cover.jpg
portadilla.jpg

 

 

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Kate Hewitt. Todos os direitos reservados.

UM MARIDO DESCONHECIDO, N.º 1452 - Abril 2013

Título original: The Husband She Never Knew

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2013.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2920-6

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Ammar Tannous estudou o salão de baile cheio de gente, do hotel parisiense, com uma frieza desapaixonada. Tinha os dentes cerrados. Em algum lugar, entre a multidão, esperava ver a sua esposa. «Embora «esperar» não seja a palavra mais adequada», pensou. Noelle não sabia que ele estava ali. Talvez nem sequer soubesse que estava vivo.

Semicerrou os olhos enquanto abria caminho entre as pessoas, consciente de que as conversas se interrompiam e eram seguidas de murmúrios de surpresa. Sabia que os jornais tinham publicado a história de como tinha escapado milagrosamente de um acidente de helicóptero, há dois meses, mas não aparecera a foto na capa. Nunca aparecia na capa. Esforçava-se por não dar nas vistas. Trabalhar para a Empresa Tannous exigia que protegesse zelosamente a sua privacidade. No entanto, algumas pessoas que estavam ali tinham-no reconhecido.

– Senhor Tannous... – um homem magro e nervoso aproximou-se dele.

Ammar apercebeu-se de que não só estava nervoso, como também muito assustado. Tentou recordar aquele rosto, mas fizera negócios com demasiadas pessoas para recordar todos os subordinados assustados que tinham sentido o poder da Empresa Tannous.

– Ia marcar uma reunião – murmurou o homem, abanando as mãos a modo de desculpa. – Quando vi a notícia...

A notícia de que estava vivo. Não era uma boa nova para muitas pessoas e Ammar sabia isso. Agora, lembrava-se daquele homem, embora não se lembrasse do nome dele. Tinha uma pequena fábrica de roupa nos subúrbios de Paris e o pai de Ammar tinha-se tornado o seu credor hipotecário. Tinha cancelado o crédito antes da sua morte, para tentar causar a bancarrota na empresa daquele homem e acabar com a concorrência que implicava para os interesses da Tannous.

– Não vim aqui por esse motivo – afirmou Ammar, com secura. – Se quer marcar uma reunião, telefone para o meu escritório.

– Sim... Claro.

Sem dizer mais nada, Ammar passou à frente dele. Podia ter tranquilizado o homem, dizendo que não ia cumprir o pedido do pai, mas as palavras ficaram presas na sua garganta. Em qualquer caso, não queria que começassem a circular rumores, nem que os seus sócios se preocupassem.

A única coisa que queria era Noelle.

O seu rosto e a lembrança do seu sorriso tinham-no ajudado a sobreviver. Quando estava cheio de fome e de sede, ferido e com febre, desejara-a. Embora não a visse há mais de uma década e a tivesse enviado para longe, poucos meses depois de se casarem, agora queria encontrá-la e recuperá-la.

Com uma expressão mais séria do que nunca, Ammar avançou entre as pessoas.

 

 

– Há alguém à tua procura e parece estar furioso.

Noelle Ducasse virou-se com um sorriso e o copo de champanhe na mão, ao ouvir a voz da amiga Amelie.

– A sério? Deverei ter medo?

– Talvez – Amelie bebeu um gole da bebida, enquanto olhava para as outras pessoas. – Mede mais de um metro e noventa, tem a cabeça quase completamente rapada e uma cicatriz horrível na cara. No conjunto, é bastante sensual, na verdade, mas também é um pouco aterrador – Amelie arqueou o sobrolho, sentindo curiosidade. – A descrição faz-te pensar em alguém?

– Na verdade, não – Noelle olhou com perplexidade para a amiga, sempre dada ao exagero. – Parece ser um ex-condenado.

– Talvez, mas o smoking que usa é dos mais caros.

– Interessante – embora, na verdade, não estranhasse. A vida social em Paris era sempre fantástica. – Os pés estão a matar-me – revelou, enquanto deixava o copo de champanhe na bandeja de um dos muitos empregados que passavam por ali. – Acho que vou para casa.

– Eu sabia que esses saltos iam magoar-te – afirmou Amelie, com júbilo.

Quisera usar aqueles saltos de treze centímetros, que tinham visto na passarela da Semana da Moda de Paris, no mês anterior. Arche, a loja sofisticada e exclusiva para a qual trabalhavam como assistentes de compras, teria a exclusividade naquele outono.

Noelle encolheu os ombros, com resignação.

– Faz parte do trabalho.

A Arche queria que as suas assistentes fossem a festas e eventos sociais em Paris, usando a roupa que vendiam. Ao fim de cinco anos, Noelle estava cansada de agir como um objeto bonito, mas sabia que tinha de ganhar a vida. Dentro de poucos meses, iria tornar-se a assistente sénior de vestuário feminino e já não teria de se concentrar unicamente em sapatos e acessórios.

– Não podes ir embora! – protestou Amelie, fazendo beicinho. – São onze horas da noite!

– E amanhã tenho de ir trabalhar. E tu também, na verdade.

– E o teu admirador furioso?

– Terá de me admirar ao longe – Noelle sentiu uma pontada de curiosidade. Cabeça rapada e uma cicatriz? Era pouco habitual, no meio daquela multidão de membros da alta sociedade.

Mas a única coisa que desejava naquele momento era deitar-se na cama, com uma bebida quente e um bom livro. O seu pretendente da cicatriz teria de viver com essa deceção.

Despediu-se de Amelie, que já se aproximara de um grupo de jovens com expectativas sociais. Sozinha, no meio de tanta gente, Noelle sentiu uma pontada aguda da solidão, que tentara não sentir durante os últimos dez anos, desde que o seu casamento acabara e reconstruíra a sua vida. Uma vida que escolhera, embora não se parecesse em nada com aquela que esperara ter. Gostava de Amelie e das outras amigas, embora não fossem almas gémeas, mas desistira da ideia há muito tempo.

Suspirou, afastou qualquer recriminação e a pontada irritante de solidão para o fundo da sua mente. Só queria ir para casa. Pelo menos assim, poderia tirar aqueles sapatos ridículos.

Demorou um quarto de hora a abrir caminho entre as pessoas. Teve de parar para sorrir ou para conversar com alguns convidados. Acabara de chegar ao vestíbulo vazio do hotel, quando ouviu alguém atrás dela.

– Quase não te reconheço...

Noelle ficou paralisada. Não tinha de se virar para saber quem era. Há dez anos que não ouvia aquela voz grave e sussurrante. Apercebeu-se, instintivamente, de que ainda falava com a cautela de um homem que escolhia cuidadosamente as palavras e não falava muito.

Virou-se lentamente e olhou para o ex-marido. A primeira visão que teve dele no vestíbulo, na penumbra, perturbou-a profundamente. Tinha cabelo muito curto, quase rapado, e uma cicatriz longa e bem visível que começava na testa e lhe atravessava a face direita até ao queixo. Soube então que ele era o admirador furioso de que Amelie lhe falara. Ammar. Deveria ter considerado aquela opção, supôs, mas a verdade era que nunca esperara que Ammar a procurasse. Nunca a procurara.

– Eu também quase não te reconheço – disse, tentando manter um tom frio, embora os joelhos tremessem ao vê-lo.

Parecia mais alto, mais forte e mais moreno do que antes, embora tivesse a certeza de que se tratava de uma ilusão de ótica. Esquecera o efeito que a sua presença causava nela, a autoridade que tinha, o modo como semicerrava os olhos e cerrava os dentes, tão diferente do homem que julgara conhecer, do homem por quem se apaixonara. Olhou para ele com toda a indiferença que pôde.

– O que queres, Ammar?

– Quero-te a ti.

O coração acelerou com força, ao ouvir aquela simples frase. Uma vez, perguntara-lhe o que queria, se a queria a ela. Na altura, a resposta fora um «não» devastador. Mesmo naquele momento, dez anos depois, a lembrança daquela humilhação dolorosa ainda a magoava.

– Que interessante... – replicou, com frieza.– Tendo em conta que não falamos há uma década.

– Tenho de falar contigo, Noelle.

Ela abanou a cabeça. Odiava o modo autoritário como ele falava. Ainda.

– Não temos nada para falar.

Ammar manteve o olhar fixo nela.

– Mas eu tenho uma coisa para te dizer.

Noelle sentiu uma pontada de emoção no peito e os seus olhos arderam. Ammar. Amara-o muito, há muito tempo. Odiava o facto de ainda sentir alguma coisa naquele momento. E o que queria dizer-lhe... Bom, não queria ouvir. Abrira-se para ele, no passado. Não voltaria a fazê-lo.

Ammar avançou um passo para ela e apercebeu-se de como estava abatido. Tinha uma estrutura poderosa e musculada, mas perdera muito peso.

– Soubeste do meu acidente? – perguntou ele.

– Sim. O meu pai contou-me e também me falou do teu resgate milagroso.

– Não pareces estar particularmente contente por saber que sobrevivi.

– Pelo contrário, Ammar, fiquei muito contente. Independentemente do que aconteceu entre nós, nunca te desejei mal nenhum – desejara recuperá-lo durante muito tempo, mas não ia sucumbir àquela tentação ridícula. – Lamento o que aconteceu ao teu pai – disse, muito tensa.

Ammar limitou-se a encolher os ombros. Ficou a olhar para ele e pensou como teria chegado ali, como estaria naquele momento. Conhecia os factos. Há dois meses, o pai telefonara para lhe dizer que Ammar tinha morrido num acidente de helicóptero, assim como o pai dele. Não queria que o descobrisse pela imprensa e, embora Noelle agradecesse, não soubera como reagir. Raiva? Dor? Tinham passado dez anos desde que anulara o seu casamento e mais ainda desde que o vira pela última vez. No entanto, a dor da relação falhada perseguira-a durante anos.

Sentia-se intumescida e, à medida que as semanas passavam, escondera esse redemoinho de sentimentos sob aquele intumescimento confortável. Apercebera-se de que o sentimento mais importante no meio de tudo aquilo era a sensação de perda, por causa daquilo que uma vez pensara que poderiam viver, juntos, a felicidade que lhe fora roubada com uma crueldade tão repentina.

Contudo, há algumas semanas, o pai voltara a telefonar e dissera-lhe que Ammar estava vivo. Uns pescadores tinham-no resgatado numa ilha deserta e ia regressar para gerir os negócios do pai, a Empresa Tannous. A tristeza a que Noelle começara a habituar-se transformara-se numa raiva profunda. Maldito Ammar! Maldito por lhe ter destroçado o coração, por a rejeitar há tantos anos e, sobretudo, por voltar agora, para despertar aqueles sentimentos dolorosos que pensava que tinham desaparecido.

Esqueceu tudo aquilo e olhou para ele com frieza.

– Como já disse, não temos nada para falar – levantou a cabeça e passou à frente dele.

Ammar agarrou-a pelo braço. Segurou-lhe o pulso e o calor dele queimou-lhe a pele. Noelle ficou tensa, consciente de que ele era demasiado forte para tentar soltar-se.

– Espera!

– Parece que não tenho outro remédio...

Ammar respirou fundo.

– Só quero falar...

– Então, podes começar, porque tens trinta segundos antes de eu fazer uma cena – olhou fixamente para os dedos finos e morenos que lhe seguravam o pulso. – É bom que não deixes marca.

Ammar soltou-a imediatamente.

– Demorarei mais de trinta segundos – afirmou. – E não faz parte dos meus planos ter uma conversa no vestíbulo de um hotel.

– E não entra nos meus ir a algum lado contigo.

Ammar não disse nada, limitou-se a observá-la com a cabeça inclinada e os olhos semicerrados.

– Estás zangada... – afirmou, finalmente, a modo de observação.

Noelle emitiu uma gargalhada breve e amarga. Na última vez que o vira, estava em roupa interior, aninhada na cama do seu quarto de hotel e a conter os soluços. Ammar dissera com frieza que tinha de se ir embora, mas embora aquela lembrança a fizesse tremer por dentro, afastou-a imediatamente. Acontecera há muito tempo. Não estava zangada ou, pelo menos, não deveria estar. O que tinha de fazer naquela noite, era agir com uma indiferença educada. Tratar Ammar como um mero conhecido e não como o homem que lhe partira o coração.

– Não estou zangada – mentiu. – Mas também não faz sentido ter uma conversa contigo.

– Não queres saber o que tenho para te dizer? – perguntou Ammar, num tom rouco.

Olhou para ele e viu como curvava a boca com amargura ou talvez com tristeza. Parecia diferente e não era apenas por causa da cicatriz ou da cabeça quase rapada. Era algo que emanava do seu ser, da dureza dos ombros e das olheiras profundas. Parecia ser um homem que suportara muito, que estava quase a perder as forças. Durante um instante, sentiu a antiga pontada de desejo sob a reação espontânea de raiva. Teve o impulso estranho e ao mesmo tempo dolorosamente familiar de o consolar, de o fazer sorrir, de o ouvir, entender...

Não. Ammar Tannous já apelara à sua curiosidade e à sua compaixão. Apaixonara-se por ele ou pelo que pensava conhecer dele e, então, fora-se embora, partindo-lhe o coração e devastando a sua vida. Demorara anos a reconstruí-la, a transformar-se na nova Noelle. Nem sabia se gostava de como era mas, pelo menos, era dona de si mesma. Era forte e não precisava de ninguém. E uns minutos de conversa não mudariam aquilo. Não o permitiria.

– Vai para o inferno, Ammar! – gritou, passando à frente dele e cambaleando sobre aqueles saltos ridículos antes de sair do hotel.

 

 

Ammar ficou a ver como Noelle se afastava, tão reta e tão rígida, e sentiu uma onda de fúria a percorrer-lhe o sangue. Como podia deixá-lo assim? Só lhe dera dois minutos do seu tempo, quando a única coisa que queria era falar.

«E dizer-lhe o quê?», troçou a sua mente. Nunca tivera jeito com as palavras e odiava falar de sentimentos. Porém, desde que tivera o acidente, soubera que precisava de reconquistar Noelle. Desde que recuperara a consciência, sozinho e ferido numa praia deserta, pensara nela. Recordara o seu sorriso brincalhão, o modo como inclinava a cabeça para um lado enquanto o ouvia, embora não falasse muito. Quando lutava contra a febre sonhara com ela, com a suavidade dos seus lábios, com a forma como lhe acariciava a cabeça. Até sonhara em penetrá-la e sentir o seu calor ao aceitar a união dos seus corpos. Sem dúvida, isso fazia parte do delírio, porque nunca conhecera o prazer de fazer amor com Noelle.

E, àquele ritmo, nunca conheceria.

Ammar praguejou em voz alta. Agora, sabia que lidara mal com o encontro. Não deveria tê-la encurralado, nem ter-lhe imposto nada, mas que outra coisa podia fazer? Era um homem autoritário, de ação. Não pensava nas palavras. A maioria das vezes nem sequer pedia nada.

Noelle fora sua mulher. Sem dúvida, isso ainda devia significar algo para ela, porque para ele significava. Como devia falar com ela? Como podia fazer com que o ouvisse?

«Tira o que queres. Nunca peças nada. Pedir é para os fracos. Tens de exigir.»

Ouviu a voz do pai, como se estivesse vivo e ao seu lado. Eram lições que aprendera desde criança, palavras que gravara no coração.

Ouviu o barulho dos pneus do táxi de Noelle a afastar-se e sentiu-se invadido pela tensão e também pela determinação. Dissera ao irmão, Khalis, que queria encontrar a sua mulher e reestruturar a Empresa Tannous. Queria, definitivamente, fazer algo bom com a sua vida e com o seu trabalho. Não permitiria que as coisas acabassem assim, com Noelle a afastar-se. Recuperaria o negócio, a mulher e a própria alma. Custasse o que custasse.

 

 

Assim que pisou a calçada, Noelle mandou parar um táxi. Entrou e sentiu que estava a tremer. Doía-lhe o tornozelo que torcera ao cambalear e tirou os sapatos, irritada, enquanto dava a sua morada de Ile St-Louis ao taxista.

Ammar. Nem conseguia acreditar que o vira. Que queria falar com ela. Porquê? Bom, era melhor não saber e não perguntar. Ela já não tinha nada para lhe dizer e isso era a única coisa que importava mas, no passado, tivera muito para lhe dizer.

Fechou os olhos e apoiou a cabeça no banco. Viu-se com treze anos, magra e com os dentes separados. Ele fora com o pai à casa de verão que a família de Noelle possuía nos subúrbios de Lyon, para falar de negócios com o pai dela. Era um adolescente de dezassete anos, magrinho e mal-encarado, que a ignorara por completo, mas ela decidira fazê-lo sorrir.

Demorara vinte longos minutos e tentara de tudo. Contar piadas, fazer caretas, deitar a língua de fora e até namoriscar. Ele permanecera impassível, sem falar, olhando para o rio Ródano, que corria longe dos jardins.

Num arrebatamento de raiva infantil, Noelle saíra dali a correr... E caíra. Quando conseguira levantar-se, com a cara corada, vira uma mão longa e viril estendida para a dela. Agarrara-a e os dedos tinham-se fechado sobre os dela, causando-lhe um arrepio que lhe subira pelo braço e se espalhara por todo o corpo. Fora um calor delicioso, que nunca sentira. Depois, levantara o olhar para o rosto de Ammar e vira que tinha os lábios curvados num sorriso, que se apagara imediatamente.

– Estás bem? – perguntara-lhe.

Noelle levantara-se, fazendo um esforço, e soltara-lhe a mão para tirar o pó dos joelhos. Sentia-se envergonhada.

– Estou lindamente – dissera, muito tensa.

Mas Ammar passara-lhe os dedos pelo joelho.

– Estás a sangrar.

Noelle tocara no joelho e algumas gotas de sangue caíam pela perna. Limpara-as com impaciência.

– Estou bem – assegurara outra vez, ainda envergonhada.

Seguira-se um silêncio incómodo durante alguns minutos e depois o pai de Ammar saíra da casa. Chamara o filho em árabe e Noelle vira como se despedia dela com uma inclinação de cabeça e se ia embora.

– Gosto que sorrias – dissera ela, no último momento.

Ammar virara-se, tinham-se entreolhado e Noelle pensara que era uma cumplicidade doce. E, naquele momento, pensara com repentina clareza: «Vou casar com ele quando crescer. E vou fazê-lo sorrir todos os dias.»

XVIII

Contudo, sentiu uma mão dura no ombro e que lhe punham algo escuro por cima da cabeça, que a impediu de ver e ouvir alguma coisa. Antes de conseguir pensar e gritar, puseram-na num carro que saiu dali a toda a velocidade.