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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Sara Craven

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Prisioneira do conde, n.º 1517 - Fevereiro 2014

Título original: Count Valieri’s Prisoner

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5010-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Reinava o silêncio na sala, iluminada apenas por um pequeno candeeiro. O único som que se ouvia era o sussurro ocasional do papel quando o homem sentado à secretária antiga passava as páginas da pasta que tinha à frente dele. Não tinha pressa. Franzia com suavidade as sobrancelhas pretas enquanto examinava cuidadosamente as páginas impressas e as ia deixando de lado.

O homem de cabelo grisalho que estava sentado em frente observava-o atentamente, pensando que já não havia rasto do rapaz que conhecera naquele homem moreno de rosto incisivo que se inclinava sobre os documentos que lhe levara poucas horas antes.

A leitura terminou por fim. O homem de cabelo escuro, o mais jovem, levantou o olhar e assentiu para dar a sua aprovação.

– Foi mais do que meticuloso, signor Massimo. Felicito-o. Uma vida inteira redigida para que eu possa inspecioná-la. Não tem preço – um sorriso rápido suavizou momentaneamente a sua boca dura e acrescentou brilho a uns olhos que eram quase cor de âmbar. Era um rosto orgulhoso, de nariz aquilino, maçãs do rosto salientes e queixo forte. Era demasiado austero, demasiado frio, para ser verdadeiramente bonito.

Guido Massimo ficou a olhá-lo enquanto ele pegava na fotografia, que era a única coisa que restava na pasta, e a estudava também. A rapariga que aparecia nela era loira. As madeixas claras do cabelo caíam-lhe como cortinas de seda quase até aos ombros. Tinha o rosto ovalado, de pele cremosa, e os olhos de um tom cinzento muito claro. O nariz era pequeno e reto, o queixo era firme, dominado por uns lábios delicadamente curvados que naquela fotografia esboçavam um ligeiro sorriso.

– Quando foi tirada esta fotografia? – perguntou o homem mais jovem.

– Há alguns meses, na altura do seu noivado – replicou Guido Massimo. – Apareceu numa revista que se publica no país onde ela cresceu. Che bella ragazza!

Aquele comentário foi recebido por uma expressão de indiferença.

– Os traços anglo-saxões carecem de atrativo para mim – disse o seu interlocutor, – o que, dadas as circunstâncias, deve ser muito bom. No entanto, sem dúvida, o seu fidanzato terá um ponto de vista muito diferente e pagará o preço requerido para que regresse sã e salva. Esperemos, claro está.

O signor Massimo assentiu cortesmente. Sabia muito bem que os gostos do seu anfitrião tendiam a mulheres elegantes e voluptuosas, mas também que não teria sido muito sensato da sua parte mostrar que conhecia esse detalhe.

O homem mais jovem voltou a deixar a fotografia na pasta e recostou-se na sua poltrona. Tinha o sobrolho franzido.

– O casamento vai celebrar-se dentro de dois meses, o que significa que não há tempo a perder. A resolução do assunto é urgente, o que é bom.

Com ar ausente, começou a brincar com o pesado selo de ouro que usava na mão direita.

– Fale-me mais da produtora de televisão para a qual ela trabalha. Disse que produzem programas para vários canais.

– E com bastante sucesso. Na atualidade, ela é uma realizadora com o objetivo de passar para o mundo da produção, mas parece que o casamento vai acabar com essas esperanças. Como mencionei no relatório, o seu fidanzato deixou muito claro que não deseja que a esposa trabalhe.

– E esse facto causou uma certa fricção entre eles, não?

– Assim parece.

– A ambição contra o amor... Pergunto-me o que escolherá ela quando lhe oferecer algo que a tente realmente... Gosta de apostar, signor Massimo?

– Só em raras ocasiões.

– E nesta situação, no que apostaria o seu dinheiro?

Guido encolheu os ombros.

– Uma mulher prestes a casar-se... Suponho que deseje agradar ao seu futuro marido.

– É inesperadamente romântico, mas dá-me a sensação de que se engana – respondeu, com um sorriso felino. – Sei que o isco a conduzirá até mim.

– Se puder ajudá-lo em mais alguma coisa... – começou Massimo, mas interrompeu-se ao ver que o seu interlocutor levantava a mão.

– Agradeço, mas penso que a partir de agora é melhor que se afaste do caso. O que acontecer deverá ser apenas da minha responsabilidade. Eu não gostaria que tivesse de responder a nenhuma pergunta incómoda. Portanto, quanto menos souber, melhor. Isso deixa-nos apenas pendente a questão dos seus honorários – acrescentou, enquanto abria uma gaveta e tirava um envelope volumoso que entregou a Massimo. – Pelas mesmas razões, acordámos que esta transação se realizasse em dinheiro. Como é óbvio, pode contá-lo.

– Nem me ocorreria fazê-lo.

– Como queira. Isso significa que apenas me resta agradecer-lhe mais uma vez e desejar-lhe uma boa noite. Vemo-nos amanhã ao pequeno-almoço.

Guido Massimo levantou-se, realizou uma ligeira inclinação de cabeça e dirigiu-se para a porta. Ao chegar lá, parou por um instante antes de dar meia volta.

– Devo perguntar-lhe mais uma coisa. Está... Decidido? Tem a certeza absoluta de que não há outra opção? Afinal, essa mulher é completamente inocente neste assunto. Merece que a tratem desse modo? Quero que entenda que se trata apenas de uma pergunta.

– Compreendo perfeitamente, mas não deve preocupar-se, meu amigo. Quando tiver o que quero, a sua bella ragazza regressará sã e salva ao futuro marido. Isso, é óbvio, se ele ainda a quiser – acrescentou, com ar sério. Então, levantou-se da poltrona e apoiou as mãos nas ancas estreitas. – Asseguro-lhe que não tem necessidade alguma de ter pena dela.

«Terei de qualquer forma», pensou Guido Massimo, enquanto abandonava o escritório. «E também terei piedade do rapaz que conheci um dia e recordá-lo-ei nas minhas orações.»

 

 

– Querida, peço-te que me digas que isto é uma brincadeira – disse Jeremy.

Madeleine Lang pousou o seu copo na mesa do bar e olhou para ele com genuína perplexidade.

– Brincadeira? Estou a falar do meu trabalho e faço-o totalmente a sério. Porque estaria a brincar?

– Bom, há a pequena questão de organizar um casamento com mais de duzentos convidados. Ou, por acaso, vais deixá-lo suspenso enquanto tu vais para Itália procurar gambozinos?

Madeleine mordeu o lábio.

– Com a tua madrasta à frente de tudo, não ficará nada suspenso. Duvido que note sequer a minha ausência.

Produziu-se uma pausa tensa. Depois, Jeremy estendeu a mão e agarrou a de Madeleine com expressão compungida.

– Querida, sei que Esme pode ser bastante autoritária...

– Jeremy, isso é dizer pouco e tu sabe-lo – replicou ela, com um suspiro. – Tudo o que eu quero e sugiro é desprezado. De facto, já nem sequer me parece que se trate do nosso casamento.

– Lamento, Maddie, mas é muito importante para a família e o meu pai quer que tudo corra na perfeição. Apesar de os tempos serem difíceis, a Sylvester e Companhia continua na crista da onda.

– Oxalá fosse só um assunto familiar... – murmurou Madeleine. – De onde saíram todos aqueles convidados? Eu nunca sequer ouvi falar de dois terços deles.

– Clientes do banco, sócios de negócios, velhos amigos do meu pai... No entanto, garanto-te que poderia ter sido muito pior. O que temos agora é a lista dos mais importantes.

– Pois, não me tranquiliza especialmente.

– Vá lá... Não é assim tão mau – comentou Jeremy, com um certo desconforto, – mas poderia ser se insistires nessa tolice de ir para Itália.

– É incrível o que acabas de dizer. Primeiro, era uma brincadeira. Agora, é uma tolice. Jeremy, estamos a falar do meu trabalho...

– Do que era o teu trabalho – replicou ele à defesa. – Muito em breve, já não será. Então, que sentido tem que vás a Itália procurar uma cantora da qual nunca ninguém ouviu falar?

– Isso não é verdade. É conhecida! – exclamou Madeleine. – Floria Bartrando foi a soprano mais maravilhosa da sua geração. Dizia-se que ia ser outra Maria Callas e, de repente, sem explicação alguma, desapareceu. É um mistério há trinta anos e, agora, eu tenho a oportunidade de o resolver.

– E porquê tu? – perguntou Jeremy, enquanto voltava a encher os seus copos. – Tu não és a única realizadora da equipa.

– Os nossos contactos italianos viram o programa sobre a última sinfonia de Hadley Cunningham. A que ninguém sabia que tinha composto, mas eu recolhi a maior parte da informação a esse respeito. Por isso, Todd escolheu-me para isto.

– Francamente, querida – disse Jeremy, franzindo o sobrolho, – quando disseste que tinhas uma coisa para me contar, assumi que tivesses entregado a tua demissão como tínhamos acordado.

– Disse que ia pensar nisso – replicou ela. – Já o fiz e decidi que não vou deixar um trabalho que adoro sem uma boa razão. No entanto, tirei várias semanas de férias para a nossa lua de mel.

Jeremy olhou para ela com incredulidade.

– E supõe-se que devo ficar-te agradecido por isso? – perguntou ele, com sarcasmo.

– Bom, sim – respondeu ela, alegremente. – Afinal, não penso que te apeteça ir para as Maldivas sozinho.

– Lamento, mas isto não me parece nada divertido.

– Nem a mim. De facto, estou a falar completamente a sério. Jeremy, por favor, peço-te que compreendas.

– O que tenho de compreender? Evidentemente, recolher material para um canal de televisão com pouca audiência significa mais para ti do que ser a minha esposa.

– Agora, sim, estás a dizer tolices – replicou Madeleine, acaloradamente. – Estamos no século XXI, pelo amor de Deus! A maioria das mulheres combina os seus casamentos com uma profissão, caso ainda não te tenhas dado conta.

– Bom, eu quero que consideres o nosso casamento a tua profissão – afirmou Jeremy, com seriedade. – Não penso que te dês conta de como vai ser ocupada a nossa vida social, nem de quantas festas teremos de organizar em nossa casa. E refiro-me a jantares a sério, não a preparar qualquer coisa à última hora.

– É como me consideras? Como uma incompetente sem cérebro?

– Não, querida, é óbvio que não – disse ele, com tom mais conciliador. – Só que não temos a certeza de que te dês conta de tudo o que terás de te ocupar ou de como isso poderá ser stressante para ti.

Maddie recostou-se e olhou fixamente para ele.

– Suponho que esse plural não seja o majestático, portanto, devo deduzir que andaste a falar disto com o teu pai.

– Naturalmente.

Madeleine mordeu o lábio.

– Jeremy, talvez o casamento já não seja uma coisa nossa, mas trata-se do nosso casamento e deves conseguir que ele o perceba. Não tenho intenção de te defraudar, nem de deixar de te proporcionar o apoio de que necessitas na tua carreira. A única coisa que peço é que faças o mesmo por mim. Parece-te assim tão difícil?

Produziu-se um longo silêncio. Então, Jeremy voltou a tomar a palavra.

– Se o dizes assim, suponho que não. Voltarei a falar com o meu pai, o que me recorda... – acrescentou. Olhou para o seu relógio e fez expressão de surpresa. – Tenho de me ir embora. Tenho de me reunir com algumas pessoas no The Ivy – explicou. Então, fez uma pequena pausa. – Tens a certeza de que não queres vir comigo? Não há problema algum.

Maddie levantou-se e sorriu enquanto indicava as suas calças de ganga justas e a t-shirt.

– Eu não estou vestida para jantar num restaurante tão elegante. Fica para a próxima, querido.

– O que vais fazer? – perguntou ele. Parecia ansioso.

Madeleine encolheu os ombros enquanto vestia um casaco aos quadrados azuis e brancos e agarrava na sua mala.

– Bom, vou ficar em casa. Vou lavar o cabelo, fazer a manicura...

Jeremy abraçou-a e deu-lhe um beijo.

– Não devíamos discutir – murmurou. – Podemos resolver as coisas. Tenho a certeza.

– Sim – replicou ela. – É óbvio que podemos.

No exterior do bar, Madeleine observou como Jeremy entrava num táxi. Depois de se despedir dele, pôs-se a andar lentamente para a rua onde ficava a produtora Athene.

Supunha que aquele confronto fosse inevitável, mas sabê-lo não fazia com que fosse mais fácil. De algum modo, tinha de convencer Jeremy de que poderia ter sucesso na sua dupla faceta de mulher casada e trabalhadora, apesar de o seu futuro sogro pensar justamente o contrário.

Conhecia os Sylvester de quase toda a vida. Beth Sylvester, uma antiga amiga do colégio da sua mãe, era a sua madrinha e em criança tinha passado parte dos verões em Fallowdene, a enorme casa de campo da família.

Para ela, fora idílico. Não obstante, desde o princípio que soubera instintivamente que, enquanto a sua madrinha era para ela a tia Beth, o marido continuava a ser o senhor Sylvester. Jamais se tinha convertido no tio Nigel. Fallowdene não era uma casa especialmente bonita, mas sempre fora um lugar de sonho para Maddie, em especial quando Jeremy, o filho único dos Sylvester e sete anos mais velho e mais maturo do que ela em todos os sentidos, estava lá para que o fizesse objeto da sua adoração.

No entanto, as lembranças mais indeléveis não eram de Jeremy, apesar de a atração que tinha sentido por ele ter durado quase até à adolescência. O que recordava mais claramente era o modo como a atmosfera da casa mudava subtilmente cada vez que Nigel Sylvester chegava a casa.

Era um homem de estatura média, que, de algum modo, dava a impressão de ser muito mais alto. Tinha o cabelo grisalho desde muito jovem, o que fazia um contraste perturbador com o negrume das suas sobrancelhas. Na realidade, não era só o seu aspeto que inquietava, mas o facto de nunca lhe passar nada ao lado, embora jamais o tivesse ouvido a levantar a voz para expressar o seu desacordo. Com frequência, Maddie pensara que teria sido melhor que ele gritasse de vez em quando. Havia algo na sua impassibilidade que a aterrorizava cada vez que Nigel se dirigia a ela e a fazia gaguejar. Na realidade, Maddie não costumava ter muito a dizer-lhe. Tinha percebido bastante depressa que Nigel simplesmente tolerava a presença dela em Fallowdene e, como consequência, tentava manter-se afastada dele.

Não lhe era muito difícil. Tinha como quarto o antigo quarto de brincar de Jeremy. Tinha uma estante repleta de livros infantis e juvenis. Ao princípio, quando era muito jovem, a tia Beth lia-lhe histórias antes de ir para a cama. Mais tarde, contentara-se em passar horas a ler sozinha.

No entanto, a sua infância feliz tinha chegado ao fim trágica e repentinamente numa noite terrível de inverno, quando uma estrada gelada e um condutor bêbado se tinham encontrado fatalmente para lhe arrebatar o seu pai e a sua mãe.

Ela estava com a tia Fee, a irmã mais nova da sua mãe, naquela noite. A sua tia tinha assumido imediatamente que se encarregaria dela, até que, durante o funeral, a tia Beth lhe tinha proposto adotar a afilhada.

Fee recusara a oferta e, juntamente com o seu marido, Patrick, tinham feito com que Maddie se sentisse amada e cómoda na sua companhia.

Apesar de tudo, as suas visitas a Fallowdene tinham continuado, mas, um dia, enquanto Maddie estava no seu primeiro ano na universidade, a tia Beth morrera repentinamente de ataque de coração enquanto dormia. Maddie assistira ao funeral na companhia dos seus pais adotivos e, ao dar os pêsames ao senhor Sylvester, compreendera que nunca mais seria bem-vinda a Fallowdene.

Por isso, aproximadamente uma semana mais tarde, ficara atónita ao receber uma carta de uma firma de advogados que lhe informava que a tia Beth lhe deixara dinheiro suficiente para financiar por completo os seus estudos universitários sem a necessidade de um empréstimo, além de lhe legar todos os livros que tinha no quarto. Isso significara muito mais para ela do que o dinheiro.

– Que amável da sua parte! – tinha exclamado Maddie. – A tia Beth sempre soube o que aqueles livros significavam para mim, mas não os quererá Jeremy?

– Parece que não – respondera a tia Fee. – Suponho que, se os recusasses, iriam para uma loja de segunda mão. Sem dúvida, a Nigel recordam-lhe demasiado a carreira maravilhosa que ele interrompeu.

– Carreira? – repetira Maddie. – Beth era escritora? Nunca mo disse.

– Não, não era escritora. Foi uma editora de muito sucesso na Penlaggan Press. A tua mãe disse-me que a Penlaggan fez tudo o que pôde para tentar que regressasse. Inclusive, ofereceram que trabalhasse de casa. Nunca o aceitou. Parece que as esposas dos Sylvester não trabalham.

– Mas se era tão boa no seu trabalho...

– Isso era certamente o problema.

Maddie jamais tinha esquecido aquele aspeto do casamento da sua tia Beth. Às portas do seu, adquiria uma dimensão renovada e bastante desagradável.

Além disso, ainda lhe doía recordar quando Nigel Sylvester, pouco mais de um ano depois da morte de Beth, anunciara o seu noivado com uma viúva chamada Esme Hammond e se casara com ela apenas um mês mais tarde.

Então, bastante inesperadamente, ela encontrara-se com Jeremy numa festa em Londres. Ele parecera muito contente ao vê-la e pedira-lhe o seu número de telefone. Dias depois, telefonara-lhe para a convidar para jantar. Depois, os acontecimentos tinham parecido precipitar-se.

Jeremy deixara de ser o rapaz distante e taciturno que tanto a tinha evitado quando ela era uma menina. Parecia ter herdado o encanto da mãe, mas, apesar dos anos passados na universidade e da sua estadia na Faculdade de Ciências Empresariais de Harvard antes de começar a trabalhar na Sylvester e Companhia, parecia estar sob o domínio absoluto do seu pai.

Surpreendentemente, Nigel não se opusera ao compromisso dos dois jovens. No entanto, se Maddie tinha assumido que Jeremy lhe pediria que se mudasse com ele para o apartamento da empresa, não demorara a descobrir que estava muito enganada.

– O meu pai diz que o necessita às vezes – dissera-lhe Jeremy. – Além disso, seria estranho e incómodo se tu estivesses lá e o meu pai acha que deveríamos esperar para viver juntos até que estejamos casados.

– E quem faz isso hoje em dia? – perguntara Maddie, espantada.

– Suponho que, nestas coisas, o meu pai seja muito tradicional.

Maddie estava convencida de que a palavra «hipócrita» definia melhor a atitude de Nigel. Teria apostado o salário de um ano em como Nigel e a glamorosa Esme já partilhavam a cama inclusive quando a tia Beth era viva.

– E o que acontecerá depois do casamento? Porque, então, viveremos lá. Ou, por acaso, o teu pai espera que eu me vá embora quando ele tiver planos de passar a noite no apartamento?

– Não, é óbvio que não. Disse-me que pensa reservar uma suíte num hotel. E, acredita, querida, poderia ser pior. Quando começou, a Sylvester e Companhia era a Sylvester, Felderstein e Marchetti. Poderias ter imensos sócios estrangeiros a passar pelo apartamento.

– Poderia ser divertido. E o que se passou com eles?

– Morreram sem herdeiros ou começaram novas empresas próprias. Pelo menos, foi o que me disse o meu pai.

Desde então, Nigel Sylvester tinha alcançado o sucesso e fizera parte dos comités de assessoria do governo em questões da banca e dos assuntos financeiros. Corria o rumor de que estaria entre os que fazia parte da lista de reconhecimentos que a própria rainha elaborava no Ano Novo.

Enquanto ia no elevador que a levaria ao seu escritório, Maddie perguntou-se se o seu futuro sogro esperaria que ela lhe chamasse milorde. Esme seria ainda mais insofrível quando fosse lady Sylvester.

«Logo penso nisso quando chegar a altura. Agora, vou concentrar-me no meu trabalho.» «Itália no mês de maio... Mal posso esperar!», pensou, com um suspiro de êxtase.