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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

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28001 Madrid

 

© 2006 Sara Craven

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Noiva do desejo, n.º 2270 - março 2017

Título original: Bride of Desire

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9588-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

Era sempre o mesmo sonho. Uma praia longa e deserta que se estendia até ao infinito, sem rochas nem nenhum outro lugar onde pudesse esconder-se.

De repente, atrás dela, o som poderoso dos cascos de um cavalo a persegui-la, um som que se aproximava cada vez mais, implacável…

Sem se atrever a olhar para trás, começava a correr apesar de saber que não havia escapatória, que o seu perseguidor não a deixaria em paz.

Acordou, ofegante, sentada na cama, com a boca seca e o coração acelerado no peito.

Então, ouviu o barulho de um trovão próximo e o barulho da chuva a bater nos vidros. Não havia nenhum cavalo a persegui-la. Apenas se tratava de uma tempestade na noite… a culminação inevitável da onda de calor que tinham sentido nos últimos dias.

Deixou-se cair novamente sobre as almofadas ao mesmo tempo que reprimia um soluço.

Era um pesadelo, mais nada, disse para si. Um pesadelo que algum dia acabaria por a libertar. Ele também a libertaria. E, finalmente, poderia desfrutar de um pouco de paz…

Capítulo 1

 

Allie parou por um instante no topo das escadas para olhar pela janela do patamar.

Não havia nada de novo para ver. Apenas os vastos jardins de Marchington Hall, que se estendiam em todo o seu esplendor até ao lago.

Em dias como aquele, em que o ar parecia brilhar depois da chuva, pensava que valia a pena ver-se obrigada a suportar todas as restrições e irritações da sua vida ali.

Pelo menos, valia a pena por Tom, pensou. «Tenho de acreditar nisso. Devo fazê-lo. Porque não há mais nada…».

Sentiu um nó na garganta e, ao virar-se e ver o seu reflexo na janela, parou novamente. Parecia um fantasma, pensou. Um fantasma pálido e loiro, carente de vida… e tenso como um cabo.

Em parte, devia-se ao pesadelo. Mas só em parte.

Porque o seu aspecto também tinha a ver com a batalha que estava a ter lugar devido à educação do seu filho de catorze meses que, apesar dos seus esforços, estava a transformar-se numa guerra de desgaste.

Acabara de ir ver o seu quarto para se certificar de que não se assustara com tempestade, mas tivera de enfrentar a habitual rejeição de Nanny, que olhara para ela com um ar de desaprovação por alterar a rotina de Tom.

– O menino está a tomar o pequeno-almoço, lady Marchington.

– Eu sei – respondeu Allie, enquanto contava até dez para se controlar. – Na verdade, e como disse muitas vezes, eu gostaria de ajudar a dar-lhe de comer.

– Preferimos que tenha poucas distracções à hora das refeições – respondeu Nanny, num tom autoritário.

«Se tivesses mais coragem do que um verme, enfrentá-la-ias», pensou Allie.

Mas atrás do porte poderoso de Nanny estava sempre a figura frágil de Grace, a sua sogra, a viúva lady Marchington, «a Temível Fera», como era irreverentemente conhecida na vila.

Qualquer confronto com Nanny levava a outro com Grace, algo que Allie tentava evitar a todo o custo.

Faria tudo para ter um pouco de tranquilidade, pensou enquanto saía do quarto. E não duvidara de que aquela era uma vida tranquila. Demasiado tranquila. Mas pensava que valia a pena pelo bem do seu filho. Tom era o herdeiro de Hugo, recordou-se com firmeza, de maneira que devia ter sabido o que o esperava.

Além disso, pelo menos levianamente, não havia dúvida de que ali o menino tinha tudo o que precisava para ter uma vida idílica.

«Mas eu gostaria de poder desfrutá-la com ele», pensou, irritada. «Sem ter de suportar o facto de Nanny olhar para mim como se fosse uma possível sequestradora e não a mãe dele. É o meu filho e, no entanto, deixam-me de fora. É uma situação ridícula».

A maioria das suas amigas eram jovens casadas que, para além de tratarem dos seus filhos, trabalhavam. Deviam pensar que, para além da tragédia de ter ficado viúva com vinte e um anos, tinha muita sorte.

Afinal de contas, tinha uma grande casa onde viver, empregados domésticos que se ocupavam dela e carecia de problemas de dinheiro.

Além disso, algumas delas pensavam que o final prematuro do seu casamento fora uma bênção, embora nunca o dissessem abertamente.

Respirou fundo antes de entrar na sala de jantar. Grace Marchington, que estava sentada à cabeceira da mesa, olhou significativamente para o seu relógio quando a viu entrar.

– Bom dia, Alice. Dormiste bem? – sem esperar resposta, pegou numa campainha que tinha junto de si na mesa e fê-la tocar energicamente. – Vou pedir à senhora Windon para te trazer umas torradas acabadas de fazer.

Allie sentou-se e serviu um café.

– Lamento ter-me atrasado, mas fui ver Tom antes de descer.

– Não acho que seja o momento mais adequado, querida, como suponho que Nanny terá mencionado.

– Fê-lo, certamente – confirmou Allie. – Talvez devesse sugerir-me quando é o momento mais adequado para visitar o meu próprio filho, porque pareço fazê-lo sempre num momento inoportuno.

– Não sei se compreendo, Alice.

Allie respirou fundo.

– Eu gostaria de ver Tom bem cedo de manhã sem ser visto como um pedido irrazoável. Na verdade, eu gostaria de estar no seu quarto quando acordasse para poder dar-lhe banho, vesti-lo e dar-lhe o pequeno-almoço. Não acho que seja pedir demasiado.

– Estás a sugerir que Nanny não é capaz de tratar das necessidades de Tom? Preciso de te recordar que ela tratou de Hugo desde que nasceu?

– Eu sei – respondeu Allie, cansada. Na verdade, nunca a deixavam esquecê-lo.

– E suponho que não terás esquecido que, depois do nascimento de Tom, houve uma época em que a presença de Nanny foi indispensável.

– Sim. Sofri uma depressão pós-parto. Mas superei-a.

– Tens a certeza, querida? Às vezes, duvido – a sua sogra olhou para ela com tristeza. – Mas é lógico que ainda sentes a falta do nosso querido rapaz e isso pode explicar as mudanças de humor que ainda detecto às vezes. Tenho a certeza de que o doutor Lennard podia recomendar-te algum especialista…

– Achas mesmo que preciso de um psiquiatra porque quero ver o meu filho? – perguntou Allie, tensa.

Lady Marchington pareceu quase escandalizada.

– Há níveis diferentes de terapia, Allie. E era só uma sugestão.

Para indicar que o assunto estava encerrado, a sogra de Allie olhou para o monte de correio que, como todas as manhãs, empilhara ao seu lado. Allie reprimiu uma exclamação ao distinguir um envelope azul com um selo francês.

Uma carta de tia Madelon, pensou ao mesmo tempo que sentia pele de galinha. Será que aquele fora o motivo do seu pesadelo nocturno e não a tempestade como pensara?

Mas sabia que teria sido inútil pedir a carta. As coisas não funcionavam assim naquela casa. Todo o correio passava primeiro pelas mãos de Grace, que o examinava atentamente antes de o distribuir. E se soubesse que alguém estava à espera de alguma carta com especial interesse, era capaz de ficar com ela durante vinte e quatro horas antes de a entregar.

– É uma loucura – dissera Allie a Hugo, acaloradamente. – A tua mãe é uma obcecada pelo controlo. Porque não dizes alguma coisa?

Mas o seu marido limitara-se a olhar para ela com uma expressão surpreendida.

– A minha mãe sempre tratou do correio. O meu pai preferia assim e não me parece que seja um problema.

Mas Hugo considerava que muito poucas coisas eram um problema, para além da necessidade de ter um herdeiro para a sua querida fazenda. Finalmente, aquela fora a força que o empurrara e fora a obsessão da sua vida frustrada. Das suas vidas frustradas, se incluísse a dela, pensou Allie com amargura. Mas a amargura era inútil e só magoava. A tristeza e o arrependimento também não serviam para nada.

Mas será que continuava a sentir dor devido à morte do seu marido, como a sua sogra sugerira? Duvidava muito. A sua morte repentina fora um choque, certamente, mas suspeitava que a sua reacção se devia fundamentalmente à culpa, porque na verdade nunca o amara.

Conseguira recuperar a pouco e pouco e tinha de seguir em frente de algum modo. Não podia continuar a permitir que Grace a tratasse como se fosse um zero à esquerda.

Mas não sabia como agir, porque a sua sogra tinha as melhores cartas.

Nas semanas trágicas que se seguiram à morte repentina de Hugo e depois do nascimento de Tom, Allie vira-se perdida numa espécie de limbo sombrio.

Foi então que Grace Marchington recuperou sem esforço o papel de senhora da casa. Allie compreendeu que ela fora apenas a usurpadora temporária que dera a Hugo o filho que este desejava. E devia permanecer à sombra enquanto Grace e Nanny se ocupavam de transformar Tom num verdadeiro protótipo do homem Marchington.

Mas isso não ia acontecer, porque ela não estava disposta a permiti-lo.

Mas devia conservar as suas forças para as batalhas importantes e o assunto das cartas era apenas uma irritação menor, de maneira que, enquanto comia a torrada que a senhora Windon trouxera, se dedicou a observar o retrato de Hugo que Grace encomendara quando este fizera vinte e cinco anos, dois anos antes do acidente que lhe custara a vida.

Mas, enquanto o observava, outra imagem surgiu na sua mente, outro rosto mais magro, de tez mais escura, com uns olhos azuis e frios como o mar. Enquanto sentia que o seu coração acelerava no peito, uma voz sussurrou na sua mente o nome que tanto se esforçara para esquecer… Remy.

– Esta carta parece ser tua, Alice.

Allie tentou esconder o seu espanto enquanto Grace entregava o envelope azul.

– Suponho que é da tua tia francesa – acrescentou Grace. – Espero que não sejam más notícias.

– Eu também espero – replicou Alice, que decidiu ignorar a sugestão de que a abrisse imediatamente para divulgar as notícias que continha. – Mas pelo menos está viva.

A sua sogra estava prestes a dizer algo quando uma aia apareceu à porta da sala de jantar.

– Desculpe, senhora, mas a senhora Farlow está ao telefone. Aparentemente, há algum problema com as contas do Clube de Jardinagem.

– Vou já – afirmou Grace, num tom mal-humorado.

Assim que ficou a sós, Allie saiu para o terraço para se encaminhar para o Pátio da Fonte, um dos seus lugares favoritos nos jardins da mansão. Depois de se sentar num banco junto da fonte exuberante, obra de um arquitecto italiano, abriu o envelope para ler a carta da sua tia Madelon.

Não eram boas notícias. A escrita era hesitante e difícil de decifrar, mas estava claro que a sua tia não estava bem.

 

Parece que este será o meu último Verão em Les Sables d’Ignac. Mas tive uma boa vida aqui e a única coisa que lamento é que tenha passado tanto tempo desde a última vez que estivemos juntas. Fazes-me lembrar a minha querida irmã e ficaria muito feliz se pudesse voltar a ver-te, querida menina. Espero com todo o meu coração que possas reservar um pouco de tempo da tua vida ocupada para me visitar. Vem ver-me, por favor, Alys, e traz o teu filho contigo. Estou desejosa de ver o último descendente dos Vaillac.

 

Allie sentiu um aperto no coração depois de ler aquilo. Há quase dois anos que não via a sua tia, mas sempre lhe parecera forte, apesar de já rondar os oitenta.

Recordou a última vez que estiveram juntas e a ansiedade e o amor com que a sua tia olhara para ela.

– Não voltes, ma chérie – pediu-lhe. – Lá não há nada para ti. Fica comigo…

Emocionalmente destruída e confusa, Allie só foi capaz de responder que não podia.

Depois de respirar fundo para se acalmar, continuou a ler.

 

Juro-te que não há razão para te manteres afastada, Alys, e não deves recear a visita.

 

Noutras palavras, estava a oferecer-lhe a segurança, a garantia essencial que pensava que Allie quereria. Estava a dizer-lhe que Remy de Brizat não estaria lá, que ainda estava a trabalhar no estrangeiro com a sua organização de beneficência médica.

Mas as coisas não eram assim tão simples. Aquilo não bastava. Era possível que Remy não estivesse lá, mas Allie sabia que as suas lembranças e os seus sentidos o encontrariam em todas as partes, que ouviria a sua gargalhada no vento e a sua voz, no murmúrio do mar…

E reviveria a amargura da sua separação na fúria de uma tempestade, como acontecera na noite anterior.

Fechou os olhos para deixar de ver a carta, para não pensar no pedido da sua tia. Depois, levantou-se e guardou a carta no bolso da sua saia enquanto começava a caminhar com intenção de parar de pensar naquilo.

Em vez disso, tentou pensar nas irmãs Vaillac, Celine e Madelon. Durante a Segunda Guerra Mundial, a família delas acolhera o seu avô, Guy Colville, um piloto que se vira obrigado a lançar-se de pára-quedas quando regressava a casa.

Na queda, partiu a perna e os Vaillac esconderam-no e arriscaram as suas vidas para o proteger até ele poder voltar para a Inglaterra num barco de pesca.

Pensou em como era romântico que Guy não tivesse esquecido a bonita e sorridente Celine. Assim que a guerra acabou, voltou para a quinta dos Vaillac com o seu irmão Rupert para se certificar de que estavam bem e descobriu que Celine partilhava os seus sentimentos.

Aquela visita foi seguida de outras. Depois de uma delas, o seu irmão Rupert confessou-lhe que se apaixonara por Madelon, a irmã de Celine, e sugeriu que celebrassem um casamento duplo.

Era um verdadeiro conto de fadas, pensou Allie com nostalgia, embora o final feliz tivesse durado muito pouco… pelo menos para os seus avós. Celine, uma jovem esbelta como um lírio e tão delicada como essa flor, morreu durante o parto do seu primeiro filho.

Destruído, Guy teve de aprender a tratar do seu filho. Naturalmente, Rupert e Madelon foram um apoio muito importante na sua vida naquele momento, apesar de também estarem destruídos. Ironicamente, eles nunca tiveram filhos e usaram todo o seu afecto para criarem o seu sobrinho, Paul Colville, com quem sempre mantiveram uns laços poderosos de afecto.

De maneira que a tia Madelon fora alguém importante na vida de Allie desde que nascera. Só quando o seu marido e Guy morreram é que decidiu regressar à Bretanha. Allie e o seu pai Paul foram visitá-la várias vezes, mas a mãe de Allie nunca os acompanhara com a desculpa de que enjoava nos barcos.

Olhando para trás, Allie sempre suspeitara que a sua mãe, Fay Colville, desde o começo sentira ciúmes do afecto que o seu marido sentia pela sua tia francesa. Também não gostara que Allie fosse baptizada como Alys, em vez de ser baptizada com o nome anglicizado «Alice», que ela usava sempre.

Mesmo quando ficou viúva, Fay recusava-se a visitar Madelon Colville e protestou energicamente quando Allie lhe disse que tencionava ir visitá-la sozinha.

– Estás louca? – perguntou a sua mãe. – O que pensará Hugo?

– E o que importa?

– Não digas tolices, Alice! Não sabes como manter o interesse de um homem.

– Talvez porque suspeite que é apenas interesse passageiro.

– Tolices! Afinal de contas, levou-te a casa dele e apresentou-te à mãe, o que significa que ela deve aprovar a escolha do seu filho.

– E se eu decidir não o escolher?

– Isso não tem graça! – protestou Fay.

Mas Allie não estava a brincar.

A sua atitude por Hugo Marchington sempre fora indiferente. Ao princípio, pensara estar apaixonada, porém, conforme foi passando o tempo começou a duvidar sobre a resposta que lhe daria se ele a pedisse em casamento.

Certamente, Hugo podia ser maravilhoso quando queria… algo que não acontecia sempre. Além disso e apesar de toda a atenção que lhe prestava, não estava convencida dos seus sentimentos. Provavelmente, estava a comportar-se assim, pois esperava o herdeiro dos Marchington.

Ao princípio da sua relação, Hugo fez algumas tentativas de a seduzir, tentativas que Allie rejeitou com firmeza. Hugo não a repelia, mas também não a atraía especialmente. Os seus beijos nunca a fizeram desejar mais. Mas tinha consciência de que talvez se devesse à sua própria reserva emocional, algo que sabia que lhe conferia uma aura de frieza que podia ser um desafio para alguns homens.

Dada a sua atitude pouco entusiasta, surpreendeu-se quando, em vez de a rejeitar, Hugo continuou a insistir em vê-la.

Provavelmente, a sua mãe estava empenhada em fazer com que ele assentasse e decidira que ela estava à mão e era razoavelmente apresentável… mas não tanto para eclipsar o seu filho.

Apesar de tudo, enquanto trabalhava como assistente numa biblioteca privada, não parou de procurar rotineiramente possíveis trabalhos que a afastassem de Londres.

«Talvez devesse ter seguido os meus instintos e devesse ter ido», pensou. Mas se o tivesse feito, Tom não existiria e a ideia de o seu filho não ter nascido era insuportável.

Parou de caminhar e olhou em seu redor para observar mais uma vez a beleza dos jardins da mansão.

«Eu adoro este lugar», pensou. «Mas não é o meu lugar. Nunca foi. Hall não é o meu lar, mas tem de ser o de Tom. Algo bom tem de sair de tanta infelicidade. Mas devo encontrar algo para fazer com a minha própria vida. Estou sempre irritada e sinto-me confinada neste lugar. Não cumpro nenhum papel na casa e aborreço-me, o que não é saudável. E não vou pensar em como teria sido a minha vida se tivesse feito o que a tia Madelon me pediu e tivesse ficado na Bretanha, porque foi apenas um sonho. E um sonho perigoso».

Porque, mais uma vez, conseguiu ouvir um som familiar a ecoar na sua cabeça, o passo firme dos cascos de um cavalo atrás dela, tal como o ouvira tantas vezes ao longo dos meses passados, adormecida e acordada. Seguindo-a… aproximando-se cada vez mais.

– É só a minha imaginação – declarou num tom de voz alto, para afastar a sensação. – A minha imaginação… e o meu sentimento de culpa.

Voltou lentamente para o seu banco de pedra, embora a única coisa que queria fazer fosse tapar os ouvidos e fugir.

«Mas isso já fiz», pensou, angustiada. «E agora tenho de viver com as consequências».

«E se isso implicar enfrentar as minhas lembranças e exorcizá-las, que assim seja».