado perante a sua insistência.

– O meu problema? – repetiu ela, exasperada. – Você é que tem um problema! Por acaso precisa que o seu mordomo seja uma ruiva platinada e que meça um metro e setenta?

Desta vez foi ele quem ficou a olhar para ela. Freddi fungou e conteve as lágrimas de raiva.

– Acho melhor voltar a entrar no táxi e regressar ao aeroporto – disse, girando sobre os tacões.

– Você disse «mordomo»?

O tom de estranheza na sua voz fê-la virar-se de novo para ele.

– Sim – respondeu. Tinha sido uma eficiente secretária durante anos, mas o seu salário era muito baixo e, para cúmulo, Simon, o seu ex-noivo, tinha-a deixado cheia de dívidas, por isso, quando a sua amiga Tabitha, irmã do seu ex-noivo, que tinha uma agência de serviço doméstico, lhe ofereceu aquele emprego, aceitara sem hesitar. Além disso, pelas circunstâncias em que tinha sido criada, conhecia bem as tarefas de um mordomo. – Sou Freddi Elliot, e a agência mandou-me para que seja o seu mordomo, mas se está decidido a nem sequer me entrevistar, o mínimo que poderia fazer era dar-me algum dinheiro para pagar ao taxista; duvido que ele aceite o meu Visa – e, ainda que o aceitasse, acrescentou para si, poderia meter-se em problemas, já que estava sem fundos.

Ele ficou calado muito tempo, e enquanto a neve se acumulava nos ombros do seu casaco, o ânimo de Freddi começou a vacilar de novo. Porquê insistir? Aquele tipo parecia demasiado obtuso, demasiado mal-educado para o suportar durante três meses. Não estava assim tão desesperada. Bom, sim estava, mas encontraria outra coisa. Deu meia volta, mas ainda nem tinha descido dois degraus e meio quando a voz do senhor Odioso a chamou:

– Espere!

Freddi tentou parar, mas a sola da sua bota resvalou sobre o degrau e de repente deu por si sentada com o traseiro no gelo. O homem foi até junto dela e ajudou-a a levantar-se. Freddi observou desgostosa que ele estava a conter um riso malicioso.

– Espere, acho que já percebi. Como é que disse que se chama?

– Freddi Elliot, o seu mordomo… Se é que você é Jack Carlisle, claro.

– Mas eu pensava que iam enviar um homem – replicou ele, confuso, sem a ouvir.

Ela alçou as sobrancelhas e dirigiu-lhe um olhar o mais desdenhoso possível.

– A isso chama-se «discriminação laboral» – advertiu-o, agarrando-se à sua última esperança. – Você não pode negar-me o lugar só porque sou mulher. Isso é contra a lei – tantas horas de voo para se encontrar com um estúpido machista…

Mas então, sem aviso prévio, ele agarrou-a pelo braço e levou-a de novo para a porta, dizendo:

– É melhor entrar cá para dentro para que resolvamos este assunto.

Nesse momento Freddi reparou que ele estava descalço. Como é que conseguia andar descalço e em camisa de alças com o frio que estava? Contudo, ao aceder ao interior da vivenda o mistério ficou resolvido. Ao contrário da mansão familiar onde tinha sido criada, tão grande que era difícil de aquecer, na casa do senhor Carlisle, uma casa de três andares, fazia muito calor.

Freddi seguiu-o até à sala, onde ele, mais do que sentar-se, se deixou cair num cadeirão, cruzou os pés sobre a mesita que tinha à sua frente, e ficou a olhar para o fogo que ardia na lareira. Dizer que ele não era educado era dizer pouco. Não só não lhe tinha sugerido que tirasse o chapéu e o casaco, como também não a tinha convidado a sentar.

Freddi sentou-se por sua conta no sofá de couro que havia do outro lado da mesita e ficou calada a olhar para o seu desmazelado, mal-educado e futuro patrão. Contudo, afundada no confortável assento, sentiu que o sono, o cansaço do voo e o calor do fogo começavam a fazer com que as pálpebras lhe pesassem incrivelmente.

 

 

Quando Jack Carlisle levantou por fim o olhar, apercebeu-se que a jovem tinha adormecido. Fungou e esfregou uma mão pelo rosto. Era o que lhe faltava! Linda situação! Aquilo não era em absoluto o que tinha esperado. Foi até ao bar e tirou uma garrafa de uísque e um copo. Serviu-se com generosidade e acrescentou uns cubos de gelos do frigorífico do bar. Levou o copo aos lábios e bebeu um gole, saboreando a bebida e deixando que a mesma deslizasse, queimando, pela sua garganta.

Era tudo culpa da sua prima Tabitha, a quem tinha telefonado há umas semanas atrás para lhe pedir capital.

– Para que é que o queres? – tinha-lhe perguntado ela.

– Descobri um novo método para ligar metais e acho que consigo desenvolver toda uma série de aplicações que…

– E o que é que aconteceu aos teus outros investidores?

– Ninguém quer arriscar agora que a economia está tão mal.

– Já experimentaste o tio Avery?

– Já… – tinha respondido ele com um suspiro. – O velho diz que tem as suas reservas. Estou à espera que ele me dê uma resposta definitiva.

O que não tinha acrescentado era que, segundo parecia, o seu primo Simon, irmão de Tabitha, tinha virado o tio Avery contra ele, queixando-se dos seus maus modos, da sua falta de educação e da sua incapacidade para assentar a cabeça.

Simon, por seu lado, era o braço direito do velho. Recentemente tinha sido nomeado gerente do departamento internacional de marketing da empresa da família, que fabricava máquinas e utensílios para a extracção de rochas e metais das minas. O tio Avery tinha-lhe dito que uma das suas condições para financiar o seu projecto era que encontrasse uma mulher proveniente de um ambiente adequado, e que se casasse com ela. Uma boa esposa era uma vantagem tremenda na vida, tinha-lhe dito ele.

Assim, Jack tinha que procurar alguém que o instruísse nas noções básicas de etiqueta, e que trouxesse uma certa distinção e organização à sua vida de solteiro. Se não o fizesse, podia dizer adeus ao dinheiro.

Fora então que Tabby lhe sugerira que contratasse um mordomo, uma pessoa que soubesse tudo sobre protocolo, alguém que pudesse aligeirar algumas pressões da sua vida agitada; alguém que, resumindo, o tornasse firme. E ela conhecia a pessoa perfeita para isso, tinha-lhe dito Tabby.

Jack tinha estado algum tempo a pensar na sua proposta e, finalmente, tinha decidido experimentar.

– Óptimo – respondeu-lhe a prima quando ele lhe comunicou a sua decisão. – Só há um pequeno inconveniente. A pessoa que…

– Tanto faz, Tabby – tinha-a interrompido ele, – manda-me um e-mail com as condições de emprego, o nome e a data e hora em que chegará.

– Mas, Jack, é que há algo que…

– Não, não é preciso dizeres mais nada. Estou decidido, de certeza que vai resultar muito bem. Se a pessoa que escolheste me pode ajudar, não se fala mais nisso.

– Está bem – tinha respondido ela, insegura. – Então mando-te o contrato por fax para que o assines.

Só então, com aquela jovem adormecida no seu sofá, é que Jack compreendeu o que tinha acontecido. Tabitha tinha escrito mal o nome no contrato; tinha posto Freddy, o diminutivo masculino de Frederic, e ele tinha logicamente pensado que se tratava de um homem. Um «pequeno» inconveniente!

Contudo, com ou sem «mordomo educador», fosse homem ou mulher, aquilo não resolvia a outra parte do problema, o pedido do seu tio Avery para que encontrasse uma esposa. Como se crescessem nas árvores! Jack trabalhava todo o dia para a Quaxel, a filial da empresa da família que o seu pai tinha fundado no Canadá, e à noite dedicava-se ao produto inovador que estava a desenhar, por isso não tinha uma grande vida social. Durante os seus anos de universidade tinha saído com várias raparigas, mas nada de sério. Depois tinha conhecido Clare e tinham estado juntos três anos, mas ela recebera uma oferta de um trabalho na costa oeste e tinha-se ido embora. Não tinha havido ressentimentos de nenhuma das partes. De forma implícita, sabiam que, apesar de se sentirem bem ao lado um do outro, não havia amor entre eles.

A irmã de Jack, ao inteirar-se da confusão em que ele se tinha metido com o tio Avery, já lhe tinha arranjado alguns encontros com conhecidas suas, mas cada um tinha sido pior do que o anterior. Finalmente, Jack tinha decidido procurar a ajuda dos «profissionais», e tinha entrado em contacto com a agência matrimonial mais selectiva da cidade na esperança de encontrar uma mulher que satisfizesse os requisitos do seu tio e, se fosse possível, também os seus.

Foi para junto do sofá de couro e ficou ali de pé, a olhar para a jovem adormecida. O ridículo chapéu que trazia tinha caído da sua cabeça e permanecia na alcatifa. O que é que ia fazer? A mulher do encontro que a agência lhe tinha preparado chegaria de um momento para o outro, e ali estava ele, com uma desconhecida adormecida no seu sofá.

Capítulo Dois

 

 

 

 

 

De repente a campainha soou.

– Óptimo! – resmungou Jack entre dentes, levantando-se. Contudo, ao abrir a porta, encontrou um homem com um par de malas.

– Desculpe. A menina que entrou há algum tempo disse-me que a esperasse – balbuciou, – mas já não posso continuar a… – o final da frase foi anulado pelas buzinas impacientes dos condutores que estavam parados na rua.

Jack compreendeu que era o taxista da jovem. Tinha-se esquecido dele. Perguntou quanto é que lhe devia e, tirando uma confusa carteira do bolso das calças, pagou, acrescentando uma gorjeta por causa do incómodo.

– Obrigado, senhor – disse o homem a sorrir. – Deixo-lhe ficar as malas da menina – e foi-se embora.

Jack agarrou nas duas malas, que pesavam como se levassem lá dentro tijolos, meteu-as em casa, deixando-as ficar no vestíbulo, e regressou à sala.

A jovem, no meio dos seus sonhos, tinha-se acomodado ainda mais no sofá, meio deitada sobre o braço deste, com uma mão metida por baixo da pálida face e uma madeixa de cabelo quase negro a cair-lhe sobre a testa. Jack nunca tinha visto um penteado tão pouco ortodoxo. Era como se lhe tivessem cortado o cabelo aos bocados. Muito moderno, sem dúvida, mas ele gostava das mulheres de cabelo longo e ruivo.

Afastando da sua mente aqueles pensamentos ridículos, concentrou-se no problema que o ocupava. A verdade era que, ainda que fosse uma mulher, também era um mordomo, e ele já tinha assinado o contrato e tinha-o enviado a Tabitha. A única opção possível era mostrar-se tão desagradável com ela que a fizesse querer demitir-se.

A campainha voltou a soar. Desta vez devia ser realmente a mulher para o seu encontro. Mas não podia recebê-la com aquela rapariga no sofá! Tinha que a levar para cima e depressa. Baixou-se e levantou-a nos braços, com dificuldade. Apesar da sua aparência frágil, pesava muito. Afinal de contas, talvez tivesse força suficiente para carregar uma bandeja carregada de copos, pensou divertido. De imediato a sua mente visualizou uma imagem daquela rapariga vestida com um daqueles sugestivos uniformes para senhora. «Chega, Jack», ordenou-se mentalmente. «Isto é o que acontece por estares há tanto tempo sem sair com uma mulher».

Quando estava a meio das escadas de caracol, a campainha voltou a soar. Jack deteve-se sem saber o que fazer. Não podia deixar a rapariga nas escadas; a mulher do seu encontro teria que esperar.

Jack acabou de subir as escadas e entrou com Freddi nos braços no quarto de hóspedes, decorado especialmente para o mordomo que esperava, em tons bege e castanho. A decoradora tinha-lhe dito que um mordomo britânico apreciaria dormir num quarto que imitava a cor do chá.

Pousou Freddi sobre a cama, mas esta não acordou, nem sequer quando lhe tirou aquelas ridículas botas de crocodilo. Parecia uma boneca de trapos. Depois resolveu tirar-lhe o casaco. Não podia deixar-lho vestido, molhado como estava pela neve. Agarrou numa manga e começou a puxar por ela. Virou-a de lado e levantou-lhe ligeiramente o tronco para facilitar a tarefa. Tinha visto a sua irmã fazer aquilo várias vezes com o seu bebé. Contudo, ao contrário da sua sobrinha, Freddi era uma mulher adulta, e bem desenvolvida, como conseguiu comprovar ao levantar-lhe as costas e vislumbrar a curva dos seus seios a poucos centímetros do seu queixo. Estava a começar a sentir-se tonto com o seu perfume quando a campainha soou uma vez mais.

Mais para evitar fazer uma estupidez do que por causa do encontro dessa noite, saiu rapidamente do quarto e desceu as escadas. Quando atravessava a sala, tropeçou no chapéu de Freddi e, amaldiçoando-o, apanhou-o e levantou-se, retomando a marcha, rogando para que a dama que o esperava não estivesse muito irritada. Contudo, quando por fim abriu a porta não viu nada excepto um remoinho de neve. Voltou a resmungar de frustração.

Espreitou a rua, olhando para cima e para baixo, mas a mulher com quem se ia encontrar devia ter-se ido embora há algum tempo. Fechou a porta e, depois de dar umas voltas ao chapéu com um ar pensativo, atirou-o para cima das malas de Freddi. Ligou para o restaurante para cancelar a reserva, e depois fez uma encomenda para a pizzaria mais próxima.

Uns minutos depois estava sentado na sala a engolir a sua pizza e a dar voltas na cabeça ao problema que tinha no andar de cima. Tinha que arranjar um modo de se desfazer daquela rapariga. Então lembrou-se da última vez que tinha estado em casa da sua irmã Louise, a tomar conta da sua sobrinha Kimmie. Tinha-lhe estado a ler um conto no qual o herói tinha que completar três tarefas. Isso mesmo!, pensou, arranjaria três tarefas tão difíceis para aquela rapariga fazer que ela perceberia a mensagem e desistiria de continuar ali. A única coisa que lhe faltava era descobrir que tarefas haviam de ser.

De repente chegou-lhe a inspiração. Já sabia qual seria a primeira, e no estado que estava a cozinha e o frigorífico, seria certamente difícil, muito difícil cumpri-la, pensou a sorrir com malícia. Subiu até ao seu escritório, escreveu isso numa folha de papel e foi ao quarto de hóspedes. Freddi continuava adormecida.

Jack olhou em seu redor, questionando-se onde é que poderia deixar o recado para que ela o visse ao acordar. Finalmente decidiu colocá-lo apoiado numa fotografia da Torre de Londres sobre a cómoda. A decoradora tinha insistido naquele detalhe absurdo, dizendo que isso faria com que o mordomo se sentisse como que em sua casa. Jack saiu do quarto em silêncio. Seria interessante ver como é que reagiria a jovem perante a sua insolente petição.

 

 

Freddi acordou a meio da noite e saiu da cama. No seu apartamento de Hampstead, a casa de banho era precisamente em frente ao quarto, por isso, meio adormecida como estava, sem se recordar nesse momento onde é que se encontrava, saiu do quarto na escuridão. Curiosamente, na casa de Jack a casa de banho era exactamente no mesmo sítio. Freddi entrou sem acender a luz, como costumava fazer no seu apartamento, e apercebeu-se que, estranhamente, ainda estava vestida, por isso despiu-se, atirando a roupa para o chão; depois de se aliviar, saiu de novo, tacteando na escuridão. A sua mão encontrou uma maçaneta. Que idiota! porque é que teria fechado a porta do quarto? Rodou a maçaneta, entrou e deslizou para dentro da cama.

Minutos depois, quando estava já a cair nos braços de Morfeu, teve a vaga sensação de que um quente corpo masculino se aninhava atrás das suas costas. Que sonho tão agradável! Freddi apertou-se contra aquele calor. Uma mão pesada deslizou à volta da sua cintura e subiu, fechando os dedos em torno do seu seio. Freddi gemeu suavemente, e reparou na pressão que certa parte do corpo masculino estava a fazer contra as suas nádegas.

Com languidez, a rapariga esticou as pernas e virou-se. Pareceu-lhe que o seu corpo estava em chamas, e depois sentiu como se se estivesse a fundir naquele maravilhoso calor. Levantou os braços e acariciou o tórax musculoso, apertando-se contra ele. O homem respondeu beijando-a e mordiscando-a no pescoço. Cada beijo provocava uma espécie de pequena descarga eléctrica por todo o seu corpo. Era incrível. Nunca tinha tido um sonho como aquele. Agarrou o queixo firme e devorou aquela boca com um beijo profundo e esfomeado. Meu Deus, como sabia bem! Os lábios eram suaves como a seda, e o interior da boca tinha uma textura diferente, mais saborosa, mais explosiva.

E o seu corpo… Era perfeito, era como Adónis personificado. Freddi queria mais, e aquele homem dos seus sonhos parecia disposto a cooperar. Quando o beijo terminou, a rapariga suspirou de puro prazer; e ouviu-o gemer. De imediato uma série de odores penetraram nas suas fossas nasais, pondo-a em alerta: fumo de lareira, uísque e um certo perfume que… Perfume de Carlisle! Freddi abriu os olhos nesse preciso instante e deixou de respirar. Estava na cama com o seu chefe!

Durante uns segundos, ficou ali, transtornada, sem saber o que fazer. Apesar de ainda o continuar a sentir contra as suas ancas, pareceu-lhe que o senhor Carlisle estava mais adormecido do que acordado. Ficou à escuta. Sim, pela respiração compassada parecia que estava adormecido. O que significava que era a sua oportunidade de sair dali.

Com muito cuidado, deslizou uma perna para fora da cama, e depois, com igual cuidado, a outra. Contudo, de repente um dos fortes braços dele agarrou-a pela cintura e puxou-a contra si num abraço ardente. Durante pelo menos três segundos Freddi foi incapaz de reagir, presa pelas sensações que a estavam a invadir, mas o seu cérebro insistiu em que devia bater em retirada. Deslizou para baixo com muito cuidado, até aos pés da cama, e deslizou para fora dela. Ignorando os murmúrios descontentes do senhor Carlisle, saiu rapidamente do quarto fechando a porta atrás de si e não parou até chegar ao outro quarto.

A tremer e confusa, fechou a porta do quarto de hóspedes e ficou apoiada contra ela, olhando para a escuridão. Tacteou com a mão pela parede até encontrar o interruptor e acendeu a luz. Passeou o olhar pelo quarto, cuja decoração parecia tirada de uma pirosa loja de recordações britânica.

Freddi foi na ponta dos pés até à cómoda ao ver um papel onde leu:

 

Menina Elliot: Espero o pequeno-almoço na cama amanhã às 7:00 horas.